Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jim Rutenberg

COBERTURA DE GUERRA

“Silêncio da CNN sobre tortura é criticado”, copyright The New York Times / Último Segundo, 15/04/03

“O recente reconhecimento de Eason Jordan, diretor executivo da CNN, de que reteve algumas declarações da brutalidade de Saddam Hussein para proteger as vidas de fontes iraquianas foi criticado na última segunda-feira.

Diversos professores de jornalismo e comentaristas disseram que Jordan comprometeu a missão jornalística da CNN para que a rede pudesse continuar a reportar a situação no Iraque.

Em um editorial na edição da última sexta-feira do The New York Times, Jordan revelou saber que o regime iraquiano usava torturas e assassinatos, uma informação que ele disse não poder divulgar até a queda de Saddam Hussein. Na última segunda-feira, Jordan disse que a questão não era sobre o acesso à informação, mas sim uma questão de vida e morte.

?É muito simples?, disse. ?Você relata coisas que fazem pessoas morrerem? A resposta é ‘não’?. De acordo com o artigo, a polícia secreta de Saddam sujeitou um cameraman iraquiano da CNN a semanas de sessões de eletrochoque durante a década de 90 enquanto tentava obter a confirmação de que Jordan era membro da CIA. (Jordan considerou a acusação ridícula).

As revelações foram duramente criticadas por comentaristas, tanto liberais quanto conservadores, incluindo Rush Limbaugh e Juan Williams. Bill McLaughlin, professor adjunto da Universidade Quinnipiac em Connecticut, disse que a CNN encontrou uma forma criativa de reportar as anedotas coletadas por Jordan sem ameaçar o povo do Iraque.

Bob Steele, diretor do programa de ética do Instituto Poynter, disse que a CNN trocou sua capacidade de reportar a verdade pela presença contínua em Bagdá. ?Na essência, ele passou um longo período lidando com o demônio?, disse.

Alguns colegas de Jordan de outras emissoras indicaram simpatia por sua situação. ?Se achássemos que estávamos prejudicando algum repórter nosso, pesaríamos a questão seriamente?, disse Michele Grant, diretora de desenvolvimento da BBC nos EUA.

Alex S. Jones, diretor do Centro Shorenstein para Imprensa, Política e Política Pública, de Harvard, disse que Jordan estava sendo criticado injustamente. ?Eu acho que todas as organizações de notícias têm que tomar esse tipo de decisão de tempo em tempo?, afirmou.

“Da guerra à campanha”, copyright Folha de S. Paulo, 16/04/03

“De um dia para o outro, acabou a guerra e começou a campanha eleitoral de George W. Bush.

Bush pai enviou um convite, em nome do Partido Republicano, chamando para um ?Jantar do Presidente?. Da carta:

– Nos ajude a tornar este evento memorável para o nosso presidente.

Os convites para o jantar custam US$ 2.500. Quem conseguir US$ 100 mil ganha o direito de tirar uma foto com o presidente americano.

É o início da arrecadação para a campanha de reeleição, no ano que vem. Sem horário eleitoral, ela consome milhões em comerciais.

E é o fim das ações de guerra. Bush filho teria vetado os planos encomendados pelo ?falcão? Donald Rumsfeld para um ataque à Síria.

O também secretário Colin Powell, adversário dos ?falcões?, saiu trombeteando pela TV que não há plano nenhum para atacar a Síria.

Não que tenha sido uma vitória de Powell. ?É a economia, estúpido?, parecia transmitir Bush, em seu primeiro discurso sobre um assunto que não a guerra, ontem.

Uma pesquisa acendeu no fim de semana a luz vermelha. Os números de Bush não vão bem em economia. A forma como está tocando a área é questionada por 46% dos americanos, contra 44% que aprovam.

Bush pai, como se sabe, venceu a sua guerra contra o Iraque e em seguida, como não cumpriu promessas na economia, perdeu para Bill Clinton. Foi então que James Carville, marqueteiro de Clinton, cunhou o bordão ?é a economia, estúpido?.

No sábado, um dos enviados da CNN ao Iraque tentou entrar na cidade de Tikrit e enfrentou bala. Seguiu-se um tiroteio dos seguranças da CNN com os iraquianos. Ao vivo.

É só um dos exemplos extremos do envolvimento dos jornalistas americanos na guerra. Pior, é claro, aconteceu com os ?encaixados?, que acompanharam as tropas.

Um deles relatou como avisou, aos soldados, a posição de alguns iraquianos, três dos quais foram mortos:

– Alguns na minha profissão podem pensar que, como um repórter, eu estava lá só para observar. Agora que eu ajudei nas mortes de três seres humanos na guerra à qual fui enviado para cobrir, eu tenho certeza que alguns vão questionar a minha ética, a minha objetividade etc. Eu vou dar uma curta justificativa. Eles que se danem, eles não estavam lá.

Foi-se o tempo da cobertura ?objetiva? nos EUA.”

“Produtor da CBS é demitido por crítica implícita a Bush”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 16/04/03

“Um produtor da rede de TV CBS foi despedido por ter feito uma comparação implícita entre o momento atual nos Estados Unidos e a Alemanha nazista. Ed Gernon, que produz a minissérie ?Hitler: The Rise of Evil? (Hitler: A Ascensão do Mal) foi demitido por uma declaração feita à revista TV Guide.

Gernon disse que a série ?trata de uma nação inteira bloqueada pelo medo, que renunciou a seus direitos civis e que chegou a uma guerra mundial por causa desse temor?. ?Não posso pensar de um tempo melhor para contar essa história?, disse o produtor. Meios conservadores usaram a frase para denunciar o ?antipatriotismo? da mídia, e a CBS demitiu Gernon.”