Wednesday, 09 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Impunidade e omissão

TIMOR LESTE

Cresce a indisposição entre a União Européia e a Indonésia por causa do assassinato do repórter Sander Thoenes durante a desocupação do Timor Leste em setembro de 1999. "Esta é provavelmente a atrocidade mais bem documentada no Timor, e a que mais claramente demonstra o caráter abusivo das forças armadas indonésias", disse um diplomata europeu.

Segundo relatório do investigador holandês Gerardus Thiry, Thoenes teria sido executado por soldados do batalhão 745 quando passava de motocicleta por uma estrada nas proximidades da capital, Díli. A testemunha Domingus Amaral reconheceu o segundo-tenente Camilo dos Santos como autor dos tiros que mataram Thoenes. Um antigo integrante do batalhão disse que no mesmo dia o general Noer Muis teria exigido "silêncio pelo resto de suas vidas" sobre o fato.

Investigadores indonésios encontraram poucas evidências de que o exército tenha responsabilidade. Eles questionam relatórios holandeses e da ONU. Barman Zahir, porta-voz do procurador-geral, disse que a tendência é que o caso seja arquivado sem julgamento. Acrescenta que o testemunho de Amaral não tem credibilidade porque ele não quer dizer onde mora e porque só quer fazer declarações em seu idioma nativo, o tetum. Ademais, ele estaria distante demais do local do crime para poder ver o que diz ter visto. Para Zahir, Thoenes morreu esfaqueado, o que é contestado pelo coronel australiano Gregory Cavanagh, que fez a autópsia.

Em março, foi criado às pressas em Jacarta um tribunal de direitos humanos para julgar 18 soldados, administradores civis e milicianos. Contudo, segundo diplomatas europeus, ele não traz à tona a responsabilidade dos oficiais nas atrocidades, o que o caso Thoenes inevitavelmente provocaria se fosse julgado devidamente. The Christian Science Monitor [29/4/02] conta que os únicos oficiais indiciados até agora são acusados de não terem contido a violência, e não de a terem planejado ou estimulado.

FILIPINAS

A jornalista filipina Arlyn de la Cruz foi libertada após três meses nas mãos do grupo islâmico Abu Sayyaf. Ela havia conseguido no final de 2001 as primeiras entrevistas com os missionários americanos Martin e Gracia Burnham, até hoje em poder dos rebeldes. Em janeiro, Arlyn desapareceu quando tentava novo contato com os seqüestrados. "Pela graça de Deus, estou em casa. Isto é a resposta a minha oração", comemorou, ao chegar à capital Manila, em 26/4.

Enquanto amigos da repórter afirmam que ela trabalhou arduamente e conseguiu ganhar a confiança do Abu Sayyaf, críticos a acusam de ter feito acordo com o bando para dividirem o dinheiro ganho com entrevistas de seqüestrados. Antes de conseguir a exclusiva com os missionários, Arlyn leiloara a matéria que fez com turistas capturados pelos rebeldes islâmicos num resort em 2000.

A mídia vinha questionando a relação entre as duas partes devido a uma investigação do exército filipino, que encontrara "deslizes éticos" da jornalista em relação ao Abu Sayyaf. "Não sei como podem me acusar de fingir meu próprio seqüestro", rebate Arlyn.

LIBÉRIA

A polícia da Libéria fechou o jornal Analyst, crítico declarado do governo. O chefe de polícia, Paul Mulbah, foi categórico quando perguntado sobre o motivo da medida: "Está fechado e não voltará a ser impresso. É ordem do governo." O ministro da Informação, Reginald Goodridge, disse que não comentaria o assunto "até que fosse investigado". Faltou explicar o que estaria sob investigação.

Stanley Seakor, editor-gerente do jornal, afirma que Mulbah teria dito que o fechamento tem ligação com o estado de emergência declarado em fevereiro pelo presidente Charles Taylor, quando rebeldes, após dois anos de guerra civil, conseguiram chegar às imediações da capital Monróvia. Naquela época, o Analyst teve suas atividades interrompidas por uma semana por criticar o estado de emergência, que continua até hoje.

Na edição de 18/4 saiu matéria na qual o maior astro de futebol da Libéria, George Weah, afirma que não voltará ao país porque Taylor ameaça sua segurança.

A polícia prendeu o advogado Tiawan Gongloe, acusado de chamar Marie Washington, influente política do Partido Patriótico Nacional, do governo, de líder do "esquadrão da tietagem" de Taylor. De acordo com Jonathan Paye-Layleh [AP, 25/4/02], Marie acha que o comentário pode torná-la vulnerável perante oposicionistas.