FITAS & ROLOS
Tudo indicava que o Jornal do Brasil não embarcaria no conto do grampo. A opção pelo jornalismo de autor sugeria uma rejeição do comodismo fiteiro.
No sábado (12/5), com destaque no alto da primeira página e continuação na segunda, o JB entregou-se à sedução do grampo. Tomou cuidado de ressaltar que a gravação era ilegal, mencionou como testemunha um "pequeno empresário do ramo jornalístico" que teria ouvido a fita, ouviu algumas pessoas citadas (o ex-secretário da Presidência Eduardo Jorge e o lendário advogado Jorge Serpa) mas não chegou à figura principal, Naji Nahas.
Apesar de tanto esforço para diferenciar-se do "grampismo" corriqueiro que apenas transcreve o teor das fitas, a matéria do JB anula-se: admite que o Jorge que levaria o investidor árabe ao presidente da República não era o Eduardo, mas o Serpa; e que a fita pode ter sido editada para obter melhor preço.
Indício de que nem o próprio JB levou muito a sério a grampeada foi a ausência total de repercussões nas edições seguintes (domingo e segunda-feira). De qualquer forma, um grande jornal não pode embarcar na história (mal contada) de um pequeno empresário do ramo jornalístico. Configura uma capitis deminutio, diminuição de autoridade.