Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ivson Alves

COLUNISMO

“Colunas? Ai como doem!”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 20/04/03

“Sabe qual o segundo maior medo atávico de um assessor de imprensa? Nota errada em coluna de grande jornal (o primeiro é perder o cliente, o que pode muito bem decorrer do segundo temor). Não é sem razão este terror e basta ver esta nota, que saiu na coluna mais famosa de um ex-grande jornal do Rio, dia 17:

Moleza

A Aneel está preparando portaria dando prazo de 13 anos para que as concessionárias de energia estendam seus serviços a todo o território nacional.

É coisa de pai para filho, principalmente considerando-se que 11 milhões de brasileiros ainda vivem sem luz elétrica.

O Rio tentará antecipar a data para 2006, em proposta que o secretário estadual de Energia, Wagner Victer, apresentará hoje.

Já tinha chamado a atenção dela no blog, onde escrevi o seguinte:

Detalhes: os 13 anos de prazo são para distribuidoras de regiões cuja inclusão elétrica é baixíssima (exemplo: Piauí, onde os domicílios ligados à rede elétrica é de 56%). Para estados com mais de 90% de percentual de ligação ao sistema, o prazo proposto da Aneel é 2007 para a região toda, sendo que em alguns municípios dentro destas regiões desenvolvidas, com mais de 96% de índice de inclusão, o prazo é 2005. Ou seja um ano a menos do que o defendido pelo Estado Rio. Todos estes dados podem ser checados aqui, no site da Aneel.

Imagino a cara dos colegas assessores da Aneel (os quais não tenho a honra de conhecer) ao ver a nota. Devem ter ficado umas araras e pensando porque raios o colunista atacou deste jeito a instituição, sem nem ao menos ter lhe dado a chance de se defender. Creio que posso identificar o motivo básico para este tipo de comportamento onipotente: a idéia que a imprensa é a ?advogada do Povo?, ?a voz dos que não têm voz?, ?o látego que açoita os poderosos? e outras presepadas dessa estirpe.

Como sabe qualquer moleque que estuda em bom colégio de Ensino Médio e presta atenção às aulas, Charles de Secondat, o barão de Montesquieu, desenvolveu a tese de que um sistema de governo perfeito deveria se basear na separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que agiriam de maneira independente e se controlariam entre si de maneira harmônica. Uma ótima idéia, sem dúvida (tão boa que muitos, como Políbio, a tiveram antes de formas um tanto diferentes). O único problema com ela é que não funciona na realidade. Como sabemos muito bem, o Executivo usa a força para exercer o domínio; o Judiciário se torna uma espécie de aristocracia acima do bem e do mal, e o Legislativo se dedica a fazer demagogia.

O que o bom barão não pensou é que, correndo por fora, aparecesse um ?poder? que não precisasse dar, política e institucionalmente, muita satisfação a ninguém. Para se colocar neste confortável não-lugar político, a imprensa (mídia ou seja lá o nome que você queira dar) precisou apenas se arvorar em ?porta-voz do povo?. Não chegou a ser uma tarefa das mais difíceis, já que o Legislativo, que no esquema de Montesquieu era para falar pelo povo (ou o que ele considerava fosse o povo na época dele), passou a cuidar apenas de si mesmo.

Assim, no correr dos anos, a imprensa passou a se dar, aos poucos, a legitimidade de vigiar as atribuições dos poderes políticos. Chegou mesmo, nos últimos tempos, a montar uma teoria de legitimidade, que diz ter ela ?mandato do leitor? porque este compra exemplares na banca ou lhe dá audiência. Uma teoria de pé-quebrado e mal-intencionada pacas que confunde propositalmente uma atividade puramente econômica (a circulação de mercadorias) com uma atividade política (representação).

?E os colunistas dentro disso??, perguntará você. Bem, isso nos remete a questões internas das redações. Como sabe quem trabalha numa, as redações são divididas em castas. Não tão rígidas como as indianas, mas castas assim mesmo: há os que mandam muito; os que mandam menos, mas ainda assim mandam; os que apenas obedecem e os que, por um motivo ou por outro, não mandam, mas também não têm que obedecer a tudo. Os colunistas estão neste último caso. A liberdade deles é uma das maiores dentro de uma redação, em muitos casos, maior mesmo que as dos editores.

O cenário então é esse: pessoas com uma liberdade relativamente ampla dentro de uma instituição que se acha ungida da missão de defender o Povo das maquiavelices dos poderes constituídos. Seria um bom cenário se essas pessoas fossem como os varões de Plutarco. Infelizmente, porém, elas são apenas humanas e por isso tendem a exibir fraquezas humanas. Isso também não seria um problema tão grande se elas também exibissem, em boas doses, algumas das virtudes dos seres humanos, principalmente a diligência e a humildade.

A prática destas duas qualidades, no entanto, não é tão espalhada quanto se desejaria entre os colunistas. Dessa forma, a falta da primeira leva a muitos titulares de colunas a não apurarem com a devida profundidade (que na maior parte das vezes nem é tão grande assim, como no caso em que citei), fazendo com que cometam erros que seriam facilmente evitáveis. Já a falta da segunda faz com que os colunistas de modo geral não admitam aqueles erros e se ressintam profundamente quando criticados, chegando a responder às críticas até de leitores pela própria coluna de uma maneira que beira à falta de educação.

É realmente uma situação complicada para a qual, francamente, não vejo uma solução estrutural. A introdução de ouvidores talvez fosse uma, mas, infelizmente, os jornais brasileiros que utilizam (ou utilizaram) essa possibilidade o fizeram mais com vistas a marcar um gol no marketing institucional e não com o fim de melhorar a qualidade de sua prática diária. Assim, o negócio, creio, é rezar para que os colunistas que mais falham e são mais arrogantes mudem sua maneira de ser, e torcer para que entre os jornalistas que exerçam essa função no futuro o número de pessoas razoáveis seja maioria.

Falando em Cuba… – Bonita a mobilização da mídia e dos intelectuais brasileiros em defesa dos opositores que foram presos por Fidel. Queria aproveitar o momento para sugerir que esta mobilização se amplie, sem precisar sair da ilha caribenha, e abarque os prisioneiros capturados no ataque ao Afeganistão. Eles estão em Guantanamo há mais de um ano, sem poderem receber visitas nem de advogados. Dois deles já morreram assassinados, segundo os médicos que assinaram os atestados de óbito. Como a base militar em que se encontram não pertence a Cuba, mas aos Estados Unidos, os pobres não têm nem um bloguizinho para lembrar deles, quanto mais espaço na mídia daqui.

Alvíssaras – Placar, que tinha se tornado uma revista para ocasiões especiais, voltou a ter periodicidade definida. Agora é mensal e se baseará em assinaturas, numa tentativa da Abril de vencer o problema da grande variação de vendas em bancas. Alguns coleguinhas do Esporte mais antenados com as coisas vêem nesta retomada da Placar o primeiro fruto do Campeonato Brasileiro com nove meses de duração. Seja como for, publicação nova (ou a volta de alguma antiga) é sempre notícia a ser saudada com entusiasmo.”

 

ARBEX JR. vs. ANDRADA E SILVA

“Os filos, os fobos e um tal de jornalismo (I)”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 16/04/03

“Os ataques de 11 de setembro, a caçada a Osama Bin Laden e a invasão do Iraque reavivaram a polarização ideológica que muitos julgaram extinta com a queda do muro de Berlim. Comunismo x Capitalismo? Não. O Governo Bush (?quem não está conosco, está contra nós?) reafirmou o trono do Império em meio à gritaria apavorada dos ?fobos? e aos sussurros embriagados dos ?filos?.

O maniqueísmo ganhou corpo e, ambicioso, tomou a alma dos que deveriam nos explicar, afinal: praticado o ato, quem somos e para onde vamos? Não. Ficamos lá atrás, tentando saber de onde viemos – sim, a Águia derrubou a cortina a bicadas ferozes; e se…, e se…, e se… Alguém já disse que é preciso conhecer o passado para entender o futuro. Talvez o apego exagerado a essa máxima possa justificar a obsessão de demonizar ou, na visão de uma minoria, deificar os Estados Unidos.

Eu, minha camisa e os seus botões puídos não precisamos comprar jornal para concluir que o W Bush é um… Pra que jogar dinheiro na sarjeta? Escrevi ?concluir?, não ?saber?, tampouco ?pensar?. Eis o que falta: uma cobertura jornalística que nos permita refletir, não ?definir? peremptoriamente. Deixo-as, as ?verdades?, aos propagandistas do jornalismo, àqueles que cravam suas bandeiras e seus cavalos de madeira nas redações.

Há os que fazem disso uma profissão de fé. É o caso de José Arbex, o capitão de seu ?Brasil de Fato?. Tenho, verdadeiramente, grande apreço por gente que deseja e inspira um mundo melhor. O Arbex é assim, pugna pela transformação e merece os nossos aplausos. Mas a propaganda ideológica tem lá o seu calcanhar. Por exemplo: no dia 10/04, o diretor editorial da Reuters na América Latina, Mario Andrada e Silva, esteve no ?Papo na Redação?, aqui no Comunique-se. Testemunhamos o seguinte diálogo:

?[16:41:35] – Alexandre Brandão (Estudante – Jornal ZERO) pergunta: O Arbex da Caros Amigos disse que a Reuters no Brasil manda suas notícias primeiro para Miami (para serem aprovadas) e Miami manda o que interessa para os assinantes no Brasil. Isso é verdade?

Mario Andrada e Silva responde: Não é verdade. O Arbex sabe disso. As notícias da Reuters são editadas em SP, Miami (em espanhol), Washington, Nova Iorque, Londres, Singapura, dependendo do horário. As notícias que vão aos assinantes brasileiros saem daqui. Além disso, os assinantes têm códigos e senhas para acessar qualquer notícia. Se a Reuters restringisse o fornecimento de informações, ela estaria atirando na própria cabeça. Quanto mais notícia ela produz e entrega, mais ela ganha.?

Mais adiante:

?[16:46:15] – Eliakim Araujo (Diretor do Direto da Redação) pergunta: Grande Mario, vejo que você está sofrendo um bombardeio pior do que os jornalistas em Bagdá. Você está sem tempo de se desviar das balas. Mas fiquei curioso em saber sua resposta à pergunta do Alexandre Brandão.

Mario Andrada e Silva responde: Acho que ja respondi chefe. O Arbex é artista das polêmicas e por isso um profissional tão respeitado e tão digno. Mesmo assim prefere perder o amigo do que perder a polêmica.?

O que mais me chama a atenção é este trecho da resposta elegante de Mario Andrada e Silva: ?O Arbex é artista das polêmicas e por isso um profissional tão respeitado e tão digno?.

Eis uma das debilidades do jornalismo-propaganda de direita, de esquerda, de centro, de cima, de baixo (voluntária ou involuntariamente): palavra de um por palavra de outro, tendo a acreditar num profissional, digamos, não-alinhado, como o Andrada. É fácil saber o que o Arbex e o Olavo de Carvalho pensam. Difícil é fazer um jornalismo com nuances, como bem disse o Alberto Dines nesta terça-feira (15/04), em seu programa Observatório da Imprensa.

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Doravante, esta Link SP será semanal, com atualização às quartas-feiras.”

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“Andrada, Arbex e a Reuters em Miami”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 17/04/03

“Os jornalistas Mario Andrada e Silva e José Arbex Jr. fazem juras de amizade mas mantêm o que disseram, aqui neste Comunique-se, sobre a tal edição em Miami dos textos latino-americanos da Reuters (leia Os filos, os fobos e um tal de jornalismo (I)). Arbex é editor-chefe do jornal de esquerda Brasil de Fato; Andrada, diretor editorial da agência Reuters na América Latina.

Este colunista recebeu nesta quinta-feira (17/04) um e-mail de Arbex, com cópia para Andrada:

?O meu grande amigo Mario, de memoráveis noitadas em Paris, por quem tenho grande simpatia, declarou publicamente, durante um debate promovido pelos estudantes de comunicação, lá no cinema que fica ao lado do curso Objetivo, que as matérias que ele divulgava no Brasil pela Reuters tinham que ir antes para Miami e só depois seriam divulgadas na rede. Há um monte de testemunhas disso, e ele vai se lembrar do episódio (…)?.

Arbex ressaltou que só aceitaria a publicação de seu esclarecimento se houvesse alguma resposta, algum comentário subseqüente de Andrada sobre o episódio. ?Não quero montar nenhum barulho em cima disso, até porque eu entendo a posição do Mario, que é meu amigo e uma pessoa decente?.

Diz ele, em seguida:

?Aliás, a tua [deste colunista] comparação da minha pessoa com a do Olavo me deixou mais ?chocado? do que a negativa do Mario. É verdade que muitos me criticam por radicalizar conclusões em cima dos fatos que apresento, mas nunca me criticaram por inventar fatos ou por fazer acusações sem citar fontes etc. Olavo é um suposto ?filósofo? que não tem obrigação de comprovar os seus delírios…?

Expliquei-lhe, pois, em algumas linhas, que não o estava comparando a Olavo de Carvalho, cujos métodos pseudo-jornalísticos são notórios. Olavo, aliás, faz-me lembrar a Rota [1? Batalhão de Choque da PM de São Paulo] de alguns anos atrás, aquela que atirava primeiro para depois perguntar. Arbex é de reconhecida seriedade. O problema – respondi-lhe, em outras palavras – é que, como todo engajado, tende a interpretar os fatos para satisfazer a coerência do seu ideário. O que é compreensível. Mas em jornalismo…

Procurei o Andrada. Ele disse que declarou, sim, durante o debate, que os textos em espanhol da Reuters são editados em Miami (as notícias em inglês, em Washington; as matérias em português, em São Paulo). No entanto, o termo ?editar?, garante o jornalista, deve ser compreendido como ?fechar?, burilar (checar, manchetar, etc.). O que não implicaria uma seleção de conteúdo (isso vai, isso não vai). Não existiria censura, portanto. O diretor da agência diz que ele mesmo, um brasileiro, é o responsável final pelas notícias da América Latina. Não haveria sentido fazer essa triagem maligna (o adjetivo é do colunista). Andrada diz que, apesar das pressões, a Reuters é a única agência do mundo que não usa o termo ?terrorista? para denominar os agentes dos atentados de 11 de setembro. Como para a rede Al Qaeda eles são ?mártires?, chamá-los de terroristas refletiria um juízo de valor (negativo). Deu o mesmo exemplo para qualificar os ativistas do IRA. Sobre Arbex, reiterou: ele gosta de polêmica e ?sempre será meu amigo?.”

 

TRANSGÊNICOS NA MÍDIA

“Os trangênicos e a guerra da desinformação”, copyright Revista Galileu, 04/03

“?Eppur si muove? (Mas ela se move) é a frase atribuída a Galileu Galilei (1564-1642), que a teria murmurado após rejeitar publicamente, diante de um tribunal da Inquisição em Roma, em 1633, a sua convicção de que a Terra gira em torno do Sol. A frase inspira esta seção de GALILEU sobre os problemas atuais da ciência brasileira ?

A primeira vítima quando a guerra chega é a verdade.? A frase, dita pelo senador norte-americano Hiram Johnson em 1917, inspirou o título do livro ?A Primeira Vítima?, de 1975, do jornalista australiano Phillip Knightley. Da mesma forma – e apesar dos esforços de uma pequena parte da mídia -, na cobertura da guerra que vem sendo travada entre os fabricantes de alimentos transgênicos e seus opositores, a primeira vítima também vem sendo a verdade e, por extensão, o leitor, que pode ser o futuro consumidor desses produtos, ou que já os vem consumindo involuntariamente.

Dependendo da fonte, o leitor, telespectador ou ouvinte estará convencido de que já está provado que os produtos transgênicos são inofensivos à saúde e ao meio ambiente, ou justamente do contrário; também estará convencido de que o Brasil pode ?perder o bonde da História? para impulsionar sua agricultura e ganhar mercados se não cultivar esses alimentos, ou de que o país poderá se beneficiar da preferência de consumidores europeus que rejeitam essa inovação da genética.

Diversas metáforas e comparações têm sido usadas por ambos os lados: os contrários aos transgênicos sendo mostrados em pé de igualdade àqueles que em 1904 promoveram a grande revolta contra a vacina da varíola no Rio de Janeiro; e os favoráveis a esses alimentos comparados com os pesquisadores otimistas que apoiaram o uso do inseticida DDT, hoje proibido em vários países por seus efeitos danosos à saúde e ao meio ambiente.

Até mesmo alguns participantes de destaque nesse combate têm sido vítimas – e talvez, ao mesmo tempo, beneficiários – dessa desinformação. No último dia 11 de março, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) integrou uma comitiva de cerca de 20 parlamentares gaúchos que se reuniram em Brasília com o ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça.

Perondi afirmou, ao defender a liberação da soja transgênica Roundup Ready, fabricada pela Monsanto, que ?a transgenia traz benefícios à economia e ao meio ambiente, uma vez que não utiliza agrotóxico?. A declaração, colhida pela Agência Brasil, não é verdadeira para o produto em questão, uma vez que se trata de uma variedade desenvolvida especialmente para ser resistente ao herbicida Roundup, da própria Monsanto. Ressalte-se que a reportagem reproduziu a declaração do parlamentar sem apontar o equívoco nela contido.

Segundo pesquisa de opinião pública realizada em dezembro de 2002 pelo Ibope, somente 37% dos brasileiros sabem o que são alimentos transgênicos. Elaborado a pedido de entidades da Campanha por um Brasil Livre de Transgênicos, o estudo aponta que dos entrevistados que afirmaram saber o que são esses produtos, 71% não os consumiriam se pudessem escolher. Esse resultado, que pode ser interpretado como um reforço à tese da proibição do cultivo e do consumo desses alimentos, não deve deixar de ser entendido também como um sinal de que é necessária uma maior conscientização da sociedade.

Outro tema importante que vem sendo atropelado nessa guerra de desinformação é a pesquisa. Se por um lado, a atual proibição dos alimentos transgênicos no Brasil respeita o chamado princípio de precaução com novas tecnologias, ela, por outro lado, tem dificultado também a pesquisa desses produtos em áreas restritas para experimentos. Também vem perdendo espaço o tema do direito do consumidor à rotulagem dos alimentos que incorporam essa tecnologia.

Colocada no olho desse furacão desinformativo, a multinacional Monsanto, de origem norte-americana, tem sido vista por muita gente como a única empresa interessada na liberação de transgênicos. Com isso, têm ficado fora do fogo cruzado outras empresas, como a Basf, Bayer, Dow Agrosciences, Dupont, Syngenta e até mesmo nossa estatal Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cerca de 400 estudos já teriam sido realizados com plantas geneticamente modificadas por todas essas companhias no Brasil, segundo a Monsanto.

Até o momento, ninguém pode acusar genericamente a mídia brasileira – exceto pelos editoriais de muitos veículos – de ser favorável ou contrária a um ou outro lado nessa guerra. Mas pode acusá-la genericamente de superficialidade e até de despreparo. Mas a grande omissão certamente foi do governo federal na gestão anterior, que se esforçou para liberar esses produtos à revelia da opinião das entidades não-governamentais e até de pesquisadores favoráveis a essa nova tecnologia.

Enfim, trata-se de uma guerra de desinformação em um tema extremamente complexo, que envolve aspectos científicos, ambientais, econômicos, sociais e até geopolíticos, que deveriam ser amplamente divulgados e conhecidos pela sociedade. Resta torcermos e nos esforçarmos para que nesse processo a mídia não faça justamente o que Phillip Knightley afirma que ocorre nas coberturas de guerra: o confronto é apresentado como uma luta do Bem contra o Mal e da salvação da humanidade contra o holocausto.”