Thursday, 10 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Eugênio Bucci

ASPAS

"Depoimento no Senado é novela ética", copyright Jornal do Brasil, 27/04/01

"Estou diante da televisão. Acompanho a reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, durante a qual o senador Antônio Carlos Magalhães presta depoimento. É um capítulo dramático do novelão em que vai se transformando a política brasileira. ACM, desta vez, parece estar no papel de vilão, como se fosse uma reencarnação trágica de um antigo personagem de Dias Gomes. Se a coisa toda fosse mesmo ficção, ele seria um Odorico Paraguaçu high-tech, às voltas com a violação de computadores antes inexpugnáveis. A comédia de O Bem Amado adquire proporções trágicas. Ou será uma farsa?

O novelão do Senado assusta. ACM fixa o olhar no interlocutor com ares de quem está disposto a esbofeteá-lo. Aponta o dedo para os presentes: ?Prestem atenção, porque isso é importante.? Quando se exalta, seus dentes se projetam. ?Vossa excelência parece que é escravo da minha pessoa, pelo ódio que me tem?, diz a um colega. A dramaticidade está garantida. O telespectador não tem como ficar indiferente. O show é quente. Além da TV Senado, canais comerciais entram em rede.

O espetáculo é tão eficiente que parece mesmo um entretenimento de primeira. Desde sempre, os dramalhões de TV lançam mão de personagens chantagistas para capturar o público. Vilões de todo o tipo acuam os bonzinhos ameaçando revelar segredos terríveis. Toda novela tem uma carta secreta. Agora, a TV Senado oferece ao público uma narrativa recheada do mesmo suspense. Há uma lista misteriosa, na qual apareceriam os votos nominais dos senadores a favor ou contra a cassação de Luiz Estevão. A votação deveria ter sido secreta, mas não foi. E a tal lista está sumida. A senadora Heloísa Helena, sobre quem pesa a suspeita de ter votado contra a cassação, pede para fazer uma declaração preliminar: ?Não aceito ser refém da sua memória, senador. Onde está a lista??. Aumenta a carga dramática.

O depoente alega em sua defesa que não ordenou violação alguma do painel do Senado. Mas, uma vez com a lista na mão, aceitou pacificamente o privilégio de lê-la. Depois, destruiu-a e silenciou. Segundo sua lógica, seria possível apropriar-se do produto de um delito sem ser responsabilizado por isso. Seria possível, também, destruir uma possível prova de delito sem incorrer em deslize. Essa lógica vai prevalecer? Não perca o próximo capítulo.

O problema é que isso tudo não é apenas um novelão. Ao contrário do que víamos nas histórias mirabolantes de Dias Gomes, o que vemos agora é uma trama igualmente mirabolante, mas estritamente real. Os personagens são senadores verdadeiros, tratando de um escândalo verdadeiro. Que o público veja tudo com o entusiasmo de quem segue uma obra de suspense, acaba sendo muito bom. Motivado pelos atrativos do espetáculo ou pelos princípios da cidadania, tanto faz, o país inteiro segue de perto as investigações. Se a verdade for esclarecida, melhor para a democracia. Se for mascarada, num clima de confraternização entre os representantes do povo, pior para o Senado. Diante da ficção, a gente ri. Outras vezes sente medo. Diante dessa novela ética, a gente ri pouco. Pode até chorar, de alegria ou de tristeza. Fora isso, a gente sente raiva. (Eugênio Bucci é colunista do JB e secretário editorial da Editora Abril)"

"ACM reclama do ‘linchamento político’ executado pela imprensa", copyright Jbonline (www.jbonline.com.br), 27/04/01

"O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) passou o dia em casa, assistindo ao depoimento do senador José Roberto Arruda (sem partido-DF) e decidiu não falar com a imprensa. No entanto, seu assessor Fernando César Mesquita informou que ele gostou do depoimento do senador ?mas tem algumas retificações a fazer?.

Segundo o assessor, ACM acha a acareação ?indispensável para estabelecer a verdade?. Uma vez mais, o senador reclamou da cobertura da imprensa sobre as denúncias de violação do painel do Senado e acredita que a mídia está ?colocando em curso um processo de linchamento político?.

Ainda de acordo com Fernando César, cerca de 70% dos e-mails, faxes e cartas recebidos no gabinete do senador são de apoio a ACM e de pessoas que acreditam que seu depoimento foi convincente.

O parlamentar viaja ainda hoje para Salvador e só volta a Brasília na próxima quarta-feira."

"Ética", copyright Folha de S. Paulo, 27/04/01

"Mais do que o depoimento, Brasília esperava o veredicto da Globo. Ele saiu ontem, nas manchetes do JN.

Dos apresentadores:

– 17 de abril. O ex-presidente do Senado negava envolvimento na violação do painel.

Entra ACM, em 17 de abril:

– Não recebi lista alguma.

Voltam os apresentadores:

– 26 de abril. O senador ACM confessa.

E ACM:

– Ele abriu o envelope e me entregou uma lista.

Quanto ao depoimento, propriamente, para quem esperava um espetáculo de abalar a República, ACM foi frustrante, ontem na Globo News, na Band News e na TV Senado.

Esquivou-se, buscou escorregar das acusações, com orientações passadas por seus advogados -que não foram expulsos da sala, como se fez em ocasião anterior, com advogado dos outros.

E os inquiridores, seus antagonistas na representação ao vivo, estavam perdidos em seus próprios dramas.

Os petistas, a começar de Eduardo Suplicy, seguindo com Heloísa Helena, Marina Silva, até Lauro Campos, que deixou a legenda, trocaram o papel de algozes por outro, de defensores da própria Helena.

(Talvez tenham ajudado, na confusão petista, os afagos seguidos de ACM aos citados.)

Sobraram, inusitadamente, alguns tucanos. Foram eles e alguns peemedebistas os mais agressivos, os menos acuados no diálogo com ACM, mas também não diferentes dos petistas, no momento em que se exigia, além de questões trazidas de casa, alguma improvisação.

Diante da nulidade de quem deveria proporcionar o conflito, foi preciso que ACM e os senadores baianos Waldeck Ornélas e Paulo Souto, estes dois guarda-costas do primeiro, se perdessem com suas próprias palavras.

Assim o fizeram, em especial Ornélas. ACM, carregado de contradições, ainda sustentou seus argumentos com o jogo costumeiro de intimidação e sedução, desprezo e ironia.

Ornélas, não. Ouvi-lo elogiar a ?ética? e a ?postura de estadista? de ACM, referindo-se à inércia -para dizer o menos- diante da violação do painel de votação, supostamente para evitar uma crise institucional, foi de efeito contrário ao desejado.

Frustrante no conteúdo, alguma emoção, ao menos, o espetáculo mostrou, com a entrada em cena de Pedro Simon.

Ele se levantou, ele falou bobagem, ele falou ?ladrão?. Fez o que sempre se pode esperar dele, em depoimentos."

"SBT transmite sessão e bate a Globo em SP", copyright Folha de S. Paulo, 27/04/01

"O depoimento de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) ajudou o SBT a bater a Globo no Ibope na Grande São Paulo, ontem à tarde.

Segundo dados preliminares, entre 15h30 e 16h08, o SBT teve audiência média de 13 pontos, contra 11 da Globo (que exibia filme), 5 da Record e 1 da Band, que também transmitiam o depoimento ao vivo. Cada ponto equivale a cerca de 80 mil telespectadores na Grande São Paulo.

O início das transmissões havia derrubado a audiência do SBT e da Record. Às 14h39, quando ACM iniciou o discurso, SBT tinha 11 pontos e Record, 3. Cinco minutos depois, os números caíram para 10 e 1, respectivamente. O SBT interromper a exibição, mas a retomou às 15h30, quando o debate no Senado esquentou.

O depoimento também aumentou a audiência do site do Senado na internet (www.senado.gov.br). O número de acessos à página da TV Senado, que costuma ser de 200 a 300 por dia, chegou a 2.500.

O depoimento seria transmitido ao vivo e na íntegra pela web, mas o número de internautas acabou congestionando o site do Senado, que ficou fora do ar das 15h às 17h.

O diretor da TV Senado, Aluizio Oliveira, disse que a crise gerada pela violação do painel eletrônico elevou a audiência do canal (disponível para TV paga ou parabólica), que costuma transmitir sessões na íntegra. ?Sentimos muito mais retorno de telespectadores.?"

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