Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Eugênio Bucci

ASPAS

BAIXARIA & ELITE

"A baixaria da elite na TV", copyright Jornal do Brasil, 1/07/01

"O Brasil virou um país cuja elite é ignara. A nossa classe A econômica é a nossa classe Y cultural. O atestado está na TV. A baixaria de que tanto reclamamos não é o retrato das predileções do populacho, mas o retrato do que vai na cabeça dos executivos da televisão. Eles dizem que é o povo que quer a sujeira. Mentira. Quem quer aquilo são eles, pois aquilo é tudo o que conseguem oferecer. Alguém aí quer dar um jeito na televisão brasileira? É fácil: demitam todos os que ganham mais de R$ 60 mil por mês.

Piadas à parte (piadas verdadeiras), o problema não está no gosto do povo, nas no despreparo da elite. A pobreza de espírito não é do pobre. Há mais complexidade em uma única estrofe da literatura de cordel do que em 200 horas de workshop com powerpoint e relatórios sigilosos de bancos de investimento sobre os meios de comunicação. Há mais sabedoria num rodopio de hip-hop em praça pública do que no frenesi dos financistas mediáticos.

Ai, que preguiça.

A baixaria televisiva se explica em função de movimentos de mercado. Surgiu como um efeito da disputa do telespectador ao menor custo. Sua origem está associada ao declínio da audiência da Rede Globo (minuciosamente descrito em A deusa ferida: por que a Globo não é mais a campeã absoluta de audiência, de Gabriel Priolli e Sílvia Borelli, da Summus Editorial). Acuada, a vênus perdeu a compostura e entrou na briga como uma qualquer. O padrão globo de qualidade cedeu lugar à corrida do abjeto. Antes, a Globo reinava como âncora do bom gosto nacional e, embora Barthes dissesse (com toda a razão) que o bom gosto nada mais é que a estética pequeno-burguesa, aquele velho padrão Globo de qualidade era muito mais confortável aos nossos olhos (pequeno-burgueses, naturalmente). Nenhuma novela tinha interruptor na parede, nenhum programa tinha gente subnutrida, o Brasil era perfumado como o olhar maroto de Sônia Braga, cibernético e aristocrático como as silhuetas das namoradas do Hans Donner na abertura do Fantástico.

Hoje é isso aí: Faustão versus Gugu. Menos falsificado, por certo. Mas muito mais feio. Sim, eu sei que existem coisas como Brava gente, A grande família e Os normais, e sei que são coisas ótimas, que eu também não perco, mas o conjunto da TV reduz-se a um imenso Faustão-versus-Gugu. A competição, em vez de diferenciar, igualou as emissoras pelo que elas têm de mais baixo. Economia extrativista.

A que tudo isso serve? À cultura? À educação? À informação? Por favor. Isso serve apenas ao dinheiro – e ao dinheiro mais imediatista que pode haver. A baixaria impera não porque seja o único jeito de atrair o grande público, mas por ser o jeito mais barato. Dizem que ela atrai somente ?as classes pobres?. É mentira. Como a pornografia, ela junta curiosos de todo tipo, sempre de passagem. Baixos instintos não têm classe social nem compromisso duradouro. Quem mais perde com isso é a própria TV. Os efeitos colaterais da vulgaridade vão da destruição da credibilidade à corrosão das estratégias (mesmo comerciais) de longo prazo. É um caminho de riscos muito altos. Nem toda atração apelativa é sucesso. Há muita vulgaridade que fracassa (a maioria, aliás), do mesmo modo que há programas de alta qualidade que são enormes sucessos de públicos.

Então você pergunta: se a qualidade pode dar certo, por que as emissoras investem no apelativo e no sensacionalismo? Porque é mais fácil, mais rápido, mais barato: requisitos básicos para a competitividade de curto prazo. Porque, enfim, é a lógica do mercado. O que é péssimo para a televisão. A prevalecerem os imperativos do mercado imediatista, a televisão perderá seu lugar de principal mediador do espaço público no Brasil. Aí a gente fala em controle social da televisão e os diletantes assumem ares de indignação: ?Oh, não, isso é censura!?.

Ai, que preguiça.

A censura – será que os diletantes não vêem? – já está aí, há muito tempo, instalada dentro da TV. A censura de TV no Brasil nunca morreu, ela foi apenas privatizada. Tornou-se uma prerrogativa dos donos das emissoras (não estamos falando aqui da edição dos telejornais – editar é sempre selecionar fatos e informação -, mas de veto mesmo, de censura no duro). É uma notícia relevante que não vai ao ar porque interessa ao público mas não interessa ao acionista. É a atriz bonitinha que não pode ser ironizada no programa humorístico porque o dono não deixa. Ora, isso só acontece porque a televisão não passa por nenhum controle social.

Falar em controle social da televisão é, para começar, combater a censura privatizada. Além disso, controle social não se confunde com nenhum regime de filtragem prévia dos programas. Ele, ao contrário, garante a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, promove a responsabilização dos dirigentes da TV por aquilo que veiculam. Eles passam a ter de prestar contas. Ofenderam a dignidade de uma etnia? Expuseram uma criança a uma situação vexatória num programa ao vivo? Deixaram de exibir o programa educativo que é obrigatório? Deixaram de noticiar um fato relevante? Que respondam por isso, perante um organismo público, legalmente constituído, com poderes para fiscalizar e recomendar sanções (previstas em lei).

Organismos assim existem nos países democráticos. No Brasil, não. Aqui, as concessões de TV (com duração de 15 anos) são outorgadas e depois esquecidas. Não há exame periódico dos programas veiculados para avaliar se eles correspondem ao que os termos da concessão exigem, não há instâncias para as quais o público possa enviar reclamações. As emissoras de TV são capitanias hereditárias acima da lei, existem como um poder acima dos outros poderes. Agora: se houvesse um organismo de fiscalização, as coisas talvez fossem diferentes.

Sonho distante? Nem tanto. Está aí um projeto de lei sobre os serviços de radiodifusão, que o Ministério das Comunicações pretende encaminhar ao Congresso em agosto. É tímido, conciliador, mas tem o mérito de levantar o tema e de ser uma proposta aberta ao debate. Quem quiser pode ir ao site do Ministério (www.mc.gov.br), ler o projeto e opinar sobre cada artigo. O site recolhe sugestões e críticas. O projeto chega até a propor um Conselho Nacional de Comunicação, embora com poucos poderes e circunscrito ao Ministério das Comunicações (um conselho, portanto, de alcance bem menor do que aquele que foi previsto na Constituição de 88 e que nunca foi implantado). Não é muito, enfim, mas é um princípio.

Só o surgimento de mecanismos públicos de controle pode livrar a TV da tirania do mercado imediatista. Melhorar a TV, parece incrível, é uma tarefa também do público. Ele que se faça notar. Ele que faça ver que é ele quem manda. Não apenas como consumidor, mas como titular de direitos, como proprietário primeiro dos canais que são concedidos às empresas para a exploração comercial. É em nome do cidadão que o poder público concede os canais. O controle social, portanto, nada mais é que o controle da TV pelo verdadeiro dono da TV. Nada mais justo e, neste momento, nada mais profilático."

O BEBÊ DE GUGU

"Gugu fez nenê", copyright Veja, 1/07/01

"Se tudo ocorrer como previsto, o herdeiro dos 100 milhões de reais do apresentador Gugu Liberato já tem data para nascer: 11 de dezembro. Seu nome será João Augusto Di Matteo Liberato e sua mãe, a médica paulista Rose Miriam Di Matteo. A gravidez tem dezesseis semanas, mas só veio a público no último dia 22. Foi noticiada pela internet, depois de ter sido descoberta por uma equipe de jornalismo da Rede Globo que fazia uma reportagem na clínica de Roger Abdelmassih, um dos maiores especialistas do país em técnicas de reprodução humana e fertilização in vitro. É no consultório de Abdelmassih que o casal Gugu e Miriam tem acompanhado o desenvolvimento de Joãozinho. A primeira consulta dos dois foi em 20 de fevereiro. Os ovários de Miriam apresentavam uma tendência policística, um distúrbio que torna a ovulação irregular e dificulta a gravidez. Ela se submeteu, então, a oito aplicações de hormônios. E depois vieram as tentativas de fertilização.

Gravidez consumada, Gugu, de 42 anos, e Rose, de 37, optaram por uma relação ?aberta?. Não vão se casar nem morar juntos. Gugu, no entanto, deseja acompanhar tudo bem de perto. Para tanto, instalará sua parceira em Alphaville, um condomínio de luxo perto de São Paulo. ?Comprei uma casa que fica em frente à da minha mãe?, diz ele. A nova residência de Rose tem 800 metros quadrados, vinte cômodos, piscina, quadra de squash e um jardim. Entre a compra e a reforma, Gugu desembolsará cerca de 1 milhão de reais. ?Nesta semana, tive uma reunião com a decoradora. Quero que tudo saia perfeito?, afirma. Um quarto será montado apenas para Gugu, assim como um escritório com televisores e aparelhos de medição do ibope, para que ele possa trabalhar ao lado do filho.

Rose diz que se sente como quem ganhou na loteria. Já fazia tempo que ela desejava um rebento. Há cerca de quatro anos, tentou engravidar de um namorado – e nada. Agora, exibe um sorriso vitorioso. Mas não é fácil carregar na barriga o bebê de uma celebridade. Na semana passada, começou a ser acompanhada pelo chefe da segurança pessoal de Gugu, o major Telhada. Também deixou de prestar atendimento nos três hospitais da Zona Leste de São Paulo onde trabalhava como otorrinolaringologista. Seus rendimentos, entre plantões e operações, giravam em torno dos 8.000 reais por mês. Desse montante, ela tirava as prestações de 2.100 reais de um apartamento de 40 metros quadrados no bairro da Aclimação, as mensalidades do consórcio de um Fiat Palio e uma mesada para a mãe, que mora no interior do Estado. Nos próximos dias, Rose deve deixar seu pequeno apartamento. Também receberá um presentão – uma Cherokee blindada que estava parada na garagem de Gugu. ?Vou dar toda a ajuda financeira possível à mãe de meu filho?, diz Gugu. ?Penso até em montar para ela uma clínica em Alphaville.? Como se vê, Rose realmente ganhou na loteria.

Nos últimos dez anos, Gugu apareceu em público acompanhado por algumas mulheres, além de Rose. No início dos anos 90, alardeou-se um namoro entre o apresentador e a atriz Nani Venâncio, que ela nunca assumiu. ?A gente namorou, sim?, confirma Gugu. Em 1995, andou saindo com a loira Alessandra Scatena – uma amizade íntima, mas sem sexo, segundo a moça declarou. ?Teve sexo, sim?, reafirma Gugu. Mais recentemente, circulou com a modelo Fabiana Andrade – uma garota exuberante, para dizer o mínimo. ?Eles não tiveram nada?, diz Rose Miriam. ?Tivemos, sim?, jura Gugu. O relacionamento com Rose vem de longa data. Os dois se conheceram em 1983. Ela era assistente de palco do programa Viva a Noite, do SBT. ?Tivemos um rolinho nessa época?, conta Rose. ?Sim, sim?, reafirma Gugu. Em meados dos anos 80, ela resolveu deixar a televisão para morar em Milão, na Itália, juntamente com seu pai, que é italiano. Depois de quatro meses, voltou decidida a ser médica. Passou no vestibular para um curso em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Para pagar a faculdade, fazia plantões. ?É proibido por lei, mas todo mundo faz?, entrega. Nos anos 90, o contato entre os dois foi intermitente. Em 1994, fizeram fotos para a revista Caras, aparecendo inclusive deitados na cama da casa do apresentador no Guarujá. O reencontro rendeu um Fusca zerinho a Rose. ?Eu tinha um carro velho e Gugu me deu um modelo Itamar, novinho em folha.? Em seguida houve mais uma separação e, finalmente, o encontro decisivo, em dezembro passado. Num plantão, Rose atendeu um ajudante de palco do Domingo Legal. Aproveitou a oportunidade e mandou um bilhete a Gugu, que respondeu com um convite para jantar. Conversa vai, conversa vem, surgiu a idéia do filho – o bebê de Rose Miriam.

Há três semanas, Gugu fez estardalhaço em seu Domingo Legal com cenas do parto da cantora Simony. Em relação ao próprio filho, no entanto, a intenção é mantê-lo o mais distante possível da mídia. ?Não quero transformar minha paternidade em show?, esbraveja. ?Também acho horrível ver crianças sendo usadas para fazer comercial?, completa ele, que por sinal tem algumas delas trabalhando em seu palco. Vai ser difícil manter Joãozinho longe dos holofotes. Ele tem tudo para ser a Sasha de Gugu. O anúncio da gravidez fez com que a mãe do apresentador, a portuguesa Maria do Céu, tivesse o seu maior sonho realizado. Católica de princípios rígidos, ela até perdoa o fato de Gugu não subir ao altar. ?Hoje em dia não precisa mais igreja. O importante é que agora o meu filhinho tem um herdeiro?, diz a vovó. Não se sabe o que padre Marcelo Rossi, o saltitante amigão de Gugu, pensa de tal heresia."

LILIAN WITTE FIBE

"Lillian estuda convites de duas emissoras", copyright O Estado de S. Paulo, 28/06/01

"Entre ir para a Bandeirantes e para um dos programas que o jornal Gazeta Mercantil produzirá na TV Gazeta, Lillian Witte Fibe afirma que, no momento, não tem posição definida sobre sua volta ao vídeo. A jornalista garante que não sabe o que motivou as especulações de que estaria fechando acordo com a Gazeta. Nem sabe, diz, se optará por um dos canais. ?Tenho trabalhado muito e só vou tomar uma decisão, se tomar, quando houver um projeto de fato. Por enquanto, estamos longe disso?, disse Lillian, antes de embarcar para o exterior. Ela volta em quinze dias.

A Gazeta Mercantil quer fazer dela a apresentadora de um novo talk show, o Jogo Aberto, previsto para agosto. A empresa acredita que, tendo duas edições semanais, às terças e quintas, Lillian poderia encaixá-lo com mais facilidade em sua agenda, ocupada por programas de rádios, colunas em jornais impressos e, principalmente, pelo portal Terra, em que comanda um canal de informações.

Na Bandeirantes, a outra interessada na jornalista, o convite é fato admitido, mas o andamento das negociações vem sendo tratado de forma discreta.

Embora animador para a qualificação da nossa TV, o projeto da Gazeta Mercantil ainda se mostra mais bonito em tese do que na prática. Outras pessoas contatadas para a empreitada também continuam à espera de detalhes capazes de definir uma proposta concreta – em conteúdo, salário e horário."

    
    
                     

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