Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ivson Alves

MÍDIA EM CRISE

"A NET enroscada", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 18/08/02

"Quem assina a CPM já sabe que a vida da NET, o tentáculo de TV paga das Organizações Globo, é parecida com a das mocinhas dos antigos filmes de terror. Na quarta-feira da semana que passou, por exemplo, as ações da empresa na Nasdaq tomaram uma tunda de 20,29% e baixaram até US$ 1,10, no valor mais baixo desde que a ela passou a ser listada na bolsa mais importante do mundo da área de tecnologia. O caso é muito grave, pois se os papéis caírem a US$ 1, a empresa é convidada a se retirar da festa sob opróbrio, como aconteceu com outra empresa brasileira do ramo, a TV Filme, que depois do trauma até mudou de nome (para Mais TV).

Assim, não foi exatamente uma surpresa que os resultados do segundo trimestre da NET, divulgados também na semana passada, não fossem algo que fizesse os Marinho e seus sócios ficassem com o peito a gargalhar. O prejuízo da empresa deu um salto mortal de R$ 83,3 milhões no primeiro trimestre para R$ 312,7 milhões no período abril/junho, enquanto a receita líqüida baixou de R$ R$ 286,7 milhões para R$ 280,7 milhões, com o EBITDA (resultado antes da dedução dos impostos, da depreciação e da amortização os juros) passando de R$ 70,7 milhões para R$ 68 milhões. Com isso tudo, a dívida da NET cresceu R$ 100 milhões em apenas três meses, passando de R$ 1,5 bilhão para R$ 1,6 bilhão, sendo que desse total, 59,1% é composto por papagaios em dólar.

Agora, por que você sorriu quando falei da tristeza cava dos Marinho e seus sócios com os resultados da NET? Não temos do que rir não. Seremos sócios deles, via BNDES, esqueceu? Pior: a nossa participação será maior do que a prevista. É que com a pouca procura pelos papéis da empresa no processo de capitalização faz com que o Império tenha que aumentar sua participação e, infelizmente, o BNDES vai junto. Assim, a família Marinho, que hoje detém 35,8% do capital total da companhia, ficará com 48,1%, enquanto o BNDESPar, atualmente dono de 8,9% das ações, passará a carregar 22,4%. Para você ver o que o mercado espera da NET é só olhar o comportamento de Tio Bill Gates. A Microsoft, que detinha 7,5% do capital, passará a ter pouco mais de 1%. Há que se lembrar que a entrada da gigante na NET foi saudada na época pelos veículos do Império, especialmente O Globo, como prova do futuro brilhante da operadora. Mantido o raciocínio, o comportamento de Leão da Montanha (?saída pela direita!?) da maior empresas de informática do mundo quer dizer o quê mesmo?

Bem, resultados tão ruins devem crucificar alguém ou algo, certo? E claro que não serão nunca os administradores. Daí, a empresa estar chorando pelo fato de ter gasto R$ 99 milhões em programação, 35,4% de sua receita bruta, devido ao aumento do dólar. A empresa quer discutir uma forma de renegociar os contratos, mas se arrepia toda vez que ouve falar em mudar o conceito de exclusividade de programação, a primeira coisa sobre a qual as programadoras estrangeiras querem conversar na hora de alterar os acertos. A NET não gosta deste papo porque se este conceito cair, ela também teria abrir seus canais exclusivos (Globonews, Multishow, Telecine, GNT e o campeoníssimo SporTV) para outras operadoras com preços de mercado.

Mas, justiça seja feita, a companhia está correndo atrás de outras maneiras de faturar. O Vírtua, por exemplo, apresentou um sistema novo em que os provedores de internet podem compartilhar a compra de backbone, reduzindo os preços para eles, que repassam a redução para os internautas. No sistema, o provedor paga ao Vírtua por tráfego gerado, o que deve aumentar a receita do serviço. Ficaria, porém, mais fácil se ele fosse oferecido em mais locais, pois ainda é restrito a algumas regiões das cidades (a Ilha, por exemplo, tem 200 mil habitantes e não tem acesso ao Vírtua).

Uma outra opção que está sendo estudada, porém, é que seria uma mão na roda para a empresa. Ela disponibilizaria sua rede para empresas de telefonia, compartilhando as receitas. Para a Embratel e a Intelig, por exemplo, seria uma boa, pois as duas operadoras de longa distância vão entrar no serviço local, especialmente corporativo, e poderiam se aproveitar da capilaridade do Vírtua, cuja malha passa em frente de algo em torno de 4,5 milhões de portas nas principais cidades do país. Há ainda a possibilidade, um pouco mais remota, de a própria NET criar uma companhia de telefonia local em parceria com outras telecoms, mas isso deve ficar para depois, se realmente acontecer um dia.

Bom, seja lá o que vier a fazer para resolver seus problemas, a NET tem que fazer rápido. Quanto mais o tempo passa, mais complicada fica a situação. Pode ser que quando o sétimo de cavalaria (a capitalização com ajuda do BNDES) chegar, seja tarde demais para salvar o forte.

Roendo a corda – Nesta semana, o ministro das Comunicações, Juarez Quadros, pretende mandar ao Congresso o projeto de lei regulamentando a entrada do capital estrangeiro nas empresas de comunicação. A consulta pública que terminou na quinta, dia 15, mostrou que os barões da mídia estão a fim de roer a corda do acerto havido para a aprovação da emenda constitucional. Pelo acordo, todas as modificações acionárias da empresas de radiodifusão deveriam passar pelo crivo do Congresso, mas agora os barões querem que isso só aconteça quando houver mudança de controle acionário. Vamos ver se o Minicom entuba o lóbi.

Os ?capos? – Até agora, muitos dos jornalistas que suaram a camisa no finado no. estão a ver navios, não tendo recebido um ceitil do que ficou pendurado quando o site foi à breca. Pior: além do cano, eles passaram nota fiscal e, assim, acabaram pagando imposto sobre um valor que nunca passou por suas contas correntes. Lamentável, né? Pois tem mais. Os ?capos? do jornalismo pátrio que mandavam no site, ao serem encostados na parede e sob ameaça de ter que se explicar na Justiça, dizem que os pobres feitos de otários devem manter o bico fechado, em nome de um projeto com o qual colaboraram. Quando os prejudicados insistem em dizer que vão falar com os homens de toga, ouvem que não seria uma boa idéia. ?O valor é tão pequeno…E uma ação dessas poderia queimar você no mercado…?, dizem os ?homens de honra?.

Duzentos – A Coleguinhas Por Mail está indo bem. Em dois meses e meio, já chegou aos 200 assinantes. Ainda está longe da CPM da outra Era da Coleguinhas, quando tinha mais de 600, mas ainda assim é um bom resultado. Valeu, pessoal!"

 

"Net admite ter ?serviço ruim? e ?deficiências?", copyright Folha de S. Paulo, 23/08/02

"Maior operadora de TV paga do país, com 1,367 milhão de assinantes pagantes, a Net está assumindo publicamente que seus serviços são ?muito ruins? e que tem ?deficiências inaceitáveis?.

Esse mea culpa inédito está sendo veiculado nos chamados canais do assinante (como o 37 em São Paulo) desde 17 de julho.

Na primeira peça, que ficou no ar até o início desta semana, o próprio presidente da empresa, Luiz Antônio Viana, começava assim o discurso (intitulado ?Palavra do Presidente?): ?Quero contar algumas novidades. A primeira delas é que o nosso serviço vai melhorar. Acredite! O nosso serviço vai melhorar. O primeiro passo foi a gente reconhecer que o nosso é muito ruim?.

Em seguida, Viana anunciava a empresa EDS para gerenciar o atendimento ao cliente e a nomeação de um ombudsman. Prometia, em setembro, ?um dos melhores atendimentos do mundo?.

No último dia 6, a EDS assumiu o serviço e o atendimento piorou, devido à mudança brusca. Nesta semana, a Net passou a veicular outro comunicado, em que admite que ainda tem ?deficiências inaceitáveis? e anuncia ?enérgicas providências?. A Net recebe cerca de 1 milhão de telefonemas por mês. Antes da EDS, apenas 50% das ligações eram atendidas antes de 30 segundos de espera. Agora, a EDS terá que elevar esse índice para 70% e atender a pelos menos 92% de todas as ligações."