Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Investigação empacada e mortes suspeitas

TIM LOPES

Repórteres Sem Fronteiras (*)

Com a morte, em menos de uma semana, de dois suspeitos do assassinato do jornalista Tim Lopes, a organização Repórteres sem Fronteiras declarou-se "preocupada" pelo rumo que estão tomando as investigações. "Sabemos que um dos suspeitos foi morto em uma troca de tiros com a polícia, que tentava prendê-lo, e estamos extremamente preocupados com as denúncias que afirmam que policiais corruptos teriam recebido dinheiro dos assassinos do jornalista", declarou Robert Ménard, secretário-geral de Repórteres sem Fronteiras.

Em uma carta endereçada ao presidente Fernando Henrique Cardoso, a organização pediu que fosse efetuado um inquérito detalhado sobre as circunstâncias da morte dos dois suspeitos, em particular de Maurício de Lima Matias, morto durante um tiroteio com a polícia. "Seria inadmissível que membros da polícia estivessem contribuindo para que esse crime permanecesse impune", acrescentou Robert Ménard, ressaltando que "esse crime hediondo suscitou uma profunda indignação, tanto por parte da sociedade brasileira como da comunidade internacional".

Repórteres sem Fronteiras pediu igualmente para ser informada dos resultados da investigação sobre as acusações de corrupção de membros da polícia por Elias Pereira, chefe do bando que executou o jornalista. Por fim, a organização exigiu que fossem tomadas providências para garantir a segurança dos cinco suspeitos do crime que estão atualmente presos, bem como das testemunhas.

Um dos acusados do assassinato de Tim Lopes, André da Cruz Barbosa, conhecido como "André Capeta", foi morto com um tiro na cabeça em 13 de agosto de 2002. De acordo a polícia, o bandido teria se suicidado. Entretanto, não foi descartada a hipótese de que ele tenha sido morto por uma quadrilha rival ou por um membro de seu próprio bando. Segundo Aldney Zacharias Peixoto, corregedor-geral da Corregedoria Geral Unificada, André Barbosa poderia ter sido considerado como alguém que sabia demais e ter sido executado por policiais corruptos, tradicionalmente pagos pelo próprio bando para assegurar sua proteção.

Em 8 de agosto, outro suspeito da morte do jornalista, Maurício de Lima Matias, tinha sido morto com um tiro quando a polícia tentava prendê-lo no subúrbio de Vigário Geral, zona norte do Rio, onde estava escondido. Ele tinha sido denunciado por outros suspeitos como um dos participantes do assassinato do jornalista e era uma das quatro pessoas procuradas pela polícia.

Segundo a Agence France Presse, a polícia recebeu recentemente uma denúncia anônima que afirmava que Elias Pereira, o "Elias Maluco", chefe da quadrilha de traficantes de droga que executou o jornalista, "teria pagado 600.000 reais a policiais corruptos para que o deixassem tranqüilo". Essa informação foi desmentida por Francisco Bras, comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Por outro lado, Roberto Aguiar, secretário de Segurança Pública do estado, afirmou que é possível que "Elias Maluco" esteja contando com a proteção de alguns policiais corruptos. Cinco policiais estariam sendo atualmente investigados.

Dois suspeitos do assassinato de Tim Lopes continuam sendo procurados pela polícia: "Elias Maluco" e Renato Souza Lopes, o "Ratinho". De acordo com o jornal O Globo, um juiz decretou, em 9 de agosto, a prisão preventiva dos cinco suspeitos que já foram capturados: Elizeu Felício de Souza (o "Zeu"), Angelo Ferreira da Silva (o "Primo"), Reinaldo Amaral de Jesús ("Kadê" ou "Cabê"), Fernando Sátyro da Silva (o "Frei") e Claudino dos Santos Coelho (o "Xuxa"). A decisão foi tomada por solicitação das duas promotoras encarregadas do dossiê, Viviane Tavares Henriques e Patrícia Mothé Glioche, para evitar que os suspeitos fossem postos em liberdade. Os cinco homens são acusados de "roubo", "tráfico de drogas", "homicídios" e "ocultação de cadáver".

Tim Lopes, da TV Globo, foi assassinado na madrugada do dia 3 de junho, quando realizava uma reportagem em uma favela do subúrbio carioca, Vila Cruzeiro, sobre a incitação à prostituição infantil por parte dos traficantes de droga. O jornalista foi identificado pelos traficantes quando filmava com uma microcâmera. Segundo dois dos suspeitos presos, ele foi torturado e morto com uma facada pelo manda-chuva local da droga, "Elias Maluco", e seu corpo foi em seguida queimado. Em 5 de julho, restos humanos encontrados em um cemitério clandestino da favela de Grota (Rio de Janeiro) foram formalmente identificados como sendo de Tim Lopes.

(*) Repórteres sem Fronteiras defende os jornalistas presos e a liberdade de imprensa no mundo todo, isto é, o direito de informar e de ser informado, de acordo com o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Repórteres sem Fronteiras conta com nove seções nacionais (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Suécia e Suíça), representações em Abidjan, Bangkok, Montréal, Tóquio e Washington, e cerca de cem correspondentes no mundo inteiro.