ELITE SAUDOSA
Cláudia Rodrigues (*)
Pois é, se fosse só o colunismo social a se preocupar com detalhes sobre a vida pessoal e as particularidades de um português coloquial, informal, pouco articulado ou seja o que for, a situação não inspiraria tantos cuidados.
Paira no ar um crescimento da direita.
Ao lado dela, apoiando-a disfarçadamente, e talvez não tão disfarçadamente assim, está uma elite intelectual que sempre se deu bem fingindo se dar mal. Uma elite intelectual que sempre fez vista grossa às necessidades do homem do campo, uma elite intelectual que só enxerga como homem do campo os grandes fazendeiros, e por isso sempre boicotou e assessorou mal os governos nas questões agrícolas e agrárias.
A imprensa já começa a criticar os investimentos no Vale do São Francisco, já se iniciam os boicotes, já começam as piadas com segundas intenções, aquelas que levantam suspeitas sobre as causas próprias do presidente, já que ele é de Pernambuco, um dos estados por onde corre o Rio São Francisco. É uma pena.
Quem assessora esse tipo de questão é intelectual desinformado, invejoso e elitista.
Gente que nunca viu a beleza e as possibilidades de fartura e desenvolvimento que podem vir desse belo rio que corta uma região seca e pobre. No Vale do São Francisco se colhem de abacaxis a uvas. Com água e tecnologia quase tudo é possível. Não há razão alguma, nem mesmo econômica, que impeça esse governo de investir nas populações que estão acima do Trópico de Capricórnio. Está mais do que na hora e pouco importa se essa região sofrida e abandonada por séculos, por todos os governos, é ou não o berço do presidente.
Agora, a propósito das jantas e dos encontros em família entre ministros e o casal presidencial, melhor seria se os próprios colegas, colunistas sociais ou repórteres de outras áreas, se preocupassem em saber o que afinal é melhor para o Brasil.
Lições entediantes
Jantares formais onde todos se comportam sem um pingo de intimidade, vestindo a roupa correta, falando o politicamente correto, o socialmente aceitável, tudo fiscalizado por jornalistas; ou reuniões íntimas sem que os jornalistas tenham acesso?
E até que ponto é bom que jornalistas participem dessas reuniões?
Para especular o que ainda é uma idéia?
Sim, porque nas jantas da Dona Marisa, além de abobrinhas, muito comuns também entre aqueles que se pensam intelectuais, podem surgir e provavelmente surgem idéias. E há infinitamente mais chances de surgir uma boa idéia, e conseqüentemente um plano para executá-la, numa janta informal, sem circunlóquios, do que em jantares formais, que sempre parecem mais do que são e sempre causam um furor maior do que merecem na mídia.
Não é bom que esse governo precise fazer tantas concessões como tem feito, mas com certeza pior seria continuar como estávamos, com o distinto e intelectualíssimo casal FHC.
Agora, se não é bom ter que lidar com as indefensáveis concessões, pior será se o presidente e Dona Marisa aprenderem a fazer o jogo social.
Enquanto houver churrasquinhos e jantas, o governo do Brasil está perto do povo; ainda não foi cooptado pelas entediantes e pouco eficazes lições teóricas dos intelectualóides.
(*) Jornalista
Leia também