Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Iolanda Nascimento

EDITORA ABRIL

“Abril volta a ocupar capacidade plena”, copyright Gazeta Mercantil, 10/09/03

“Editora fez parceria com a R. R. Donnelley para vender sua ociosidade e já alcançou o objetivo. A gráfica da Editora Abril, a maior da América Latina, já está operando com capacidade plena. A informação é do diretor-presidente da R. R. Donnelley América Latina, Vladimir Ranevsky. ?Fechamos contratos com duas grandes multinacionais que atuam no Brasil que nos permitiram preencher toda a lotação ociosa da gráfica?, disse Ranevsky, sem revelar o nome das empresas e o valor do negócio por causa de ?cláusulas contratuais? que impedem a divulgação.

Subsidiária da multinacional norte-americana R. R. Donnelley, a empresa é a responsável pela comercialização da capacidade ociosa da gráfica brasileira desde abril deste ano, quando as companhias firmaram parceria comercial por três anos. O acordo envolve ainda um outro contrato, com o mesmo tempo de duração, de consultoria técnica para reduzir custos, melhorar a eficiência e aumentar a produtividade dessa divisão da Abril.

Instalada na capital paulista, a gráfica da editora operava com cerca de 25% de ociosidade. Com os novos contratos e o programa de ganho de produtividade que a Donnelley está implantando, a estimativa da Abril é de que a sua gráfica poderá consumir aproximadamente 130 mil toneladas de papel por ano, dentro do prazo estipulado da parceria. A editora não revela a sua produção atual.

Segmento gráfico atravessa crise

O acordo entre as empresas surgiu da necessidade de se driblar a crise que afeta o mercado editorial, provocada pelos baixos investimentos publicitários realizados nos últimos anos, mas também, afirmou o executivo, pela grande injeção de recursos em ampliação e modernização feita pelas indústrias gráficas do País. Entre 1996 e 2001, disse Ranevsky, o setor investiu cerca de US$ 7 bilhões em ampliação de instalações e aquisição de máquinas e equipamentos. Mas com o baixo volume de negócio, ele calcula que hoje a capacidade ociosa da indústria gráfica nacional já está acima de 50%.

A própria Abril investiu cerca de US$ 30 milhões na sua gráfica entre 1995 e 1999, aplicados na modernização da planta industrial, na compra de equipamentos de última geração e no aumento da capacidade produtiva. Entretanto, utilizava quase todo esse potencial para suprir sua demanda interna. A parceria com a Donnelley faz parte da estratégia da editora de diversificar e tornar a gráfica mais rentável e competitiva no mercado interno e também no exterior.

O Brasil tem cerca de 1,5 mil gráficas. Como mostra levantamento feito com parte dessas empresas pela Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) sobre o desempenho do setor no primeiro trimestre do ano, 43% das companhias utilizaram até 50% da capacidade e 49% operaram entre 51% e 80% da capacidade. A mesma pesquisa informa que 46% das gráficas disseram que não fizeram investimentos no período. ?Além da ocio-sidade, as empresas estão trabalhando com margens baixas de lucro para ter demanda, mas altos custos, que variaram até 28% entre março do ano passado e março deste ano?, disse Ranevsky.

Atrasa a impressão de didáticos

Com duas gráficas no País (em Barueri e Indaiatuba, ambas em São Paulo), a própria Donnelley tem trabalhado com ociosidade entre 25% e 30% no acumulado do ano. ?E os negócios têm sido realizados a um preço baixo?, afirmou Ranevsky. De acordo com o executivo, o setor estima queda de 10% nas vendas este ano. ?Nas livrarias já caíram 30%.? Para piorar, os contratos que o governo deveria fechar com as editoras em relação à edição de livros didáticos para o próximo ano letivo ainda estão em negociação, informou Ranevsky, o que está atrasando a entrada desse material nas gráficas.

A impressão dos livros escolares deveria ter começado em agosto, mas até agora as gráficas estão a espera dessas encomendas, afirmou ele. ?Essa ocupação perdida com as máquinas paradas não dá para ser recuperada?, disse. As empresas não aceitam outros trabalho porque ?faz parte da sazonalidade do negócio? deixar para esse período grande parte da ocupação para a impressão dos didáticos. ?A distribuição para as escolas também sofrerá atraso.?

O setor espera imprimir 160 milhões de livros didáticos neste ano, segundo o executivo. A Donnelley tem 18% de participação no mercado nacional de impressão de livros, no geral. O mercado editorial, onde os livros estão inseridos, representa cerca de 26% do faturamento do setor gráfico. Em 2002, quando a indústria teve receita de US$ 4,2 bilhões, o segmento contribuiu com US$ 1,15 bilhão, mostram dados da Abrigraf. Ranevsky estima que os livros de todas as espécies representam dois terços desse faturamento. O restante da receita é obtido com a comercialização de revistas.

Em comparação com 2001, quando registrou faturamento de US$ 5,2 bilhões, o setor apresentou queda de US$ 1 bilhão na receita do ano passado. O segmento editorial também apontou retração em relação aos períodos comparados. No entanto, a queda foi menor. Em 2001, o segmento alcançou receita de U$ 1,3 bilhão.

Para driblar as perdas, as empresas também buscam espaço em novos mercados e querem reverter a queda que vêm apresentando nos negócios externos. Em 2001, o Brasil exportou US$ 146,2 milhões (FOB) em serviços gráficos e em 2002, US$ 139,1 milhões (FOB).

Empresas buscam exportar mais

Em parceria com a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex), a Abigraf está formando um grupo de empresas interessadas em exportar seus serviços para implementar um plano de busca de oportunidades no exterior. ?O objetivo é prospectar negócios lá fora e distribuir aqui de acordo com a capacidade, em volume e tipo de equipamento, das gráficas que participam do grupo. Vai funcionar como uma espécie de cooperativa?, disse Ranevsky, que também é diretor da Abigraf.

A Donnelley está entre as empresas que buscam mais negócios externos. Ela tem centrado esforços para ampliar as exportações para os Estados Unidos e países da América Latina, para onde já vende. ?O nosso foco é o mercado nacional, mas queremos que a receita externa represente até 5% do faturamento.? Segundo ele, as exportações significam atualmente entre 1% e 2% do total que a empresa fatura no Brasil – R$ 75 milhões, em 2002, somente com a impressão de livros, que totalizam 4,5 milhões de exemplares por mês. Entretanto, ela imprime mais 4 milhões de listas mensais.

A R. R. Donnelley América Latina resulta da fusão da R. R. Donnelley & Sons Company com a chilena Editorial Lord Cochrane, que há cerca de dez anos se tornou parceira das Organizações Globo na gráfica Globo Cochrane, em Vinhedo (SP). A Donnelley atua em 20 países e faturou US$ 5 bilhões em 2002. Ela está presente no Brasil desde 1995.”

 

MERCADO DE TRABALHO

“O primeiro emprego e a sina da recolocação”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 12/09/03

“Quero hoje, neste artigo, me debruçar sobre uma das questões mais aflitivas de nosso universo profissional e que, de resto, é um dos flagelos de nosso tempo: o emprego (ou a falta de).

Costumo dizer que o emprego tradicional, aquele que conheci nos anos 70, com carteira assinada, benefícios, regras definidas (em termos de jornada de trabalho, direitos e deveres etc.) é artigo com prazo de validade vencido. Por paradoxal que possa parecer, enquanto a população economicamente ativa cresce, o emprego formal – aquele que deveria ser a mais importante ferramenta da cidadania e da dignidade humana – diminui (ao menos proporcionalmente) e está cada vez mais difícil e competitivo.

Não bastasse a escassez do emprego formal, temos ainda a nos atormentar a escassez de qualquer emprego, incluindo o informal, tal é a crise que se abateu sobre a mídia brasileira.

No imaginário de qualquer um dos colegas desempregados ou mesmo sub-empregados explode, feito luz de alarme, a malfadada frase ?não há vagas? (igualzinho na construção civil), seguida de uma outra que sempre se lê nas entrelinhas de cada não que recebemos: ?e vê se não amola?.

A solidariedade é questão de princípios e uma prática que deveria ser assumida por todos na luta pela sobrevivência e no jornalismo não deveria ser diferente. Mas como ser solidário se por vezes as próprias pessoas empregadas, que poderiam estar batalhando para ampliar o mercado, estão com suas cabeças a prêmio (tal a oferta de mão-de-obra existente) e – até por isso – muito mais preocupadas em trabalhar para não ser demitidas?

Ademais, não há, efetivamente, vagas em quantidade suficiente para absorver os milhares de jornalistas que hoje estão desempregados ou chegando ao mercado. Salva-nos, em parte, o trabalho free-lancer, que ao menos enseja aos profissionais a possibilidade de algum ganho durante o período de desemprego. Este trabalho está hoje também muito complicado tal a quantidade de colegas desempregados e que buscam essa alternativa de sobrevivência. Mas ele é uma das boas coisas que o jornalismo tem e que a maioria das outras profissões não tem. Sem contar o considerável número de colegas que hoje vive (e muito bem) de frilas, por opção.

Temos, por exemplo, em vários países do mundo a figura do jornalista free-lancer, que trabalha efetivamente como autônomo e por conta própria, que idealiza, prospecta e executa suas próprias matérias e que depois as vende para quem quiser comprar. Esses mesmos profissionais, é claro, também trabalham sob encomenda, fazendo frilas especiais contratados diretamente pelas empresas jornalísticas.

Pois bem, estamos no limiar de uma mudança profunda no relacionamento formal de trabalho no mundo. E isso também já chegou ao Brasil. E muito rapidamente ao jornalismo.

Se compreendermos bem isso, estaremos dando um passo primordial para entender a lógica do mercado e das empresas e outro para ingressarmos (caso dos estagiários e recém-formados) ou voltarmos (caso dos desempregados) ao mercado de trabalho.

A coisa mais segura para alguém não conseguir um emprego hoje é sair enviando currículo por aí a torto e a direito, por e-mail, por carta ou mesmo pessoalmente. Ninguém lê currículo (talvez eu até esteja exagerando, mas é proposital) de quem não conhece. Currículo ajuda a entupir caixas postais e a ocupar espaço nas mesas e são os primeiros descartáveis da lista. Ou então vão para um arquivo (morto), que só mesmo em casos muito excepcionais será ressuscitado.

Uma outra dica para as pessoas que realmente não querem trabalhar é a de sair por aí, batendo de porta em porta, para pedir emprego. Essa é a segunda fórmula imbatível de não encontrar trabalho.

No jornalismo (salvo as exceções que justificam a regra) ninguém dá emprego por currículo ou para quem bate à porta. Quando muito, o fazem por concurso ou concorrência (caso do serviço público e também das contratações via anúncios classificados).

No jornalismo se dá emprego a quem se conhece ou a quem se indica e isso nada tem de anormal ou condenável, pois essa é efetivamente uma atividade em que a confiança no trabalho do outro, da equipe, é essencial. E não sou eu quem fala, mas o mercado que age dessa forma desde que se conhece por gente. As famosas panelinhas, por exemplo, que muitos desdenham, na verdade só são desdenhadas por quem nunca conseguiu entrar numa delas. E o que elas são? São grupos de pessoas que se conhecem, que se respeitam e que sabem do valor profissional que cada um tem. O resto é conversa de quem julga os outros por seus próprios ressentimentos.

Quantos de nós já conseguiu um emprego por currículo ou por bater em alguma porta, ao léu? Dos 40 mil cadastrados no Comunique-se acho que daria para contar nos dedos esses felizardos. Já não há mãos ou dedos suficientes para contar os que não conseguiram o tal emprego, agindo desta forma. São, seguramente, milhares.

Estamos, com quase toda certeza, deixando de ser assalariados com carteira assinada, para sermos profissionais liberais. Aliás, sempre o fomos de cabeça, mas nunca de prática. Para falar com a sociedade, sempre nos comparamos aos médicos e advogados, mas para falar com os patrões nossas referências sempre foram os metalúrgicos, bancários etc. etc. Só que isso agora mudou e mudou não porque quisemos ou por uma conquista nossa, mas sim porque o mercado nos esbofeteou com suas nuances e idiossincrasias. Por encurtar o emprego formal nos empurrou, goela abaixo, a sina dos liberais que tanto queríamos ser, quando decidimos ingressar na profissão, mas que nunca assumimos de corpo e alma, pela comodidade que os salários ofereciam (e ainda oferecem, para os sortudos que conseguiram manter-se empregados).

Temos, na minha opinião, de parar de pensar como empregados e começar a raciocinar e a agir como empreendedores do jornalismo, seja se a nossa opção for por trabalhar como repórteres, chefes de equipe, produção ou mesmo efetivamente como empresários.

Se não há emprego disponível em quantidade suficiente, o que adianta ir lá pedir emprego ou enviar currículo? Se as eventuais vagas surgidas vão ser preenchidas por alguém conhecido ou indicado, o que adiantará também tais práticas? Pura perda de tempo, dinheiro e energia.

Cada um de nós tem de fazer em casa o que faria numa redação, e aí, sim, ir para essa mesma redação, não para pedir ou suplicar um emprego, mas para oferecer uma solução. Temos de construir pautas, imaginar matérias, pensar projetos e levá-los aos eventuais interessados.

Repararam como mudou o contexto? Quem vai a uma redação desse modo não vai pedir nada, mas oferecer algo. Isso mexe com a confiança, com a auto-estima e até com a abertura da porta nas empresas e redações.

Um editor seguramente vai se recusar a receber um, dois, dez, centenas de profissionais que o procurem para pedir emprego, mas não deixará de receber quem quer que seja que lhe procure para oferecer, por exemplo, uma boa pauta.

De pauta em pauta, vamos abrindo as portas, conhecendo as pessoas e, com o tempo, aumentando nossa carteira de trabalho – além de começar a criar até a oportunidade de ficar com o tal emprego fixo, quando ele surgir.

Claro que os percalços fazem parte deste jogo e vai ter aquele caso em que a sua idéia, além de não render o trabalho esperado, seja roubada por alguém. O que provará, ao menos, que era uma boa idéia.

Quero finalizar este artigo, reproduzindo e-mail que recebi da colega Anna Lúcia França, com reflexões nesta mesma direção:

?Eduardo, como você sabe, eu era da Gazeta Mercantil e lá vivi períodos difíceis na primeira greve, em 2001, quando me desliguei da empresa. Essa foi uma daquelas coisas que acontecem na vida da gente que tem o poder de nos afundar ou fazer andar. Comigo, graças a Deus e a minha estrutura de luta, me fez andar. Depois de 13 anos de redação, há dois anos estou em assessoria e aprendendo muito sobre comunicação como um todo. Não só na visão do repórter, mas do estrategista.

Mas, acima de tudo, venho me questionando muito sobre o futuro dessa nossa profissão e é sobre isso que gostaria de lhe falar. Durante a greve pude ver que o jornalista se vê apenas como um intelectual e não como um trabalhador, com direitos e deveres. Por isso, mesmo sem receber, ele prefere continuar exercendo sua intelectualidade. Foi o que aconteceu com muitos amigos que permaneceram naquela redação até agora.

Hoje, entretanto, vivemos um momento que muitos executivos denominam de mudança de paradigma (sempre odiei esse jargão de consultor, mas é isso mesmo). Acho que nossa concepção de trabalho fixo, com carteira assinada, segurança, convênio médico, férias remuneradas, etc, acabou. Temos de nos assumir enquanto profissionais liberais. E o mais importante disso é nos organizar para trabalhar para vários veículos. Nos mesmos moldes em que alguns colunistas já atuam.

Perderemos a pseudo-segurança (pseudo porque eu tinha carteira assinada e brigo na justiça para receber salários), mas ganhamos em agilidade. Perderemos o delicioso convívio em redação, mas seremos donos do nosso tempo e de nossos caminhos. Enfim, ganhos e perdas como em todas as grandes mudanças.

Perdoe-me esta invasão, mas são questionamentos que gostaria de levantar, principalmente com uma pessoa como você, que também se preocupa com o futuro desta nossa atividade.?”

 

PRIMEIRO EMPREGO

“Corruptos hoje têm cara”, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 14/09/03

“Jovens jornalistas em busca do primeiro emprego devem percorrer o caminho das pedras apontado por Paulo Francis: escrever um bom texto e entregá-lo ao editor mais próximo. Conheço vários profissionais em cargos de chefia que não me surpreenderiam se começassem a rasgar dinheiro. Nenhum deles se atreveria a rasgar um bom texto. É mercadoria que vale muito, sobretudo nestes tempos de aguda escassez de talentos.

Um bom texto jornalístico precisa contar com clareza, em Português sem erros, uma história bem apurada. A receita parece simples, mas o trabalho de materializá-la exige uma soma de aptidões que não se assimila com facilidade. Só saberá escrever com alguma elegância, quem tiver lido, e muito, desde a infância. Brasileiros não são muito chegados à leitura. Não conheço um só jornalista competente que não tenha lido, antes dos 17 anos, pelo menos vinte bons romances brasileiros. Não são muitos os jornalistas competentes que conheço.

Escrever bem exige carinho pelo idioma: quem atropela a ortografia ou espanca a gramática não merece ganhar a vida lidando com palavras. Não basta, contudo, colocar em seus devidos lugares o sujeito ou o predicado, conforme acreditava o inesquecível general João Figueiredo. Tampouco deve julgar-se pronto para o mundo das redações quem sabe quando usar o s ou o z. Um bom texto é sempre governado por um raciocínio lógico (algo que faltava, aliás, ao general João Figueiredo).

Raciocinar logicamente, ser elegante no estilo e utilizar a palavra exata são ingredientes que se misturam bem. Feita a fusão de tais virtudes, teremos alguém que é quase um bom jornalista. Quase, porque só podem jogar no primeiro time profissionais que sofrem de curiosidade invencível – uma espécie de pecado original dos repórteres talentosos – e, também, saibam manter-se imparciais em qualquer circunstância. Imparcialidade, insista-se, não é eufemismo destinado a camuflar a ausência de emoções. Trata-se da compulsão para perseguir a verdade.

Gente que goste de ler (e tenha lido a tempo obras fundamentais), escreva com correção, tenha curiosidade pela notícia, ame a verdade e preze a decência não terá problema algum para encontrar trabalho. Para gente assim, existem empregos mesmo em tempos tão difíceis quanto os que enfrentamos.”