Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

IA

PRÊMIO ESSO

"O melhor do telejornalismo no Prêmio Esso", copyright Jornal da Tarde, 27/11/01

"Jornalistas costumam dizer que a miséria é fotogênica. É uma maneira meio cínica de afirmar que ela gera imagens emocionantes. O que contribui para a excelência das fotos da necessidade, o que lhes dá sua inegável força, é a capacidade que têm de mexer com o sentimento universal de culpa. Uma acusação muda vem implícita no significado das fotos de fome, seca, miséria, epidemias, migrações: isso existe e todos nós, humanos, permitimos que isso exista.

O jornalismo brasileiro de televisão consegue seus melhores momentos com imagens da necessidade. É o que se pode concluir do balanço dos trabalhos submetidos neste ano ao primeiro Prêmio Esso Especial de Telejornalismo. Dezenove entre 36 concorrentes – mais da metade – tinham nos problemas da desigualdade social seu enfoque principal. É bom ter em mente que esse lote de trabalhos foi o que as equipes de telejornalismo e as emissoras consideraram relevante para submeter à disputa de um prêmio nacional de importância, como é o Prêmio Esso; eles mesmos os garimparam entre todos os trabalhos jornalísticos que exibiram no período de um ano, nas áreas de Geral, Esportes, Cultura, Ciência etc, sem restrições dos patrocinadores. Não é curioso? São os próprios jornalistas que consideram esses os trabalhos mais importantes que fizeram no ano.

Apenas uma dentre as 19 reportagens que tratam de carências sociais foi incluída, pela comissão de julgamento, entre as três que vão disputar o prêmio final, e nem foi daquelas que tratam da carência social de maneira ‘pura’, mas de uma das suas conseqüências, o comércio de drogas.

Os finalistas são: ‘Recontando os mortos da repressão’, exibido no Jornal Nacional (Globo), trabalho coordenado pelo repórter Caco Barcellos; ‘Feira de drogas’, também exibido no Jornal Nacional, realizado por Tim Lopes, Cristina Guimarães, Tyndaro Menezes, Flávio Fachel e Renata Lyra; e finalmente ‘O Brasil sem sigilo’, exibido no Jornal da Band (Rede Bandeirantes de Televisão), reportagem de Sandro Barboza. Os leitores/telespectadores mais atentos hão de se lembrar das matérias e de que todas são de denúncia.

A comissão julgadora (jornalista e acadêmico Arnaldo Niskier, jornalista Márcia Peltier, jornalista e editor Roberto Feith, jornalista e escritor Cláudio Bojunga e eu) não teve dificuldades para chegar a essas indicações, após três rodadas de votação. A mesma comissão escolhe o vencedor final, que será conhecido no dia 18 de dezembro.

O nível dos trabalhos, de UM modo geral, foi muito bom. Quem dera fosse essa a média de qualidade daquilo que as tevês abertas exibem diariamente.

Burca

A Rede Globo mostrou, no Bom Dia Brasil de ontem, bonitas imagens de mulheres do Afeganistão com os rostos descobertos, livres da burca. Belos rostos, olhos impressionantes. Não se negam nem se oferecem: olham, sustentam o olhar. Nos comentários, Leilane Neubart e Renato Machado acentuaram a liberdade de ser, demonstrada naqueles olhares, e a perspectiva de vida nova para as mulheres do Afeganistão com a dispensa da burca.

Em parte é verdade. Vale para as mulheres de algumas regiões do país, principalmente do Norte. Mas uma informação importante está faltando em todas as reportagens e comentários: aquela camuflagem de mulher, a burca, não foi inventada pelos talibans. Existe há séculos nas comunidades da etnia pashtum. Os jornalistas que cobrem a guerra não se perguntam, quando encontram mulheres usando ainda a burca nas regiões ‘libertadas’: por que continuam a usá-la? Os repórteres não buscam no passado a explicação.

Apresentadores e comentaristas também não se perguntam. O fato mais ostensivo, a ‘libertação’, ocupa todas as preocupações. Quando os talibans (de grande maioria pashtum, ignorantes, iletrados, fundamentalistas) emergiram como conquistadores dentre as várias milícias armadas que derrotaram os russos no Afeganistão, impuseram esse hábito às mulheres do Norte, onde está Cabul. Estas, sim, foram agora libertadas da burca. As outras seguem seu costume, ao qual só renunciarão se a história torná-lo dispensável. É preciso saber que a cultura que gerou o Taliban continua seu ciclo."

PUBLICIDADE

"Anúncios na tevê, só para quem pode muito", copyright Jornal da Tarde, 1/12/01

"Já repararam como diminuiu a quantidade de anúncios de varejo na televisão? Repararam que não tem mais leites, margarinas, temperos, sacolões, produtos de limpeza? Lançamentos imobiliários, alguém tem visto? E mesmo os grandes anunciantes – bancos, automóveis, bebidas, combustíveis – estão puxando a mão para trás, já repararam? Fazem o lançamento dos novos produtos e depois ficam regulando verbas para a sustentação. Até cota de Copa do Mundo está difícil de vender. Por que tudo isso? O preço. Anunciar na tevê está caríssimo. Disse o especialista Meyer Cohen, publicitário, ao jornal Gazeta Mercantil ontem: ‘O mercado de mídia aberta ficou muito caro e poucos anunciantes dispõem de verbas para sustentar quatro meses de anúncios no ar.’

Além de caros (problema das emissoras), podemos dizer que a qualidade caiu (problema dos criadores). Até a Sukita, que vinha apresentando uma série de muito charme, em estilo de novelinha, mostra esgotamento do tema, com um comercial em que falta lógica no enredo. Aquele comercial do cágado que faz embaixadas com latinha de cerveja já encheu, mas o anunciante insiste, alonga artificialmente a série. Falta sutileza no final daquele comercial do rapaz que controla dispositivos do carro com a ‘força do pensamento positivo’, mas fracassa com a mocinha na cama e ela reclama: ‘Por que você não usa a força do pensamento positivo?’. Não precisava olhar debaixo do lençol, precisava? Aquele da Ford, dos gritos de ‘uau’, tem algo que irrita, talvez seja a própria gritaria, que é o tema da historinha.

Três dos que estão rolando atualmente na tevê me agradam. Um é aquele da jogadora de futebol de praia que bebe um guaraná, ganha o jogo e arranca a blusa na comemoração: tem pique, ação, pouquíssimas palavras e boas imagens. Dois são das sandálias Havaianas. Um com o Luciano Huck, que vai comprar sandálias e encontra uma louraça pedindo o número 42. Ele: ‘Tudo isso?’ Ela: ‘É para o meu namorado’. Ele pede um 37. Ela: ‘É para a sua namorada?’ Ele, tristonho: ‘Não, é pra mim mesmo.’ Historinha gostosa. Outro é o comercial com a Patrícia Pilar, que nega ser Patrícia Pilar, enquanto o vendedor vai dizendo ‘pra Patrícia Pilar é de graça’. Ela acaba escolhendo um par de havaianas e o vendedor manda-a passar no caixa. Ela: ‘Ah, mas você não disse que para a Patrícia Pilar é de graça?’ Ele: ‘Ah, mas você não disse que não é a Patrícia Pilar?’ Outra historinha gostosa, sem gritaria, com humor e bom texto.

Erótica

O canal Playboy tem divulgado que a ‘novela’ Latin Lover, cujo segundo capítulo vai ao ar neste domingo, é a primeira novela erótica do mundo. Talvez seja a primeira latina, com atores latinos (produção da Televisa, da Venevisión e da Globo – México, Venezuela e Brasil), mas não é a primeira do mundo. Na verdade, a ‘novela’ é uma série. O próprio canal Playboy já exibiu, em 1998, um divertido seriado trash, bem lixo, chamado Stardust, deboche em torno de Star Wars e Star Trek. A história girava em torno de um planeta que precisava de sêmen porque os homens de lá, de constituição igual à nossa, tornaram-se estéreis. Decidem colonizar os terráqueos, que se prestam prazerosamente à exploração, com muita transa e aparelhos primários de laboratório trash. Uma sátira gozada.

Copa

Está difícil a Globo achar quem divida com ela o custo de R$ 150 milhões pelo direito de transmitir os jogos da Copa. Quem topar, vai ter de bancar ainda custos de viagem e hospedagem para uma equipe numerosa do outro lado do mundo, Japão e Coréia, além de equipamentos especiais. A Band achou caro entrar com R$ 60 milhões.

Estaremos condenados a Galvão Bueno na Copa de 2002? Poderemos, em último caso, recorrer às tevês de sinal fechado? Seremos extorquidos no pay-per-view? A Globo agüentará o pepino sozinha? A que preço para o anunciante? Vamos aguardar."