Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Elisabete Vilar

GUERRA & MÍDIA

“Bush Quer 30 Milhões para Fazer TV Árabe”, copyright Público (www.publico.pt), 7/02/03

“A administração Bush pediu esta semana ao Congresso dos Estados Unidos 30 milhões de dólares (sensivelmente a mesma quantia em euros), a inscrever no ano fiscal de 2004, para financiamento de uma estação de televisão em árabe destinada a transmitir, por satélite, propaganda do governo norte-americano para o Médio Oriente.

A TV, chamada Middle East Television Network, poderá ?atingir vastas audiências? naquela região do globo, segundo documentos orçamentais divulgados pelo Departamento de Estado e citados pela agência Reuters. O projecto, dizem os documentos, tornar-se-ia assim parte da estratégia diplomática daquele departamento destinada a ?envolver, informar e influenciar públicos estrangeiros?. Com esta contra-ofensiva mediática, os Estados Unidos esperam também reduzir a influência da Al-Jazira, a CNN do mundo árabe.

A Al-Jazira (nome que significa ?a ilha?), fundada em 1996 no Qatar, tem uma audiência estimada em 55 milhões de telespectadores, alcançados através de satélite. Esta estação pretende fazer o inverso do que está nos planos dos EUA: lançar programas em inglês antes que tenha início uma guerra contra o Iraque.

A estação de TV – que deverá ficar sob a alçada do Broadcasting Board of Governors (BBG), uma agência federal encarregada das emissões radiotelevisivas para o estrangeiro – poderá também ajudar a ultrapassar os ?problemas? que Washington tem encontrado para persuadir os governos árabes a emitirem anúncios nas suas televisões públicas. E funcionará complementarmente com a Radio Sawa, igualmente financiada por Washington, que começou a emitir após os ataques aos Estados Unidos em Setembro de 2001, oferecendo aos ouvintes daquela região uma mistura de música norte-americana e árabe, intercalada com noticiários apresentados na perspectiva dos Estados Unidos.

O orçamento para o ano fiscal de 2004, que se inicia em Outubro deste ano, inclui um total de 303 milhões de euros para a diplomacia pública, pouco mais do que os 297 milhões atribuídos em 2003.

Na sua explicação para o pedido de financiamento ao Congresso, o Departamento de Estado diz que, após os ataques de 2001, se deu conta de que ?o governo dos Estados Unidos e o seu povo ficaram isolados de um largo grupo de pessoas que têm um entendimento diferente quanto às crenças, valores, políticas e comportamentos? norte-americanos. ?Este fosso cultural provou ser bastante perigoso e cria um ambiente negativo para o trabalho do Departamento de Estado numa variedade de frentes relacionadas com a política de segurança nacional?, prossegue o organismo, citando até um inquérito, de 2002, que concluía que a maior parte do mundo muçulmano considerava que os norte-americanos têm ?um estilo de vida decadente, indisciplinado e sem religião?.

Para Stephen Hess, especialista de ?media? na Brooking Institution, citado pela AFP, ?os Estados Unidos estão convencidos de que esta iniciativa contribuirá para fazer passar a mensagem para esses países, como foi o caso da ?Voz da América?, quando difundia programas do outro lado da cortina de ferro?.

Todavia, lembrou um outro perito da área, Laird Anderson, se a nova TV adoptar um espírito demasiado paternalista, ?do tipo: ?Olhem para nós! Vejam como fazemos!?, enfim, se não passar de uma máquina de propaganda, estará condenada ao fracasso?.”

“Guerra acontece na formação da opinião”, copyright Folha de S. Paulo, 5/02/03

“Os Estados Unidos prometeram para hoje, na reunião do Conselho de Segurança da ONU, revelações bombásticas que justificariam o dificilmente justificável: o ataque ao Iraque. A ofensiva bélica ocorre também no plano da formação de opinião.

Comparando a cobertura internacional de canais como CNN, BBC, DW, é possível acessar a guerra de imagens, dimensão estratégica e intrínseca da política.

Públicos ou privados, os canais estrangeiros assumem uma coloração nacional, expressam um ponto de vista dominante em seus países e com isso contribuem para a configuração do mosaico de posições, que vai se alinhando em direção à guerra.

Nem a explosão da nave espacial Columbia foi capaz de desviar os Estados Unidos da rota de colisão com o Iraque. As imagens dramáticas da desintegração do aparelho tripulado por cientistas americanos e estrangeiros, em missão pacífica de pesquisa, competiram por alguns dias com as imagens eletrônicas de simulação do ataque ao Iraque.

Mas a agenda continua em pé. Como que transformada em braço armado do governo de seu país no front das batalhas simbólicas, a CNN ajuda a construir a escalada de acusações e hostilidades, um clima de suspense melodramático em que Hollywood é mestre, e que, salvo algum percalço imprevisto no roteiro do governo americano, deveria culminar na vitória junto aos poços de petróleo do lado de lá do planeta.

A BBC é ligeiramente mais plural que a CNN. Aqui há espaço para um jornalista alemão declarar, por exemplo, que o povo americano precisa tomar consciência de o quanto o seu país é detestado no mundo.

Mas o apoio, ao que parece, incondicional, do governo inglês aos Estados Unidos, compromete a isenção da cobertura da tradicional emissora pública.

A brasileira Band News afirma que o presidente Bush estaria planejando reforçar a linha de frente de formação de opinião, criando um canal estatal de televisão especialmente dedicado a emitir notícias para o mundo árabe. Na ainda limitada arena audiovisual global, o espaço para opiniões contrárias à guerra é pequeno.

A Alemanha, que protagonizou os conflitos armados no século 20, hoje aparece em posição invertida. O governo de Schröder, enfraquecido pela derrota sofrida nas eleições regionais, capitaneia a resistência ocidental ao conflito. A posição destoante de seu país se expressa no jornalismo da DW, canal alemão que transmite em inglês em alguns horários, como 8h e 22h.

No campo da luta pelo controle das representações falta uma rede internacional, independente, poliglota, que levante as consequências de uma possível guerra para a economia e a política dos diversos países, que dê mais atenção às manifestações de cidadãos e organizações não-governamentais, que dispute a formação da opinião pública -inclusive e talvez principalmente, a norte-americana. De qualquer maneira, em tempos de equilíbrio internacional precário, vale atentar para a parca diversidade oferecida pelo noticiário estrangeiro, assunto que poderia enriquecer a pauta das nossas emissoras. (Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP)”

 

MULTIMÍDIA

“Anatel libera mais de uma autorização por dia de serviço multimídia”, copyright Boletim de Divulgação do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – n? 15 – 4/2/03


“Assim que iniciar o processo de formulação de políticas públicas de comunicação, o governo federal terá que decidir como incidir sobre uma polêmica que vem ganhando peso a cada dia que passa. De 1? de janeiro até hoje, o Diário Oficial da União já publicou 37 autorizações de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) para empresas dos mais diferentes perfis. A lista de liberações diárias inclui operadoras de telefonia celular como a Tess, de TV paga como a Ibituruna e grupos de mídia como o Grupo Editorial Sinos. Tecnicamente, o conceito de SCM envolve o ?conjunto de serviços fixos de telecomunicações de interesse coletivo, prestado em âmbito nacional e internacional, em regime privado, que possibilita a oferta de capacidade de transmissão, emissão e recepção de informações multimídia, utilizando quaisquer meios a assinantes dentro de uma mesma área de prestação?. Na prática, radiodifusores e produtores de conteúdo audiovisual temem que o serviço torne-se um corrente desleal inserido de forma privilegiada no mercado de distribuição de sons e imagens.

Estando o apto a realizar transmissão de TV Executiva, videoconferências, transporte de sinais de empresas produtoras ou distribuidoras de programação e entre empresas de radiodifusão, o autorizado do SCM é, na verdade, uma emissora de rádio e TV que só não opera de forma continuada. As brechas deixadas pelo modelo de termo de autorização publicado no Diário Oficial da União de ontem podem acabar viabilizando a oferta de serviços que até então eram exclusivos das empresas de TV aberta e por assinatura. O texto aprovado em 22 de janeiro proíbe, por exemplo, a distribuição dos sinais de forma simultânea para assinantes como ocorre com os serviços de TV a cabo, MMDS e DTH. No caso da radiodifusão, ?o sinal não deve ser recebido direta e livremente pelo público em geral?. Ao mesmo tempo, o texto do termo de autorização permite o fornecimento de sinais de vídeo, áudio, de forma permanente e por meio de contrato específico ou pagamento por evento. O serviço de notícias ?Pay-TV? questionou se este último atributo não contemplaria a oferta de serviços de video-on-demand (VoD), tecnologia que permite o envio de pacotes de conteúdo audiovisual – um filme ou um show – para um assinante através das redes de telecomunicações. Não há nenhuma restrição para a venda de VoD no texto aprovado.

Disputa por banda

Com a autorização na mão, várias empresas querem agora reservar espaço para operar em freqüência de banda larga os serviços de SCM. Hoje, a comissão especial de licitação da Anatel recebeu a documentação de identificação e as propostas financeiras relativas aos blocos de freqüência colocados em licitação das faixas de 3,5 GHz e 10,5 GHz. Apresentaram propostas sete empresas: Embratel, Vant Telecomunicações (da Brasil Telecom), DirectNet, Grupo Editorial Sinos, Inforware, Universal Comunicações e WKVE. A Anatel não divulgou as áreas pretendidas pelas licitantes. Nesta primeira etapa, informa o site da agência, será feita a análise da documentação de identificação dos proponentes. No dia 11, a comissão deverá fazer a análise das propostas financeiras para a faixa de 3,5 GHz. No dia 25, será a vez das propostas financeiras para 10,5 GHz. Desde que foi instalado, o Conselho de Comunicação Social vem solicitando ao presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Luiz Guilherme Schymura, esclarecimentos sobre a regulamentação do SCM e a suspensão das autorizações até que seja dirimida a dúvida se existe ameaça ao setor de radiodifusão e cabodifusão na distribuição de conteúdo. Até o recesso dos trabalhos do Conselho, o órgão regulador não havia respondido.”