Friday, 11 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Jornal do Brasil

QUALIDADE NA TV

JUSTIÇA

"Justiça condena Rede Globo", copyright Jornal do Brasil, 13/4/01

"A Rede Globo foi condenada em primeira instância a indenizar o empresário Luís André Matarazzo por ter divulgado o seqüestro de seu filho de 12 anos, Gonçalo, em março do ano passado. A sentença foi dada pelo juiz Teodozio de Souza Lopes, da 17? Vara Cível de São Paulo. De acordo com a ação, a Globo foi a única emissora a não acatar pedido de sigilo sobre o crime, o que teria posto em risco a vida do menino.

O seqüestro ocorreu no dia 9 de março de 2000, quando bandidos capturaram Luís André e Gonçalo em Indaiatuba, interior de São Paulo. Os seqüestradores não conheciam o sobrenome das vítimas e libertaram apenas o pai para que ele providenciasse o resgate. O empresário, que é primo do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e do ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Andrea Matarazzo, garantiu que foi pessoalmente às emissoras de TV para pedir que não divulgassem o caso, querendo evitar que o preço do
resgate subisse e que o seqüestro não se prolongasse.

A Globo, no entanto, não concordou e noticiou, com nome e sobrenome, as vítimas do seqüestro. Quando souberam pela televisão que se tratava de uma família tradicional, os criminosos deixaram o garoto sem comida e água até que ele confessasse sua identidade. O juiz decidiu em favor da família, obrigando a Globo a pagar o valor arrecadado com publicidade nos intervalos dos noticiários que abordaram o assunto.

A Rede Globo anunciou ontem que vai recorrer na Justiça. ?Está dentro dos princípios éticos da Globo não deixar de noticiar crimes públicos. Chegamos a essa decisão após o seqüestro de Roberto Medina, em 1990. Várias autoridades foram consultadas e foi concluído que não existe nenhum caso de retaliação de seqüestradores pela divulgação de seus crimes. Pelo contrário, as notícias ajudam na resolução?, informou a Central Globo de
Comunicação (CGCom).

?Quem pede que o seqüestro não seja divulgado é a família, seguindo orientação dos criminosos e a Globo não atende a apelo de bandidos. E se atendêssemos ao pedido da família Matarazzo em especial, estaríamos criando duas castas: os que têm suas solicitações atendidas e os que não têm?, completa o comunicado da Globo. A CGCom informou ainda que Luís André não pediu segredo assim que foi à Globo: ?Isso pode ser visto em sua
entrevista, conversando com o repórter e olhando para a câmera. Só mais tarde Luís André requisitou sigilo sobre o caso?.

BAIXO NÍVEL

"Baixaria diplomada", copyright Veja, 18/4/01

"A história da baixaria na televisão brasileira acaba de ganhar um capítulo inusitado. Em vez de popozudas ou vítimas de ?pegadinhas?, quem o protagoniza são médicos, que têm ido à TV fazer demonstrações explícitas de suas habilidades. Programas que vão ao ar à tarde, como o Note e Anote, de Claudete Troiano, na Rede Record, e o Domingo Legal, de Gugu Liberato, no SBT, vêm exibindo cirurgias plásticas e outros procedimentos, realizados ao vivo no estúdio ou filmados em clínicas. Há pacientes sendo anestesiados diante das câmaras, incisões de bisturi e sangue jorrando à vontade. Ah, sim: no final, é fornecido o número de telefone do profissional, para quem se interesse por seus serviços. Essas imagens escabrosas impulsionam a audiência, mas não são bem-vistas pelas autoridades de saúde pública. Só neste ano, o Conselho Regional de Medicina (CRM) paulista, órgão que fiscaliza a atuação da classe, abriu onze processos para apurar casos assim. O número parece pequeno perto das 150 denúncias de autopromoção e propaganda abusiva investigadas pela entidade, mas os episódios na TV vêm aumentando e são aqueles que alcançam maior repercussão. ?Esses médicos expõem seus pacientes de forma antiética e, em alguns casos, divulgam técnicas suspeitas?, afirma Regina Ribeiro Parizi, presidente da entidade. ?É intolerável.?

Os programas não têm escrúpulos ao explorar o tema. No Note e Anote, em fevereiro, uma dermatologista demonstrou um tratamento contra celulite numa paciente de meia-idade vestida só de calcinha, camisolão e touca, como se estivesse no hospital. No mês passado, um cirurgião compareceu duas vezes ao programa. Na primeira, fez aplicações da toxina Botox nas mãos e axilas de uma mulher que queria livrar-se da transpiração excessiva. Poucos dias depois, mostrou as maravilhas do preenchimento labial com silicone. O Domingo Legal não ficou atrás. Em 11 de março, um cirurgião vascular operou as varizes de uma paciente em pleno palco, cercado de enfermeiras, câmaras e convidados. Duas semanas mais tarde, Gugu exibiu um implante de silicone nos seios cujos detalhes é melhor nem mencionar. No mesmo programa, o médico responsável pela cirurgia sorriu orgulhosamente ao lado de vários pacientes que haviam operado nariz, orelhas de abano e outras partes do corpo. Esse tipo de autopromoção, vale dizer, é proibido expressamente pelo manual de ética da categoria, mesmo com autorização do paciente.

Por uma questão de sigilo legal, o CRM de São Paulo não confirma se os médicos que foram a esses programas estão entre os investigados. Mas há uma pista. Nesta semana, a entidade promete entrar com representação no Ministério Público pedindo providências contra o Note e Anote, o Domingo Legal e duas atrações da TV Gazeta que exibiram material semelhante ? o Mulheres, apresentado por Márcia Goldschmidt, e o Comando da Madrugada, do jornalista Goulart de Andrade."

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