Sunday, 06 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Ivan Angelo

BRASIL URGENTE

"Reportagens de impacto abrem as noites da Band", copyright Jornal da Tarde, 4/5/02

"O ?Brasil Urgente?, que Roberto Cabrini apresenta no fim das tardes na Band, mostrou no meio desta semana mais uma reportagem de impacto: as regalias que o ?Rambo? (policial militar filmado torturando trabalhadores nas madrugadas da Favela Naval, atirando e matando um deles, e hoje condenado) tem na prisão.

Mantém atrás dos muros uma oficina mecânica que presta serviços para a corporação, consertando viaturas. 70% da renda fica para a oficina, de ?Rambo? e de um sócio. Podem prestar serviços para particulares, nada baratos. Peças? Viaturas oficiais compram para ele no mercado; se for necessário, ele vai junto na viatura para buscar. ?Não tem problema.?

A PM nega, mas tudo já havia sido mostrado por câmeras secretas na reportagem. ?Rambo?, mais gordo, barriga entornando por cima da calça, estava de novo no foco de uma câmera escondida.

Propinas de até US$ 100 mil

Na semana passada, na mesma linha de reportagens investigativas, Roberto Cabrini já havia feito e apresentado no ?Brasil Urgente? uma reportagem arriscada e estarrecedora sobre uma quadrilha de extorsão, concussão, megacontrabando, proteção a criminosos, formada por um delegado de polícia, um investigador, um empresário, um agente federal. Propinas de até US$ 100 mil. Um doleiro clandestino ameaçado deu as dicas: ?Se eu não denunciar, vou morrer; se denunciar, vou morrer – ou não vou.? O Ministério Público foi incluído na história, quatro importantes policiais já foram afastados. Surgiu uma nova denúncia, um dossiê com outros nomes e informações – e a matéria vai continuar. É esse tipo de jornalismo investigativo que tem feito a diferença do ?Brasil Urgente?.

Preconceito na campanha

Apareceu no ?Bom Dia São Paulo? (Globo) da suave Mariana Godoy uma matéria sobre pedofilia na cidade de Teodoro Sampaio. Há uma campanha preventiva em curso lá. Na imagens, em close, mãos negras de um adulto seguram a mão e alisam o antebraço delicado de um menino branco, depois vemos a mão negra conduzindo o menino branco por uma estreita rua de terra, margeada de mato. Corta, termina o vídeo preventivo. Preconceituoso, como se não existissem tarados brancos.

Parecia uma velha piada

O episódio da semana do ?Brava Gente? parecia uma velha piada de padre. ?A Cidade Que o Diabo Esqueceu?, baseado em conto de Orígenes Lessa, teve roteiro fraco, bom elenco e narrativa óbvia. Um bom momento: o padre clama: ?Quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra?, e logo recebe uma pedrada.

?Os Normais? em ótima safra

De volta das férias há quatro semanas, a série ?Os Normais? (Globo, noites de sexta-feira) tem estado excelente. O episódio da amiga que brigou com o namorado e pediu colo para Vani foi 10; aquele em que o Rui vai para o jogo de pôquer dos homens e tem de levar a Vani foi 9,9; aquele em que o casal procura um sítio para comprar e ainda de quebra tem a ?disk-mãe? foi 10; o de ontem, sobre o clima que surge de repente entre os casais, o chamado ?climão?, eu não havia visto até o momento em que redigia estas notas, mas já havia gostado.

Cena malfeita

Na novela ?Desejos de Mulher?, um personagem sofre um acidente tramado pela mulher. Ela sangra o óleo do freio do carro e dá uma dose forte de soníferos para o marido. Ele já sai grogue, tropeçando, e ainda assim dirige o carro. A seqüência de edição do acidente foi igualmente malfeita. Lembrou aquelas coisas toscas dos anos 70, não é coisa da Globo de hoje. Se não sabe fazer, é melhor não fazer.

Boca cheia

Comer em cena não é para qualquer ator. Todos eles acham que têm de falar com a boca cheia, numa grossura horrorosa. O público vê e acha que é assim que se usa agora…"

 

JORNAL NACIONAL

"Mirian Chrystus analisa Jornal Nacional em tese", copyright Comunique-se, 29/04/02

"A professora de Telejornalismo do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mirian Chrystus, teve sua tese de mestrado, denominada ?À sombra de Heródoto: a linguagem narrativa das matérias edificantes do Jornal Nacional?, aprovada na semana passada. Ela explica que o trabalho buscou como referências duas fontes discursivas que remontam ao século V antes de Cristo, Heródoto e Tucídides, cada um com um discurso específico ?em uma época em que predominava a oralidade?. Segundo Mirian, Heródoto, por volta de 480 A.C ., ?se notabilizou como um contador de histórias, que prendia a atenção dos ouvintes através da emoção?, enquanto que Tucídides, em 460 A, C. , preconizava a isenção narrativa, preferindo assumir uma postura de distanciamento ao narrar um episódio.

?Ao contrapor aqueles textos antigos com as matérias ditas ?edificantes?, divulgadas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, percebi que existia uma função de equilíbrio na postura da emissora, combinando emoção e distanciamento?, comenta a professora, que começou sua carreira como repórter do extinto Jornal de Minas, em 1974 e foi ainda apresentadora das televisões Globo e Manchete. Mirian dedicou-se a este estudo durante três anos e gravou o Jornal Nacional dois meses seguidos, selecionando 20 reportagens, que dividiu em quatro categorias: Sonho Realizado, Reencontro, Gestos de Solidariedade e Enfrentamento no Tempo. Em seguida, mostrou as histórias a uma empregada doméstica, uma professora de 1? e 2? graus, uma empresária e uma jornalista da própria Globo.

Ela observou que as manifestações dos entrevistados demonstraram que as reportagens da Globo, geralmente qualificadas de ?alienantes?, não têm realmente esta característica. ?As pessoas são inteligentes e conhecem a realidade em que vivem. Deparam-se com experiências em que identificam gestos de solidariedade, honestidade e gentileza, e se sentem bem com isto. São um contraponto de leveza a um cotidiano em que predominam a violência e a vida difícil, diariamente enfocada pelos telejornais?, diz Mirian. Ela salienta que seu trabalho, que poderá ser transformado em livro, deve ser considerado ainda como ?uma contribuição, já que é uma análise renovada de um produto daquela emissora?."