Wednesday, 09 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Gabriel Priolli

QUALIDADE NA TV

ASPAS

TV PAGA

"Ibope desmente TV comercial", copyright O Estado de S. Paulo, 29/04/01

"Não, senhores, a coisa não é bem assim. Não é verdade que a TV brasileira está piorando porque os ricos deixaram de vê-la. O primeiro relatório sobre audiência na TV por assinatura, apresentado há dias pelo Ibope, derruba o argumento que se generalizou, para explicar a queda de qualidade na TV aberta: a de que o público das classes A/B bandeou-se para canais pagos e que, privados dele, os canais tradicionais investiram no público C/D/E, cuja participação no total da audiência cresceu desde 1995, com a explosão do consumo de televisores após o Plano Real.

Não é isso que os números mostram. O Ibope investigou os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro, que, sozinhos, concentram cerca de 1/5 dos domicílios com TV do País. E descobriu que, entre aqueles que já têm TV paga, nada menos que 74% vêem preferencialmente os canais abertos. A ordem de preferência mantém o ranking já conhecido das medições convencionais do instituto: a Globo lidera com 43%, o SBT a segue com 13%, depois vem a Record com 7%, Bandeirantes e Rede TV! empatam com 3% e as outras abertas (canais educativos ou comerciais isolados) ficam com o restante. Ou seja: os telespectadores ricos mudaram para a TV paga (são 81% do total dos assinantes), mas seguem vendo nela os mesmos programas que viam na TV aberta. Apenas trocaram a antena espinha-de-peixe pelo cabo ótico ou a miniparabólica, provavelmente em busca de melhor sintonia e – vá lá – algumas alternativas de programas, em alguns horários, em alguns canais pagos.

É importante ressaltar esse dado, para enfocar melhor o debate sobre qualidade na TV. A emergência dos shows popularescos de auditório; o avanço de uma sub-música indigente e pornográfica; a erotização generalizada, alcançando até as novelas; a disseminação de um jornalismo demagógico e sensacionalista – tudo isso não pode mais ser interpretado como um ajuste das emissoras comerciais ao padrão de gosto das classes populares, seu novo cliente preferencial. A elite é tão responsável por esse padrão, indiscutivelmente rebaixado em relação ao que a mesma TV aberta exibia há anos, quanto o povo pobre. São também os ricos que se repastam no cardápio dos shows do milhão, pegadinhas, louras popozudas, lutas no gel, helicópteros sobre penitenciárias rebeladas e demais acepipes da TV ?popular?.

Mesmo considerando os 26% de assinantes que preferem canais pagos, observa-se que não é propriamente cultura que se busca neles. Os canais mais vistos são de filmes e infantis (ambos com 22%), seguidos pelos de entretenimento (16%) e os de esporte (11%). Já aqueles voltados para documentários e notícias, que, ao menos em teoria, são os mais ?culturais?, ficam lá atrás, com 7% das preferências. Na pesquisa nem são analisados os canais de uso público, como os legislativos, comunitários e universitários, que estão provavelmente contidos na rubrica ?outros? (15%)."

"Campeões animados", copyright Época, 2/05/01

"Piu-Piu, Frajola, Tom e Jerry e Pernalonga já não reinam absolutos. Estão sendo perseguidos por uma nova e extravagante geração de personagens. Os ídolos deste início de milênio não têm as cores e os traços uniformes de antigamente e já não vivem histórias repetitivas e maniqueístas. A luta entre o bem e o mal ganhou em complexidade e se aproximou do dia-a-dia das crianças. Agitadas, as estrelas do momento gostam de esportes radicais, falam de reciclagem de lixo, freqüentam a escola, têm pais que trabalham fora, usam aparelho nos dentes, adoram videogame e brigam com os irmãos.

A identificação com o universo das crianças é a principal arma dos canais infantis para conquistar telespectadores. Em tempos de concorrência acirrada, Cartoon Network e Nickelodeon, transmitidos pelas operadoras NET e TVA, decidiram ouvir a garotada para saber o que ela espera encontrar na TV. Os executivos dos canais afirmam que seu público quer ver nos desenhos questões e situações com que deparam diariamente. Pesquisas indicam a linha temática e visual das produções. A mais recente delas, realizada pelo Cartoon, revelou, entre outros dados, quais as gírias mais usadas pelas crianças, quanto tempo gastam navegando na internet e seus programas preferidos.

A sensação do momento é um trio de meninas nascidas de uma experiência genética (quem com mais de 15 anos ouviu falar em genética num desenho animado?). As irmãs Lindinha, Docinho e Florzinha, mais conhecidas por Meninas Superpoderosas, se dividem entre a luta contra o mal e as preocupações típicas de qualquer criança, como dar conta da lição de casa. Além delas, CatDog, um cachorro e um gato que dividem o mesmo corpo, os irmãos A Vaca e o Frango, o pré-adolescente Doug, os bebês da turma dos Anjinhos, os amigos Du, Dudu e Edu, os irmãos Dexter e Dee Dee e o atrapalhado Johnny Bravo conquistam fãs na mesma velocidade de videoclipe com que são editados.

A estratégia rendeu bons frutos, especialmente ao Cartoon Network. A primeira medição de audiência na TV por assinatura feita pelo Ibope indica o canal como um dos mais vistos da TV paga. Mais significativo ainda é o índice que registra o tempo de permanência do telespectador no canal – e aí os infantis lideram, superando até os canais de filmes.

Os estúdios Disney, referência mundial quando se pensa em animação, estão atentos às mudanças. Lançado no início de abril, o Disney Channel, transmitido pela NeoTV (cooperativa de operadoras independentes) e pela TVA, traz em sua programação desenhos que incorporam situações vividas pelas crianças, como Ana Pimentinha, atormentada pelos problemas da pré-adolescência.

A nova geração também ganha território na TV aberta. Na Record, A Vaca e o Frango e Johnny Bravo podem ser vistos diariamente. A Globo fechou um contrato com o Nickelodeon e vai exibir episódios de Bob Esponja, CatDog e Os Thornberrys. O SBT aposta nas aventuras da turma dos Anjinhos.

Engana-se quem pensa que a garotada fica passiva diante da TV. Objeto de estudo do Laboratório de Pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação, da Universidade de São Paulo, o desenho animado é visto não só como diversão. A psicóloga Mílada Gonçalves explica que as animações estimulam a imaginação e contribuem para o desenvolvimento mental das crianças. Aluno da 5a série de um colégio de classe média de São Paulo, Júlio Belintane, de 10 anos, tem observado a diferença. ?Os desenhos mais novos falam de assuntos que estão na moda, esportes radicais e ecologia.? Na lista dos cinco mais de Júlio se misturam representantes das duas gerações: Tom e Jerry e Papa-Léguas disputam com os novatos Rocket Power, Du, Dudu e Edu e Mike, Lu e Og.

Apesar da concorrência, a velha-guarda não deverá se aposentar tão cedo. No canal Disney, o Ursinho Puff, Mickey Mouse e os 101 Dálmatas têm espaço garantido e continuam fazendo sucesso. No início de julho estréia o canal Boomerang, do grupo Turner. Na programação, apenas os clássicos criados pela dupla Hanna e Barbera. Para agradar a todas as idades."

FENÔMENO NETINHO

"Esmola eletrônica", copyright Veja , 2/05/01

"Uma das brincadeiras favoritas do cantor paulistano José de Paula Neto, o Netinho, é dizer que nasceu ?três pês?: preto, pobre e da periferia. Pois é justamente tirando partido de sua origem humilde, e da empatia que ela provoca na platéia, que Netinho triplicou a audiência dominical da Rede Record, de 4 para 13 pontos, no disputadíssimo horário das 13h30 às 15h30. À frente do Domingo da Gente, o ex-pagodeiro do grupo Negritude Júnior ressuscita uma fórmula antiga: a do programa de auditório de vocação assistencialista (assistencialismo existencial, inclusive). Durante as duas horas em que permanece no ar, tudo o que ele faz é resolver os problemas ou satisfazer os sonhos de telespectadores carentes. O quadro de maior sucesso da atração tem o título de A Princesa e o Plebeu. Netinho enverga um uniforme de motorista particular, senta-se ao volante de uma limusine e põe, no banco de trás, uma fã. Ao longo de cinqüenta minutos, a platéia vê a moça ser mimada, maquiada e penteada até virar, bem, uma princesa. De quebra, realiza-se outro desejo da candidata – uma delas escolheu passear de barco. Não há nada de novo nessa receita. Programas semelhantes, como Boa Noite, Cinderela e Porta da Esperança (ambos apresentados por Silvio Santos), fizeram sucesso em eras remotas. Para que ela dê certo, porém, um ingrediente é fundamental: a identificação do público com o apresentador. E aí o histórico de Netinho conta pontos a seu favor.

O Domingo da Gente, que estreou na Record há um mês e meio, recebe um número espantoso de cartas. São 6.000 por dia, com pedidos que vão de cadeiras de rodas a pagamento de faculdade. A cada semana, apenas doze casos são atendidos – sempre em parceria com empresas à cata de publicidade. Ou seja, a emissora desembolsa pouco para fazer bonito. No início, A Princesa e o Plebeu era quadro estrelado por Netinho no Domingo Legal, do SBT. Seu sucesso era tanto que o nome do pagodeiro ganhou o primeiro lugar disparado quando, há alguns meses, a Record encomendou uma pesquisa sobre qual apresentador negro seria o mais indicado para capitanear um programa dominical.

A mais incomodada com a escalada de Domingo da Gente é a Rede Globo, que viu sua audiência no horário cair 4 pontos. Há duas semanas, Netinho almoçou com um enviado da emissora, encarregado de lhe oferecer um programa aos domingos. A Globo também enfrenta sucessivas perdas de audiência para o SBT nesse dia. Duas novas atrações devem, em breve, vitaminar o combalido Domingão do Faustão. O quadro Baú do Faustão trará imagens dos primeiros anos do programa, além de cenas de Perdidos na Noite, que Fausto Silva fazia na Bandeirantes e na Record. O outro deve se chamar As Panteras da Notícia. Nele, três moças vestidas em roupas sensuais fazem uma reportagem em ritmo de aventura. O ideal para a Globo, contudo, seria colocar no ar um apresentador de perfil popular, como Netinho. Por causa desse assédio, o pagodeiro, que é pai de sete filhos, está sorrindo mais do que nunca. Disposta a segurar o astro da casa, a Record acaba de renegociar seu contrato: entre salário e merchandising, Netinho vai embolsar algo em torno de 200.000 reais por mês."

ARTIGO 222

"Grupo Cisneros lança canal aberto no Brasil", copyright Folha de S. Paulo, 30/04/01

"Entra no ar no Brasil ainda nesta semana o canal musical Muchmusic, do grupo venezuelano Cisneros. O canal (que já existe na TV paga) será veiculado em TV aberta, na faixa de UHF. Pretende se tornar nacional e concorrer diretamente com a MTV.

O grupo Cisneros tem emissoras de TV na Venezuela, Chile e Estados Unidos (é sócio da hispânica Univision). É acionista também da DirecTV na América Latina e da America Online. Também é programador dos canais pagos Playboy, Infinito, Locomotion e Muchmusic, entre outros.

O grupo não esconde interesse em ter emissoras abertas no Brasil. Já chegou a negociar com o SBT. Mas a legislação brasileira ainda impede sócios estrangeiros em emissoras de rádio e TV.

A saída foi tentar parceria com donos de TVs em UHF, sem alterar juridicamente a propriedade da concessão, que continua com o sócio nacional.

Alfredo Richard, executivo do grupo Cisneros ouvido pela Folha, não revelou quem é o parceiro e em que cidade fica o canal. Há duas hipóteses plausíveis sobre o eventual parceiro: a rádio Transamérica, dona da TV Exclusiva, canal 59 de Curitiba, e a CBI, canal 16 de São Paulo.

Inicialmente, a programação do Muchmusic aberto será a mesma do canal veiculado pela DirecTV, gerada na Argentina. Mas gradualmente a TV irá abrasileirar, com música e VJs nacionais.

Inclusão O SBT e a Microsoft anunciam nesta quinta-feira parceria para a venda de microcomputadores a ?preços populares?. Segundo Silvio Santos no ?Show do Milhão? da última quinta, PCs serão oferecidos em 36 parcelas de R$ 91. Em texto enviado a jornalistas na sexta-feira, as duas empresas anunciam que visam reduzir a ?exclusão digital no Brasil?.

Sinal Os acionistas da HBO Brasil, programadora dos canais pagos HBO e Sony, entre outros, discutem nesta semana, em Buenos Aires, a viabilidade do lançamento de um terceiro canal HBO no país.

Oráculo Comentário que circula na Globo: as chances de ?A Grande Família? sair do ar são muito maiores do que as de ?Sociedade Anônima?, de Cazé. Ambos vêm perdendo no Ibope para o SBT, mas a atração de Cazé é tida pela emissora como ?cult?.

Plantão Jô Soares vai trabalhar neste feriado. Os programas desta semana serão gravados entre hoje e quarta-feira.

Telão Dirigida ao público feminino, a Rede Mulher exibe no próximo sábado os primeiros filmes de sua história: ?A Excêntrica Família de Antônia? e ?JFK – A Pergunta que Não Quer Calar?."

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