Tuesday, 14 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

João Caminoto

GLOBO & BNDES

"Carvalho pretende esclarecer aporte à Globo Cabo", copyright O Estado de S. Paulo, 15/03/02

"O presidente do BNDES, Eleazar de Carvalho, disse ontem que pretende prestar esclarecimentos ao Congresso Nacional sobre o aporte de capital de R$ 284 milhões que será feito na Globo Cabo. ?É preciso ter total transparência para explicar essa decisão e também a alternativa a essa decisão?, disse Carvalho durante entrevista à imprensa na capital britânica.

?Daremos as explicações ao Congresso no momento que for considerado mais conveniente.?

Carvalho disse que, ?hipoteticamente?, a participação do BNDES na Globo Cabo poderá passar dos atuais 4,8% para 12% após o aporte de R$1 bilhão, que contará com a participação de vários acionistas. ?Caso nós venhamos capitalizar com uma parcela, converter os debêntures e subscrever as ações, totalizando R$ 284 milhões, a nossa participação iria para 12%.? Ele salientou que, se todos os acionistas da Globo Cabo participarem da operação – ?o que é uma possibilidade, por se tratar de uma oferta pública? – o aporte de R$ 1 bilhão seria alocado proporcionalmente para cada acionista.

?Com isso, a nossa participação acionária ficaria a mesma.? Ele observou também que o BNDES mantém outra participação residual de 2% pelo fato de a Globo Cabo participar do Índice Bovespa. ?Mas essa participação será constituída num fundo que será vendido.? Ele evitou comentar se outros acionistas da Globo Cabo não incluídos no aporte de R$ 1 bilhão poderão participar da capitalização.

?Como vai ser uma operação pública, que contará inclusive com a possível participação do mercado internacional, eu não gostaria de induzir outros a fazerem uma avaliação como a nossa.? Carvalho ressaltou que a Globo Cabo ?é uma empresa de cabo e não é uma prestadora de conteúdo, de capital aberto e cotada na bolsa e na Nasdaq?.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sérgio Amaral, disse que as críticas à participação do BNDES na capitalização da Globo Cabo ?decorreram sobretudo do fato de que as primeiras notícias sobre o assunto não tinham conhecimento mais detalhado da natureza da operação?. Segundo ele, trata-se de uma operação ?normal para o BNDES, que tem duas linhas de atuação: financiamento e participação acionária?. Amaral observou que o banco participa de operações de empresas nas quais é acionista, desde ?que as considere aceitáveis dentro de suas políticas.?"

 

"Fora da tela da Globo", copyright IstoÉ, 18/03/02

"A Globo Cabo, maior empresa de televisão por assinatura do País, controlada pelas Organizações Globo, deu na semana passada um passo decisivo para tentar reduzir sua dívida de R$ 1,6 bilhão, dos quais R$ 524 milhões vencem até o final do ano. A operação de salvamento da companhia dos Marinho passa por uma injeção de capital de R$ 1 bilhão. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que possui 4,8% das ações da Globo Cabo, se comprometeu a injetar mais R$ 284 milhões na empresa. O compromisso provocou indignadas reações dos concorrentes. ?Por que o BNDES tem que socorrer uma empresa insolvente??, indagou o vice-presidente da Bandeirantes, Antonio Teles.

A indignação de Teles tem antecedente: a própria Bandeirantes e o SBT já tentaram conseguir dinheiro no BNDES e receberam um sonoro não sob a justificativa de que o banco não possui linha de crédito nem política de financiamento específica para empresas de comunicação.

Surpreendeu ao mercado o fato de o BNDES entrar com 28,4% dos recursos de aumento de capital da Globo Cabo (quando detém apenas 4,8% de suas ações), utilizando recursos públicos para socorrer uma empresa de comunicação que vem apresentando prejuízos há sete anos. No ano passado, por exemplo, as perdas atingiram R$ 700 milhões e a base de clientes passou de 1,47 milhão para 1,28 milhão. O único lucro contabilizado pela empresa foi num trimestre, de R$ 1,4 milhão.

Além do BNDES, também são sócios no negócio da Globo Cabo a Bradespar, braço de investimento do Bradesco, a RBS, grupo gaúcho de mídia, e a Microsoft, de Bill Gates, o homem mais rico do mundo. Aliás, a Microsoft, oficialmente, ainda não se decidiu sobre um possível aporte na Globo Cabo. Mas quem conhece Gates garante que ele não irá colocar mais dinheiro em uma companhia que, além das dificuldades financeiras, tem poucas chances de crescer no mercado.

Na Marginal Pinheiros, sede da Editora Abril, principal concorrente da Globo no mercado de TV por assinatura, a reação foi de ironia. ?Se for assim, também quero?, disse Roberto Civita, presidente da empresa.

Mais duro nas declarações, Bispo Rodrigues, que defende os interesses da Record na Câmara dos Deputados, questionou o empréstimo: ?Por que utilizar dinheiro público para salvar uma empresa privada.? O PT também entrou com requerimento cobrando explicações do presidente do BNDES. Um dia depois da divulgação do acordo, as ações da empresa caíram 9,8%, acumulando uma queda de 60% nos últimos doze meses.

O vice-presidente executivo das Organizações Globo, João Roberto Marinho, e o vice-presidente do BNDES, José Mauro Carneiro da Cunha, se uniram em defesa do negócio. ?A Globo Cabo não recebeu tratamento preferencial. A decisão do aporte do banco foi baseada em critérios técnicos?, justificou Marinho. ?Fizemos estudos e entendemos que é um excelente investimento para o banco?, defendeu Cunha.

O caso não demorou para virar piada. Os personagens, o roteiro e a ocasião caíram como uma luva no computador do colunista José Simão, da Folha de S.Paulo, que rapidamente mudou o nome da empresa para Globo Cabo Eleitoral."

 

"Globo Cabo não era sólida, afirma BNDES", copyright Folha de S. Paulo, 13/03/02

"O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Eleazar de Carvalho Filho, disse ontem, ao se referir à Globo Cabo, que a ?situação da empresa não era sólida e, sem uma capitalização, corríamos o risco de ela ser liquidada, assim como nossos ativos dentro dela?.

Ontem, a Globo Cabo, maior empresa de TV por assinatura do país, anunciou que fará uma operação para aumentar em R$ 1 bilhão seu capital. A colunista da Folha Mônica Bergamo já havia antecipado a operação na edição de sábado. O BNDES, por meio da BNDESPar (subsidiária para operar no mercado acionário), vai participar do negócio.

Segundo o diretor-geral da Globo Cabo, Luiz Antônio Viana, também serão implementadas medidas para melhorar a qualidade de gestão corporativa da empresa e torná-la mais atraente para os pequenos acionistas.

Carvalho disse que não recebeu nenhum tipo de pressão para autorizar a participação da instituição no aumento de capital da Globo Cabo. Disse que reconhece ter sido delicado tomar tal decisão num ano eleitoral e beneficiar uma empresa cujo maior acionista é um meio de comunicação.

?O BNDES pesou o custo de entrar na operação e o custo de não fazer nada?, disse ele. ?Nossa decisão decorreu de uma avaliação positiva com relação ao futuro da empresa e da garantia que obtivemos de que a Globo Cabo será, de agora em diante, uma nova empresa.?

Carvalho afirmou que a condição para que o BNDES entrasse na operação foi a de que os estatutos da empresa fossem alterados, os acionistas minoritários ganhassem novos direitos e que fosse introduzido um novo paradigma na gestão da empresa.

O presidente do BNDES disse que a proposta da operação nasceu do controlador da Globo Cabo, em conjunto com um banco de investimentos, cujo nome não quis revelar.

Carvalho disse que as negociações foram mantidas em sigilo. ?Várias pessoas do governo me telefonaram para perguntar o que estava acontecendo. Aí eu disse: ?Daqui a pouco vai sair um fato relevante. Leiam e aí vocês vão saber o que está acontecendo?.?

O BNDES concede hoje entrevista para esclarecer o assunto. Carvalho vai viajar para Londres.

A operação

Com exceção da Microsoft, todos os demais sócios da Globo Cabo -Organizações Globo, Bradespar, BNDESPar e RBS- injetarão recursos na empresa.

O objetivo da operação de socorro é tentar melhorar a situação financeira da empresa, que acumulava, até setembro do ano passado, prejuízo de R$ 660 milhões.

Juntos, os quatro sócios serão responsáveis por um aumento de capital de R$ 682 milhões. Os R$ 318 milhões restantes virão da emissão pública de ações que será feita pela Globo Cabo ainda no primeiro semestre deste ano.

Os sócios vão garantir essa operação, se comprometendo a ficar com os papéis que não forem comprados pelo público. Segundo Viana, a emissão de ações garantida pelos sócios aumentará a confiança de possíveis interessados nos papéis da Globo Cabo.

As Organizações Globo, que são sócias majoritárias da empresa, com 42% de seu controle, serão responsáveis por uma fatia expressiva do novo aumento de capital, que poderá chegar a R$ 540 milhões.

Desse valor, R$ 305 milhões se referem a recursos que já foram emprestados à Globo Cabo, ao longo de 2001, e agora deixam de ser dívida e passam a fazer parte do capital da empresa. Outros R$ 48 milhões sairão diretamente do caixa da Globo.

A empresa também vai converter em ações as debêntures que possui da Globo Cabo, no valor de R$ 69 milhões, e assumiu ainda o compromisso de adquirir até R$ 118 milhões das novas ações.

A BNDESPar vai garantir uma parcela de R$ 284 milhões da operação. Do caixa da instituição pública sairão R$ 39 milhões. O BNDES também vai transformar em ações as debêntures anteriormente emitidas pela Globo Cabo, no valor de R$ 125 milhões. E também vai garantir a compra de até R$ 120 milhões em ações.

Já a Bradespar garantirá um aumento de capital no valor de R$ 284 milhões, sendo R$ 48 milhões em dinheiro. Outros R$ 16 milhões se referem a debêntures da empresa que serão convertidas em ações. A empresa de participações, que pertence ao Bradesco, também poderá comprar outros R$ 31 milhões em ações.

A RBS vai ser responsável pelo aumento de capital no valor de R$ 56 milhões, dos quais R$ 12 milhões se referem a dívidas da Globo Cabo. A RBS também injetará outros R$ 20 milhões na Globo Cabo e vai garantir a compra de até R$ 24 milhões das novas ações que serão emitidas.

Outra instituição financeira, que será uma das coordenadoras da operação e cujo nome não foi revelado, garantirá fatia de R$ 25 milhões no aumento do capital.

Segundo Viana, a Microsoft ainda não decidiu se participará ou não da operação de reestruturação da dívida da empresa.

Também não está decidido, segundo Viana, se a oferta de ações será feita apenas no Brasil ou se envolverá o mercado externo."