Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Fim de uma teoria conspiratória

ECOS DE 1989

Berto Oliveira (*)

Faz parte do folclore mítico criado por algumas cabeças ditas pensantes, notadamente na imprensa, converter a Rede Globo no grande mágico de Oz da mídia brasileira, com um poder supremo muito além daquele que ela realmente reúne.

Crêem tais cerebrinos que a superpoderosa manipula a todos a seu bel-prazer, assim como o faz com os personagens de suas novelas. Pura balela. Pois, mesmo sem pretender bancar o São Jorge, qualquer telespectador, por menos aguerrido que seja, pode muito bem abater este fantasioso dragão midiático com um único tiro de controle remoto.

No meio dessa teia de renda negra que envolve a campeã de audiência das nossas telinhas está a velha história da edição do debate Collor-Lula no JN, agora revista e atualizada no artigo "A verdade sobre o debate de 1989", de Juca Kfouri [remissão abaixo], e que, na verdade, nada mais é do que um daqueles típicos "causos" em que a versão acabou sendo mais relevante que a própria irrelevância do fato.

Qualquer telespectador-eleitor que tenha acompanhado o mínimo necessário da campanha presidencial de 89 pela imprensa para manter-se razoavelmente informado, e que não sofra de influenza televisiva crônica, certamente não se deixará contagiar pelo vírus da teoria conspiratória que sempre envolveu essa malfadada e malfalada edição.

Pedra no assunto

Que aquela eleição presidencial jamais transcorreu como um filme de suspense cujo fim é quase sempre imprevisível disso não temos a menor dúvida. Se o primeiro turno já foi bastante enfadonho, o segundo foi quase uma versão condensada do anterior, e mais parecia uma modorrenta reprise de novela com o último capítulo já conhecido.

Caso os plantonistas dessa tese conspiratória se dessem ao trabalho de analisar as projeções das pesquisas eleitorais publicadas pela imprensa nos vários momentos daquela campanha, sem dúvida alguma chegariam à insofismável conclusão de que se a tendência do eleitorado tivesse mudado naqueles dois últimos dias que antecederam a votação, aí sim, estaria configurada a existência de alguma maracutaia.

É óbvio mais do que ululante que não foi uma ação maquiavélica engendrada por um jornalista numa ilha de edição nos subterrâneos da Rua Von Martius que acabou atropelando de vez a improvável vitória de Lula no segundo turno da eleição presidencial de 89.

Convenhamos que outros motivos levaram o eleitor brasileiro a deixar-se enfeitiçar pelo canto da sereia alagoana. Daí, toca as raias do grotesco essa insistente imputação da derrota de um candidato presidencial a dois dias da votação, por culpa tão somente de uma notícia de telejornal confessadamente mal-elaborada.

O artigo de Juca Kfouri, portanto, é definitivamente esclarecedor e, caso não apareçam versões alternativas confiáveis e factíveis, põe uma pedra sobre o assunto. Daqui para a frente, removê-la-ão somente os néscios ou os inconseqüentes.

(*) Pedagogo, Rio de Janeiro

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