Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

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MONITOR DA IMPRENSA

CHINA vs. EUA

No dia 1? de abril, um avião de espionagem norte-americano caiu sobre território chinês, matando um piloto oriental. O governo de Jiang Zemin decidiu que os tripulantes norte-americanos do avião EP-3 não deixariam o país enquanto os Estados Unidos não pedissem desculpas pelo incidente. Passados os tempos de Guerra Fria, nada como uma briga diplomática desse porte para acender a imprensa americana.

Mas uma publicação se diferenciou das demais, segundo Tunku Varadarajan [Wall Street Journal, 9/4/01]. Atento à cobertura do tablóide New York Post, do magnata Rupert Murdoch, Varadarajan concluiu o que já previa. Propriedade do investidor que obtém grandes lucros na China, o Post foi a única publicação nacional a não dar destaque ao caso.

Analisando as manchetes e editoriais do tablóide durante os cinco dias do conflito diplomático, o Journal mostrou que o caso foi apresentado de forma praticamente neutra e sem destaque, e inspirou apenas um ou outro cuidadoso editorial. Enquanto isso, The New York Times, The Washington Post e o próprio Wall Street Journal destacavam diariamente e de forma crítica o conflito. Segundo uma fonte anônima da News Corp., proprietária do Post, nenhuma ordem foi dada aos editores e redatores para que pegassem leve com a China; não seria necessário recebê-las.

O condão das sempre destemidas e ásperas matérias de tablóides como o New York Post ficou pequeno diante da realidade.

Egoísmo noticioso

Apenas a CNN transmitiu imagens dos 24 membros da tripulação do EP-3 ingressando no Boeing 737 fretado, em Hainan, ilha do Pacífico onde o avião fez um pouso forçado. Segundo reportagem de Lisa de Moraes [The Washington Post, 12/4/01], a emissora utilizou tecnologias de videofone, com a qual se obtém imagens através de uma câmera tradicional combinada a um telefone via satélite. O milagre da tecnologia provisória foi possível graças a uma bateria de carro escondida em um vão entre os assentos de um local a algumas centenas de metros de distância.

Outras emissoras não ficaram felizes. "A CNN está fazendo um desserviço a milhões de americanos que não têm cabo", disse Rob Zimmerman, porta-voz da Fox News. "Esta é uma crise internacional. É uma vergonha ? e tudo à guisa de competitividade de TV. Em uma situação com essa, a CNN deveria ter transcendido isso."

Eason Jordan, chefe de reportagem da CNN para assuntos de mídia internacional, respondeu com admirável calma que "a CNN tem 630 emissoras afiliadas e todas elas receberam as imagens".

Diversas emissoras pediram à CNN acesso à seqüência para transmitir em seus telejornais de horário nobre. A CNN recusou todos as solicitações.

Lisa Rose Weaver, correspondente da CNN, e a equipe de filmagem que transmitiu as imagens exclusivas ao vivo foram detidos por quase 4 horas pela polícia chinesa no dia 11 de abril, de acordo com informações da CNN (12/4/01).

COBERTURA TENDENCIOSA

Mesmo com a queda das taxas de criminalidade, veículos noticiosos norte-americanos ainda focam jovens latinos e negros que cometem atos de violência, afirma um grupo de estudiosos da mídia da Berkeley Media Studies.

Resultado da cobertura tendenciosa é um público que acredita que o crime de jovens está em ascensão e apóia policiais cujo pensamento se baseia na mesma noção, disse o grupo a Christopher Newton [Associated Press, 10/4/01].

O projeto de pesquisa "Fora de equilíbrio: Juventude, Raça e Criminalidade nas Notícias" examinou a cobertura de veículos em todos os Estados Unidos. Lori Dorfman, uma das autoras, disse que leitores buscam jornais para obter informações precisas, mas no tocante a crimes, juventude e pessoas de cor, só obtêm dados confusos e parciais. As organizações noticiosas responderam que as reportagens exibiam ofensas muitas vezes não-intencionais. "Como em toda companhia privada, há alguns incidentes de racismo, mas o foco em crimes cometidos por jovens deve-se, em partes, ao fenômeno de tiros nas escolas", disse Michael Hamilton, diretor da California Broadcasters Association.

Segundo o estudo, a cobertura de homicídios nos telejornais cresceu 473% de 1990 a 98, enquanto a taxa de homicídios caiu 32,9% durante o mesmo período.

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