Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Empurrãozinho salvador

MÍDIA ESPORTIVA

(*)

Walter Casagrande Júnior faz parte da nova safra de comentaristas esportivos da TV. Sem dúvida, está longe de ser uma ovelha negra dessa geração. O que não é muito difícil: depois de aturar Galvão Bueno fazendo editoriais numa época em que a Globo não tinha comentaristas, e, em seguida, Paulo Roberto Falcão, que nunca vê problemas nos times e é adepto das táticas defensivas segundo as quais a marcação deve-se sobrepor à criação (não à toa a seleção brasileira sob seu comando foi um fracasso), Casagrande firmou-se como ótima revelação nos microfones das transmissões esportivas.

Entretanto, na TV, sempre elogia a maioria dos jogadores e raramente faz restrições a eles. Prática comum não só na Globo, mas também na Bandeirantes, emissora cuja marca é imediatamente associada ao esporte. Na rede paulista, Luciano do Valle e sua trupe consideram os atletas muito bons.

Nos jornais, o tom das reportagens do Globo e do Jornal do Brasil difere muito das transmissões televisivas. Sempre há críticas a certos jogadores, ora sutis, ora ferozes. Fernando Calazans, por exemplo, no Globo, não perdoa os pernas-de-pau. Poderíamos supor que tal omissão seja característica dos próprios comentaristas, e não do veículo em que trabalham. Porém, na edição do Globo de dia 9 de setembro, Casagrande foi entrevistado para falar sobre a adoção do "futebol-falta" ? brilhantemente combatido pelos dois grandes jornais cariocas ? que está marcando a seleção de Luís Felipe Scolari. Dentre as suas declarações, chamou-me a atenção a seguinte:

"O futebol arte não acabou. Já não temos mais jogadores como Zico, Sócrates, Falcão e Cerezo, mas não precisa cair para Eduardo Costa e Cris."

Difícil discordar do ex-jogador do Corínthians. Mas por que ele não expressa essa irada opinião na tela da Globo? Por que suas críticas ? ou melhor, as críticas de quase todos os comentaristas de TV ? restringem-se ao esquema do treinador, ao dirigente, ao árbitro, ao jogador estrangeiro, mas não ao jogador brasileiro? Se o futebol-arte deve ser valorizado ou o futebol-falta deve ser desvalorizado, por que fazer apologia a qualquer atleta, sem um mínimo de visão crítica, classificando-o, quando muito, sempre de "bom jogador"?

É sempre bom lembrar que, há alguns anos, a revista Placar fez uma reportagem em que desmontava um esquema clandestino de compra e venda de jogadores que envolvia repórteres da TV Bandeirantes. Não à toa, estes apareciam na telinha elogiando descaradamente alguns de seus "clientes". Faz tempo que nenhum escândalo desses vem à tona. Será que foi um caso isolado? Em tempos de CPIs do Futebol, convém que a imprensa faça investigações em torno do polêmico assunto no mesmo tom daquelas que descobriram que Eurico Miranda desviava dinheiro do Vasco.

Ou será que o corporativismo falará mais alto? Se isso ocorrer, dificilmente saberemos por que as equipes de TV raramente criticam os jogadores de futebol. E ficaremos todos, brasileiros, fadados a ver Eduardo Costa, Cris e quejandos na seleção brasileira. Com o empurrãozinho da própria mídia televisiva.

(*) Analista de sistemas, jornalista

    
    
                

Mande-nos seu comentário