Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Guilherme Barros

GRAMPOS

"A anatomia de um grampo", copyright Folha de S. Paulo, 6/07/01

"Eu fui vítima de um grampo.

É comum que os leitores de jornais e revistas acordem com um prato à disposição. O grampo de uma conversa de ministro, parlamentar ou empresário metido numa maracutaia. Adiante, vai uma novidade, um grampo que o leitor não conhece e que é divulgado por um dos personagens que nele são mencionados. O personagem sou eu.

Meu nome foi mencionado numa conversa telefônica entre Paulo Marinho, ex-funcionário do Banco Opportunity e hoje funcionário do ?Jornal do Brasil?, e seu patrão, o empresário Nelson Tanure, dono do ?JB?. Essa conversa ocorreu provavelmente no dia 23 de abril, uma segunda-feira, e provavelmente também num dos telefones do escritório de Tanure.

Eu não tive acesso à gravação, e sim à transcrição do grampo. Como se trata de uma conversa que não ouvi e da qual não participei, procurei obter de um dos interlocutores -Paulo Marinho- a confirmação de seu conteúdo. Na segunda-feira passada, ele não negou a veracidade da conversa.

Primeiro, os fatos:

Segunda-feira, dia 23 de abril:

Numa conversa telefônica com Paulo Marinho, ele me informou que Daniel Dantas, do Banco Opportunity, estava metido numa briga com os seus sócios argentinos no Metrô do Rio. Em razão dessa briga, os argentinos estariam vendendo sua parte na empresa (Paulo Marinho confirmou-me na segunda feira desta semana que narrou tanto a saída dos argentinos quanto o desentendimento com o Opportunity).

Pouco depois, no interesse da precisão, procurei checar as informações que recebera. Telefonei para o próprio Daniel Dantas. Ele me confirmou a disposição dos argentinos de vender sua parte no Metrô do Rio, mas negou veementemente a existência de qualquer briga com os sócios. Esclareceu que os argentinos estavam se desfazendo da sociedade por conta da crise na Argentina.

Nessa mesma conversa, Dantas marcou um encontro comigo na Redação da Folha para a quarta-feira, dia 25. Conforme me disse, estava convidado para um almoço no jornal e juntaria os dois compromissos. Eu não sabia do almoço (num telefonema que dei na terça-feira desta semana a Daniel Dantas, ele confirmou a exatidão da minha lembrança do telefonema de abril e ratificou o conteúdo que dele fiz acima).

Após falar com Dantas, ainda no dia 23 de abril, voltei a ligar para Paulo Marinho. Disse-lhe que tinha confirmado com o Opportunity a venda da parte dos argentinos, mas ressalvei que o banco negara a briga entre os sócios. Disse-lhe também que iria encontrar-me com o banqueiro no prédio da Folha quando ele viesse ao almoço do dia 25, e poderia voltar ao assunto.

Importa registrar que a Folha não faz almoços de serviço secretos. Todas as pessoas que a ela são convidadas, bem como seus acompanhantes, têm seu nome registrado na edição do dia seguinte, na coluna Painel.

Depois de ter conversado com Marinho (duas vezes) e com Dantas (uma vez), publiquei a nota no dia seguinte (terça-feira, 24 de abril) àquele em que recebi a informação e véspera do almoço de Dantas na Folha.

Segue a nota:

?Crise na Argentina 1

A crise na Argentina já se reflete nos negócios das empresas de lá no Brasil. A Cometrans, sócia argentina do Opportunity no Metrô do Rio, irá vender sua participação no negócio para reduzir seu endividamento no país de origem.

Crise na Argentina 2

A Cometrans possui 40% na empresa, o Opportunity, 51%, e a Valia (o fundo de pensão dos funcionários da Vale), 9%. A parte da Cometrans pode chegar a valer pouco mais de R$ 30 milhões?.

Disso resulta:

1) Paulo Marinho, pessoa a quem conheço e de quem habitualmente recebia informações, revelou-me que os sócios argentinos do banco Opportunity sairiam do negócio do Metrô do Rio. Ele atribuía essa saída a uma briga;

2) como o meu informante não estava autorizado a falar em nome do Opportunity ou da Cometrans, esclareci a questão com Daniel Dantas;

3) Dantas confirmou a essência da informação que Marinho me deu, mas negou a existência de um conflito entre os acionistas;

4) os leitores da Folha receberam na edição do dia 24 de abril o resultado da minha conversa com Dantas, que de um lado confirmou a saída dos argentinos e de outro atribuiu-lhe outra causa;

5) não há na nota publicada uma só palavra que sugira briga ou conflito entre os sócios. A informação que me foi passada por Paulo Marinho era relevante, porém apenas parcialmente verdadeira.

A seguir, vai a exata e integral transcrição bem-educada do grampo que chegou ao meu conhecimento. Essa transcrição não é um anexo justificativo. É apenas um exemplo da manipulação da boa-fé do público, que é inerente aos grampos.

?Nelson (Tanure): Paulo

Paulo (Marinho): Tudo bem, Nelson? (…)

Paulo: Quem me ligou foi o Guilherme [Barros], para me dizer que ele apurou que de fato o negócio dos argentinos dá dando c… lá no Metrô…

Nelson: (risos)

Paulo: …e que ele até tá dando uma nota sobre isso amanhã…

Nelson: loucura (risos)…

Paulo: …porque, inclusive, com esse negócio dessa crise na Argentina, o grupo argentino tá com a maior dificuldade…

Nelson: jura? (risos)

Paulo: …disse que o negócio tá dando a maior c…, que ele apurou…

Nelson: que irresponsabilidade! (risos)

Paulo: …e vai estar colocando isso amanhã nas páginas, a meu pedido, e que ele vai almoçar quarta-feira na Folha, o Daniel…

Nelson: Ah, é?

Paulo: Tá marcado lá, ele soube, na agenda do Frias, e, como soube que ele vai almoçar lá com o patrão, diz que vai homenageá-lo com essa nota (risos)

Nelson: (risos) É dos bons…

Paulo: Ele opera maravilhosamente bem.

Nelson: Pena que ele não foi para lá [?Jornal do Brasil?]…

Paulo: Pena mesmo.?

Quero deixar claro que repudio completamente todas as ilações feitas a meu respeito por Paulo Marinho. Não passam de total e absoluta leviandade. O que ele quis, na verdade, foi vender uma imagem para Tanure de que teria poder de manipulação sobre a mídia. Nunca, no meu caso, nem ele nem outra fonte jamais tiveram ou terão esse poder."

"Grampo", copyright Folha de S. Paulo, 7/07/01

"Conforme informei ao sr. Bernardo Ajzenberg, ombudsman da Folha, venho corrigir a declaração atribuída a mim pelo jornalista Guilherme Barros no seu artigo ?A anatomia de um grampo? (Dinheiro, pág. B2, 6/7). Nego que tenha confirmado a transcrição dos diálogos publicados no artigo. Confirmo que dei ao jornalista Guilherme Barros a informação sobre a existência de disputa entre o grupo Opportunity e os sócios argentinos no Metrô do Rio e que fui informado pelo jornalista de que o sr. Dantas iria visitar a Folha no dia seguinte ao nosso telefonema.? (Paulo Marinho, Rio de Janeiro, RJ)


Reposta do jornalista Guilherme Barros, editor do ?Painel S.A.? – Paulo Marinho não negou o diálogo, conforme escrevi no artigo. Li a transcrição do grampo e ele me disse que, embora não pudesse se lembrar das palavras exatas, o teor da conversa com o empresário Nelson Tanure era aquele mesmo. Tanto não negou que lhe perguntei como eu justificaria na Folha aquelas declarações e ele me respondeu da seguinte forma: ?Diga que foi uma leviandade da minha parte?."

"Veja o conteúdo do iGpapo com Ricardo Boechat",
copyright Último Segundo, 6/07/01

"Veja a edição do bate-papo com o jornalista Ricardo Boechat, que participou do chat do iG nesta sexta-feira:

Leao Serva fala para todos: Pedimos algumas perguntas de colaboradores do Último Segundo. Alberto Dines pergunta: O Globo insistiu em dizer que tinha dado a você o direito de resposta. Isso é verdade? Conte o que houve.

Ricardo Boechat fala para todos: Boa tarde a todos!

Fátima fala para todos: Boa tarde a todos. Sou jornalista e vi Boechat no Observatório da Imprensa declarando que qualquer jornalista que dá furos age como ele, trocando favores, digamos assim, com as fontes. O que eu achei estranho foi o silêncio que seguiu dos órgãos de imprensa. Nenhuma matéria, nenhum editorial sobre a ética da imprensa. Boechat, por que é que está todo mundo se fingindo de morto em relação a esse assunto?

Ricardo Boechat fala para todos: nas páginas do jornal,os próprios leitores puderem VER que eu não me manifestei. Quanto a qualquer explicação que o Globo tenha me solicitado, isso não ocorreu.

andre fala para todos: Boechat, você está no Estadão? Continua no RJ ou se muda pra Sampa?

Ricardo Boechat fala para todos: … O Globo só fez contato comigo, depois da reportagem da Veja, no domingo às 17h30 para comunicar-me, através, de sue editor chefe, Ali Kamel, em minha casa, que eu estava demitido.

Ricardo Boechat fala para todos: … O Globo só fez contato comigo, depois da reportagem da Veja, no domingo às 17h30 para comunicar-me, através, de sue editor chefe, Ali Kamel, em minha casa, que eu estava demitido.

Emma : Boechat, o que você achou do tratamento que você recebeu do Globo, depois de 30 anos de trabalho na redação?

Ricardo Boechat fala para todos: Fátima, ninguém está se fingindo de morto diante desse episódio. A imprensa tem tratado do assunto e o próprio Globo o fez duas vezes na semana passada e nesta. Na primeira, publicando o artigo de um veterinário no qual eu fui comparado ao juiz Lalau, ao banqueiro Cacciola e a outros personagens envolvidos em escândalos públicos. Depois, um artigo do Luiz Garcia, chefe dos editorialistas do Globo, em que ele também teceu considerações a respeito do assunto. Quero enfatizar que a única pessoa que ainda não pôde ter a chance de se expressar no próprio Globo fui eu.

qpwoei fala para Ricardo Boechat: Você acha que é ético mostrar a matéria para a fonte antes de publicar?

Ricardo Boechat fala para todos: André, não estou no Estadão, onde já trabalhei nos anos oitenta e por onde ganhei meu primeiro prêmio Esso, nem em nenhum outro veículo. Irei para onde me oferecerem a melhor oportunidade de fazer o meu trabalho. Naturalmente, estou mais vinculado ao Rio, por razões profissionais e familiares, do que a São Paulo. Mas de amigos paulistas recebi incontáveis manifestações de solidariedade. Vou te contar aqui uma novidade: terça-feira estarei por aí para conversar sobre uma possível participação minha num jornal de televisão. vamos ver se dá tudo certo

Ricardo Boechat fala para todos: qpwoei, acho que ninguém além do repórter pode determinar a forma com que se dá a relação com a fonte. Esse é um convívio soberano entre o jornalista e o personagem que lhe vai fornecer a notícia. mostrar matéria para a fonte é algo corriqueiro e recomendado até por alguns manuais de redação, creio que, inclusive, o do Globo. Eu nesse caso li a matéria que ia publicar depois de tê-la enviado para a redação. Assim fiz para que minha fonte soubesse do texto e fizesse eventuais correções ou acréscimos. não há jornalista que já não tenha feito a mesma coisa. A tentativa de tratar esse detalhe como algo relevante é mais um dos muitos absurdos de todo este episódio.

questionador fala para Ricardo Boechat: gostaria de saber até que ponto esta troca de favores pode ferir a ética? até porque favor é uma coisa muito ampla, não?

nandop fala para todos: boechat: o q mais lhe desagradou desde a reportagem da Veja até agora?

Ricardo Boechat fala para questionador: Que favor a Veja me atribuiu ter trocado com a minha fonte? Não troquei favor nenhum…

Ricardo Boechat fala para questionador: O que a Veja mostrou foi a fonte me fornecendo uma noticia verdadeira, e os fatos confirmaram e que repercutiu nos outros jornais nos dias seguintes

Ricardo Boechat fala para questionador: Não conheço fonte que de noticia contra seus próprios interesses

Ricardo Boechat fala para questionador: Nem fonte que ligue espontaneamente pra qualquer jornalista para conspirar contra a si mesma.

Ricardo Boechat fala para nandop: A reportagem da Veja cometeu todos os golpes baixos que a pior imprensa pode cometer.

Ricardo Boechat fala para nandop: Usou material obtido de forma criminosa, aceitou esse material para favorecer a um grupo empresarial expondo apenas métodos e conspirações do grupo adversário ao de sua fonte, editou a parte relativa a mim para produzir os efeitos de um escândalo…

Ricardo Boechat fala para nandop: … ignorou a entrevista que um reporter da revista fez comigo por quase 1 hora, e o fato de que todo o dialogo reproduzido resultou numa notica verdadeira.

17:39:25 – josedelima fala para todos: trabalhando tanto tempo no globo, você. realmente se sentia um jornalista ? independente? ou um mero subserviente do sistema

Ricardo Boechat fala para nandop: A Veja atuou exclusivamente para apresentar-me como criminoso , como se algo do que ela própria apresentou pudesse justificar esse tratamento.

gian fala para Ricardo Boechat: de qual emissora é o telejornal?

Ricardo Boechat fala para marina: Eu nao quero discutir em publico a conduta do Globo.

Renata fala para todos: ah, você não vai querer que a gente morra de curiosidade e espere até terça? conte-nos agora com quem vai falar!

Ricardo Boechat fala para marina: Os 30 anos que passei ali impõe o dever de respeita-lo

Ricardo Boechat fala para marina: Cabe ao Globo explicar as razões da sumaria demissão encerrou 3 décadas de serviço por mim prestados ao jornal.

Woodstein fala para todos: Ricardo, você já fez alguma vez uma matéria errada baseada em informações de suas fontes?

josedelima fala para todos: ricardo, como diria o saudoso tasso de castro: vc foi vítima da REVEJA

Ricardo Boechat fala para todos: Eu lamento mas ainda estou conversando com uma emissora de São Paulo e não quero dar como concluídas negociações que ainda estão em curso.

Ricardo Boechat fala para josedelima: Eu gostaria que alguém apontasse em todos os anos em que trabalhei no O Globo uma única noticia minha que pudesse ser identificada como ?subserviência ao sistema?.

Ricardo Boechat fala para josedelima: O GLobo sempre respeitou a independência necessária ao trabalho de seus colunistas.

Ricardo Boechat fala para josedelima: Claro que ouve divergências em algumas ocasiões, mas sempre prevaleceu o respeito profissional.

Ricardo Boechat : Woodstein, claro, muitas, qualquer jornalista que faça uma coluna de noticias com 18, 20 notas por dia está sujeito a erros.

Ricardo Boechat : Woodstein, O que lhe cabe nestes casos é corrigir-se de forma clara e rápida.

Leao Serva fala para todos: Boechat: E então, você alguma vez usou gravações ilegais para obter informações?

Ricardo Boechat : Woodstein, fiz isso sempre que constatei o meu erro

Ricardo Boechat fala para Leao Serva: Não, este tipo de material só chegou a mim uma vez, registrando uma conversa do juiz Nicolau num restaurante em Brasília.

Ricardo Boechat fala para Leao Serva: As informações ali reveladas orientaram apurações que eu fiz nos dias seguintes.

Ricardo Boechat fala para Leao Serva: Mas o conteúdo da fita não foi divulgado por mim.

questionador fala para Ricardo Boechat: a revelação da nota da Heloísa Helena não foi jornalismo da pior espécie como você mesmo mencionou agora? Que provas você tem? Você viu a lista? Se viu, por que não divulgou?

Ricardo Boechat fala para questionador: Alem de mim mesmo, não creio que ninguém tenha chorado por minha demissão.

Ricardo Boechat fala para questionador: Nem encaro como ?escândalo? o debate que se seguiu a ela.

Ricardo Boechat fala para questionador: É claro que as circunstancias do meu caso são mais explosivas que as que levaram a lamentável demissão de meu amigo Marceu Vieira do JB.

Ricardo Boechat fala para Emma: Não, mas a Veja usou o meu dialogo com a minha fonte para dar a matéria a conotação de escândalo que serviu aos interesses ainda não explicados da fonte da revista.

Ricardo Boechat : Marco Nogueira, eu não sou escritor. E tenho péssima memória. Não acho que esse episódio de hipocrisia da Veja mereça nada além do julgamento a que ela já esta sendo submetida pelos próprios jornalistas.

Ricardo Boechat : LucianoRJ, Eu espero que sim, só quero continuar fazendo o meu trabalho.

Ricardo Boechat fala para todos: Luciano RJ, que é a minha única fonte de sobrevivência.

Ricardo Boechat fala para todos: : Eu queria agradecer aos usuários do iG pelo interesse em mim e nas lições que este caso está produzindo. Eu registrei no próprio iG 2 endereços que são boechatcolunista@ig.com.br e chernenco@ig.com.br através dos quais responderei a todos irem conversar comigo e que não puderam ser atendidos neste bate-papo.

Ricardo Boechat fala para todos: Peço apenas que me dêem o tempo necessário para fazê-lo, muito obrigado a todos."

    
    
                     

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