Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Eugênio Bucci

ELEIÇÕES 2002

"Adeus à praça pública", copyright Folha de S. Paulo, 30/6/02

"O comício em praça pública já era. Hoje, não passa de uma lembrança folclórica, mais ou menos como o bumba-meu-boi, o saci-pererê, Jânio Quadros e amendoim em estádio de futebol. Palanque já era. Candidatos que faziam corpo-a-corpo, caravanas que percorriam o interior em linhas tortuosas, como a Coluna Prestes, cabos eleitorais que perseguiam eleitores nas cercanias dos lugares de votação, como traficantes perseguem adolescentes nas esquinas das escolas, tudo isso é passado, são práticas primitivas e pouco produtivas. Persistem apenas como nostalgia. Ou, no máximo, persistem como complementos de estratégias muito mais complexas. Desde 1989, o ?modus operandi? das campanhas eleitorais passou por uma intensa reengenharia no Brasil. Virou uma indústria especializada ou, mais exatamente, virou um ramo especializado da indústria do entretenimento. O seu palco não é mais a rua: é a televisão.

Em 2002, os comícios ainda acontecerão, por certo, mas acontecerão nas brechas deixadas pelos compromissos prioritários dos candidatos: aparições televisivas. A ida de um candidato a uma cidade terá agora uma função meramente complementar: a de reforçar a mensagem trabalhada na TV. Os candidatos, que antes visitavam municípios, e tinham nisso uma prioridade, agora percorrem programas de auditório, programas de entrevistas, programas de debates. São andarilhos virtuais. A geografia em que se movem não é mais aquela das linhas ferroviárias (sempre havia um vagão que servia de púlpito ao candidato em trânsito, o postulante ambulante, o orador mambembe). Sua nova geografia é a grade de programação dos canais abertos.

Campanhas eleitorais como a que veremos neste ano constituem a principal evidência de um fenômeno muito recente, mas crucial: a TV recobre e substitui os espaços físicos. Minutos no horário eleitoral se convertem na principal moeda de troca na hora de se negociarem as alianças. Um marqueteiro passa a valer mais que mil ideólogos. Vale milhões de dólares. Pode valer a faixa de Presidente da República.

Não que os marqueteiros tenham poderes mágicos sobre eleitores passivos e teleguiados. Não é isso. Acontece que a linguagem da campanha, que antes era o discurso político, passou a ser a linguagem da publicidade. Eu não quero dizer que a publicidade seja mais ou menos racional que o discurso político: é apenas outra l&iaiacute;ngua. Antes, o discurso político até se valia de um certo marketing, no sentido de que lançava mão de recursos teatrais. Jânio Quadros, por exemplo, usava sanduíches de mortadela para comover a audiência. A diferença é que, hoje, em vez de o discurso político ter o seu marketing artesanal, o marketing, ou melhor, a megaindústria do marketing é que contém a política. A política se tornou uma das especializações do marketing.

Ideólogos, que entram em extinção como as ararinhas azuis, não falam a língua do marketing. Por isso, pobrezinhos, são tão inúteis quanto um fogão a lenha. O público de eleitores, essa vasta platéia de consumidores vorazes, já não tem ouvidos para ideólogos, mas compreende perfeitamente os apelos publicitários. Talvez não tenham mudado as motivações que levam um cidadão a votar neste ou naquele político, mas mudou, certamente, a língua que esse cidadão reconhece como sendo sua. Claro que ele é capaz de formar seu próprio juízo das coisas ou, pelo menos, é tão capaz como sempre foi, nem mais nem menos. Hoje, porém, prefere ver um comercial partidário ou uma entrevista de TV, e dali tirar sua opinião, a ter de se arrastar até um comício sob o sol para divisar a fisionomia de quem lhe pede confiança.

É isso o que significa dizer que a política, hoje, é resolvida segundo os paradigmas do consumo, da imagem eletrônica e do entretenimento. Praça pública, ora essa. Isso é do tempo em que as bandinhas bufavam em cima dos coretos."

 

"As mudanças da semana em Brasília", copyright Comunique-se, 28/6/02

"Clima de Copa do Mundo, conchavos políticos de montão, convenções partidárias em andamento, risco Brasil oscilando. Se o País está agitado com tantas variáveis, mexendo, por alguma dessas razões, com grande parte da população, que dirá Brasília, centro nervoso da política brasileira, que vive a expectativa de uma nova e turbulenta sucessão presidencial.

Na mídia não é diferente. A última semana, especialmente, registrou algumas mudanças importantes no cenário editorial, o que mostra que as atenções começam a se voltar cada vez mais para o Planalto e para o futuro ocupante da cadeira de FHC.

A revista IstoÉ, por exemplo, está levando para seu time de editores Luiz Cláudio Cunha, colega com anos de estrada e uma experiência grande na cobertura de Política, ele que já foi chefe da sucursal do Estadão, colunista político do Correio Braziliense, parceiro de Ricardo Boechat, em O Globo, além de assessor direto do senador Pedro Simon (PMDB-RS) – sempre na Capital Federal. Cunha ocupará a partir desta próxima 2?.feira (1?/7) a vaga de Ricardo Miranda, que negociou sua transferência para a sucursal Rio de Janeiro, integrando-se à equipe comandada por Aziz Filho. Ganha a revista nos dois casos, já que Miranda tem também muita afinidade com a área cultural (no Rio terá a oportunidade de ampliar a cobertura da editoria, embora também fique atento às questões de comportamento e segurança), e Cunha leva bagagem e agenda para um time que já conta com Tales Faria, chefe da sucursal, o papa-prêmios Amaury Ribeiro Jr., Leonel Rocha, Weiller Diniz e Sônia Filgueiras.

Outra das publicações da Editora Três a marcar um tento foi a Dinheiro, responsável pelo retorno de Hugo Studart ao jornalismo, contratando-o como editor. Studart, que trabalhou no JB, Estadão, Veja, Folha e Interview, deixou a atividade três anos atrás para lançar e administrar um dos sites de maior sucesso na área jurídica, o Direito.com.br., que está agora a venda. Em sua galeria estão prêmios como o Esso, Líbero Badaró e Abril. Nos últimos anos, além de se dedicar ao site, deu aulas na Universidade Católica. Convidado por Marco Damiani, chefe da sucursal, chega quase ao mesmo tempo que Janaína Leite (ex-Jornal do Brasil) contratada como repórter na revista.

Outra colega que está de mudança, na Capital Federal, é Cíntia Sasse, uma das editoras da Gazeta Mercantil. Cintia, de férias, negociou sua saída da empresa para dedicar-se a uma outra atividade que por enquanto não revela – certamente no jornalismo, mas não necessariamente numa redação. Ela estava em sua terceira passagem pelo jornal, as quais, somadas, dão doze anos de casa. Um de seus feitos foi a de ter sido a primeira mulher a dirigir uma das regionais da Mercantil – a de Belém. Ela trabalhou ainda em vários outros veículos, como IstoÉ, Canal Rural (Grupo RBS) e publicações da Editora Abril, onde esteve por dez anos, período em que morou em São Paulo.

Também a tevê Record reforçou o time. A emissora acaba de estrear o telejornal Informe Primeira Edição, veiculado de 2? a 6?feira, das 13h15 as 13h30, com noticiário local. O novo projeto permitiu a contratação de três repórteres, dois de vídeo (Cristiano Oliveira e Ana Cristina) e um cinematográfico (André Nardoto). O time da Record em Brasília já contava com os repórteres Venina Nunes e Anderson Oliveira e com o auxiliar de cinegrafista José Costa. O novo telejornal tem como apresentadores Jorge Marinho e Rosa Lemes, com edição de Daniela Lemke. Kátia Abreu é a diretora de Redação e Carlos Geraldo o diretor Geral da Record Brasília.

Como se vê, pouco a pouco várias peças vão sendo mexidas nesse tabuleiro. E isso é só o começo, já que a campanha eleitoral está começando pra valer apenas agora, com o inicio do horário eleitoral gratuito."

"Marqueteiro de Serra ganha cinco canais", copyright Folha de S. Paulo, 26/6/02

"O Ministério das Comunicações concedeu, em portarias publicadas ontem no ?Diário Oficial da União?, cinco novos canais retransmissores da TV Sul Bahia, afiliada do SBT em Teixeira de Freitas (BA), comprada em outubro do ano passado por Nizan Guanaes, marqueteiro da campanha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra.

As autorizações são para instalação de retransmissoras em cidades vizinhas a Teixeira de Freitas (Alcobaça, Itabatã, Taquarinha, Mucuri e Posto da Mata), o que indica que Guanaes está investindo na melhoria do sinal na região.

Em maio, Guanaes recebeu do governo federal um canal retransmissor (cuja autorização é precária e não precisa de concorrência pública) em Santo André, na Grande São Paulo. A intenção do publicitário é, a partir da geradora de Teixeira de Freitas, formar uma rede nacional de televisão.

As assessorias de Guanaes e do ministro das Comunicações negaram haver relação entre os novos canais e a campanha eleitoral.

Segundo o ministério, toda geradora tem direito a ter retransmissoras. Explica a permissão de cinco novos canais em um único dia pela simultaneidade no pagamento de taxa de publicação das portarias no ?Diário Oficial?.

Segundo a assessoria de Guanaes, essas retransmissoras já existiam, mas estavam irregulares. O ministério diz que os canais são novos.

OUTRO CANAL

Abafa 1

Marluce Dias da Silva, diretora-geral da Globo, e Mario Lucio Vaz, diretor artístico da emissora, terão amanhã, às 14h, reunião com Xuxa Meneghel e Marlene Mattos, empresária e diretora dos programas da apresentadora. Vão discutir o futuro _não só do infantil ?Xuxa para Baixinhos?, que já teve sua estréia adiada duas vezes, e do ?Planeta Xuxa?.

Abafa 2

Nos bastidores da Globo, corre a versão de que Xuxa e Marlene, após 20 anos de amizade e relação profissional, passam por um momento de séria crise. Segundo pessoas próximas às duas, elas não se falam há mais de três meses. Por isso o atraso no programa.

Bombeiro 1

Mario Lucio Vaz também está tendo que apagar outro incêndio: entre Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando Carvalho, respectivamente autor e diretor de ?Esperança?, que ainda não decolou no Ibope.

Bombeiro 2

Barbosa reclamou que a novela que tem ido ao ar, em alguns momentos, não é conceitualmente a mesma que ele escreveu. Vaz tem feito a ponte entre autor e diretor, acompanhando a edição dos capítulos nos dias em que eles vão ao ar.

Rumo

Ney Gonçalves Dias não terá mais um programa entre o ?Note Anote? e o ?Cidade Alerta?. A Record estuda uma atração noturna."

***

"Band e Globo definem calendário eleitoral", copyright Folha de S. Paulo, 28/6/02

"Foi fechado anteontem à noite, na Band, o calendário de debates eleitorais na TV. O encontro dos presidenciáveis na emissora paulista será em 4 de agosto, no primeiro turno, e, em 13 de outubro no segundo. Na Globo, está acertado desde o começo do mês que os debates serão em 3 (primeiro turno) e 24 (segundo) de outubro.

SBT e TV Cultura ficaram fora da programação de debates porque os principais candidatos acharam excessivo mais de dois eventos por turno e criaram barreiras para debates antes de agosto. Na Band, por exemplo, só Anthony Garotinho e Ciro Gomes aceitaram a data de 21 de julho, primeira proposta da emissora.

Hoje à tarde, uma reunião na Band irá discutir detalhes das regras do primeiro debate. Já está acertado que serão cinco blocos e que haverá perguntas de candidato para candidato e de jornalista para candidato. Será avaliada hoje proposta de Duda Mendonça (marqueteiro do PT) de sorteio de candidatos para responder a perguntas previamente elaboradas por jornalistas.

A Band acerta na semana que vem as datas para os debates de candidatos a governadores. Provavelmente, será em 5 de agosto, mas pode haver duas edições (uma outra no dia seguinte), com sorteio de ?nanicos?. A emissora também planeja um encontro de candidatos a vice em 11 de agosto. Na Globo, os governadores se encontram em 2 de outubro.

OUTRO CANAL

Rojão 1

A Globo convocou todos os seus artistas e quase todos os jornalistas para trabalhar domingo. Três estúdios foram reservados _o normal é só um. Se o Brasil ganhar a Copa, a programação será toda ao vivo, com apresentadores (como Xuxa, Fausto Silva, Luciano Huck, Ana Maria Braga) se revezando em programas com entrevistas, mesas-redondas, musicais e flashes jornalísticos.

Rojão 2

A operação só foi desencadeada na manhã de quarta _o que indica que a cúpula da emissora não apostava cegamente na classificação. E, para não agourar, a Globo decidiu não divulgar em comunicado oficial a programação do penta.

Velório

Porém, se o Brasil perder, a programação será normal, com apenas o ?Domingão do Faustão? e ?Fantástico? ao vivo.

Fundo 1

Estão mofando em conta da 1? Vara Cível de Barueri (SP) os R$ 350 mil líquidos que José Luiz Datena teria a receber da Rede TV! como salário de maio. O depósito foi feito no último dia 18.

Fundo 2

O depósito faz parte de estratégia jurídica da Rede TV!, que irá processar Datena por quebra contratual. Quer caracterizar o rompimento de Datena, que voltou para a Record, como abandono de emprego, alegando que o apresentador (que ameaça acionar a emissora na Justiça trabalhista) sequer foi receber o salário."

 

"Nizan obtém cinco repetidoras na Bahia e fica mais perto de formar rede", copyright Cidade Biz, 26/6/02

"Nizan Guanaes está a caminho de formar sua tão sonhada rede de TV. O publicitário baiano adquiriu em seu Estado natal cinco retransmissoras da TV Sul Bahia, afiliada do SBT que comprou no final do ano passado em parceria com o sócio João Augusto Valente, o Guga.

Além disso, Nizan tem suspensa pela Justiça a concessão de um canal UHF em Santo André, ABC paulista. Obtida no início de maio, a concessão foi suspensa dias depois pelo juiz Guilherme Jorge de Resende Brito, da 21? Vara da Justiça Federal em Brasília, que teria encontrado irregularidades no processo.

Com o canal 40 de Santo André, o publicitário poderia retransmitir o sinal enviado da Bahia, já que a TV Sul Bahia é uma geradora. As novas autorizações, publicadas esta semana no Diário Oficial, prevêem a instalação de retransmissoras nos municípios baianos de Alcobaça, Itabatã, Taquarinha, Mucuri e Posto da Mata.

O sonho de Nizan é possuir uma rede de alcance nacional e se transformar num grande homem da comunicação. Qualquer produção televisiva, no entanto, só terá início em 2003. Nizan acaba de concluir o processo de reestruturação da DM9, agência que reassumiu em março, numa volta surpreendente ao mercado publicitário, do qual estava afastado desde 2000, quando participou do lançamento do iG.

Por hora, ele está envolvido com a campanha do presidenciável José Serra, do PSDB, e com o lançamento da Africa São Paulo, agência que pode ser a primeira de uma rede Africa, para a qual já está prevista até uma filial internacional.

Está marcado também para o ano que vem o lançamento da MPM, agência que atenderá basicamente contas políticas. Todas as empresas serão abrigadas sob a holding NGI, criada por Nizan em sociedade com Guga Valente e o Banco Icatu."