FÓRUM DE JORNALISMO
O interesse de professores e alunos da área de jornalismo em discutir a regulamentação profissional se deve não apenas à recente polêmica em torno do fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão, mas também à necessidade de se resgatar o sentido mais profundo da trajetória de nossa profissão na sociedade brasileira.
O argumento de que essa medida recente não comprometeria a demanda pelos cursos de jornalismo e selecionaria os de boa qualidade, levando à extinção os demais, não se sustenta, entre outras razões, por não haver necessariamente relação de causa e efeito entre exigência de diploma e a qualidade do ensino.
Além disso, devem ser levadas em conta as peculiaridades do jornalismo no Brasil, onde o desenvolvimento da profissão e a consolidação do perfil da categoria foram estimulados e reforçados após a instituição da obrigatoriedade do diploma, em curso específico de nível superior, fixada em 1969 e em vigor desde 1971.
O diploma não só reflete a trajetória da formação que se tem na universidade, como legitima a categoria por meio do reconhecimento social e legal, conferindo dignidade para o exercício da profissão, além de conquistas trabalhistas compatíveis com o nível de escolaridade. O fim do diploma representa um risco a estas conquistas e à possibilidade de controle social sobre o exercício do jornalismo, que ficaria mais facilmente refém de interesses econômicos, manipulações, e não necessariamente regido pela busca da qualidade.
O curso superior e o diploma não garantem por si só uma formação adequada, correta e de boa qualidade. Para isso, a universidade precisa investir na capacitação acadêmica e profissional do corpo docente, em laboratórios atualizados e principalmente se transformar em centro de discussão, de crítica e de reflexão sobre o fazer jornalístico e a realidade, com total liberdade de expressão e opinião.
Existe uma evidente necessidade de melhoria da qualidade do ensino atual, que tem sido prejudicado pela visão estreita e equivocada de burocratas da educação mais interessados nos ritos acadêmicos e no lucro do que no conhecimento construído por professores e estudantes.
Os relatos apresentados neste grupo de trabalho proporcionaram uma rica troca de experiências entre os representantes de diversos cursos. Registramos, por exemplo, que os projetos laboratoriais dos vários cursos são tanto vinculados a disciplinas quanto atividade voluntária. Há uma realidade diversificada em relação a estruturas curriculares, cursos de extensão, workshops e estágios.
A maioria defendeu o estágio para estudantes de jornalismo e foi favorável a sua regulamentação nos termos propostos pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, segundo os quais os representantes da universidade, do sindicato e da empresa acompanhariam a atividade do estagiário.
O exercício da profissão não é redutível a um adestramento técnico oferecido pelas empresas jornalísticas, pois só o ambiente universitário proporciona essa possibilidade de reflexão e uma formação sólida que articula teoria e prática. O diferencial do jornalista dependerá da inquietação permanente e da formação continuada. O papel da universidade não se reduz à capacitação profissional: estende-se a formar cidadãos críticos, agentes de transformação social, não podendo, portanto, ficar à mercê da lógica do mercado.