Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

José Paulo Lanyi

POLÊMICA / BAREBACKING & MÍDIA

"ONG critica entrevista do iG", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 17/09/02

"A ONG Grupo pela Vidda enviou ao Último Segundo, jornal do portal iG, uma carta que condena a entrevista publicada com o barebacker Ricardo Rocha Aguieiras, um desses loucos que sentem prazer arriscando a vida com o sexo sem camisinha. A entrevista exclusiva com o primeiro barebacker brasileiro que mostra a cara e assina em baixo foi publicada pelo ?Caderno i? no último fim de semana.

O Grupo pela Vidda combate a Aids e considera a reportagem sensacionalista. Nega que o entrevistado tenha participado da fundação da ONG, como enfatiza o texto de Darlan Alvarenga, e diz que não é a maior e mais importante ONG de combate à Aids da América Latina.

?Quanto ao conteúdo da entrevista, mesmo estando claro que trata-se de posição pessoal do entrevistado (que tem o direito a tal opção), o Grupo Pela Vidda/SP vem manifestar-se publicamente contrário e condenar a ?propaganda? e promoção da barebacking ou qualquer outra modalidade de sexo desprotegido?. A ONG conclui, no parágrafo que antecede a assinatura do presidente do grupo, Wilson Amaral Merege: ?Lamentamos a alta dose de sensacionalismo da entrevista e esperamos que sua publicação possa pelo menos contribuir para a ampliação do debate sobre as falhas e as dificuldades da prevenção?.

Reafirmo, nesta Link SP, o que aqui escrevi na edição passada: o repórter conduziu a entrevista com correção. Poderia, como pede o sensacionalismo, se aproveitar de um tema underground para embutir preconceitos e baixar para as minúcias apelativas, para a curiosidade torpe, para as entrelinhas doentias. Não o fez. Questionou com sobriedade e buscou, em cada pergunta, alcançar as conseqüências dessa prática de lunáticos.

Ao contrário do que a elogiável ONG apregoa, a sociedade não pode empurrar a sujeira para baixo do tapete. Cada qual encare a divulgação como quiser: como propaganda, como ?promoção da barebacking ou qualquer modalidade de sexo desprotegido?, ou, ainda, como uma oportunidade ímpar que todos nós temos de conhecer uma minoria que pode provocar danos sociais calcada, justamente, na distorção dos fatos – como o abrandamento da Aids – e na névoa subjetiva que privilegia as emoções e a individualidade irresponsável.

A luta contra a Aids é de toda a sociedade. Os meios de comunicação têm o dever de alertar para os movimentos que solapam o trabalho árduo na busca da prevenção e da cura da doença. Prefiro que os nossos pré-adolescentes, os nossos adolescentes, enfim, que toda a população se informe pelo Último Segundo, pela IstoÉ e outros veículos.

São reportagens sérias que explicam, sim, a real atmosfera da Aids no Brasil. No iG, na mesma edição da entrevista, o leitor também deparou com uma matéria que analisa o barebacking e reforça a realidade: a Aids mata, apesar dos coquetéis, e a sobrevida está longe de ser um conto de fadas.

O que devemos fazer? Esperar que esses grupos de ignorantes venham a se expandir na calada do instinto, no silêncio da inconsciência que leva à desestruturação, à perda de vidas e à desgraça de tantas famílias? Devemos, então, deixar a ?informação? para os barebackers e seus endereços que se multiplicam na internet?

Criticar a divulgação responsável é atuar como o pai e a mãe que se obscurecem no tabu, recusando-se a falar de sexo e drogas com os filhos. Até o dia em que um traficante simpático aparece com suas ?orientações?.

Quanto ao fato de o escritor ter ou não participado da fundação do Grupo pela Vidda, cabe ao Último Segundo esclarecer. Há pesos distintos entre uma entrevista de Lúcifer – o anjo caído – e um condenado comum dos infernos.

Outra coisa: o Grupo pela Vidda é ou não a maior e mais importante
ONG de combate à Aids da América Latina? Como leitor,
gostaria de saber. Encerro concordando com a ONG: a entrevista do
iG pode, sim, ?contribuir para a ampliação do debate
sobre as falhas e as dificuldades da prevenção?.

 

"Entrevistado do US em matéria sobre ?barebacking? contesta críticas do Grupo Pela Vidda", copyright Último Segundo (www. ultimosegundo.com.br), 17/09/02

"O entrevistado pelo Caderno I na reportagem sobre ?barebacking?, Ricardo Rocha Aguieiras, encaminhou e-mail para o US rebatendo as críticas feitas pelo Grupo Pela Vidda e a afirmação de que ele não teria participado das atas de fundação do grupo.

?ALGUNS ESCLARECIMENTOS PRECISAM SER FEITOS:

Primeiro quanto à considerar o Grupo Pela Vidda – SP como a maior ONG de combate a AIDS deveria ser entendido como um elogio e não sou eu apenas que falo isso. Já ouvi essa colocação várias vezes aí dentro mesmo. E de pessoas de crucial importância. De todos os modos, é um elogio!

Depois, lembro-me de ter assinado uma ata de reunião nas primeiras reuniões do Pela Vidda-SP, ainda na antiga sede do Gapa, na Alameda Nothmann, juntamente com Jorge Bechara, o Beloqui e o Pedro de Souza. Fui informado, na época, que era a própria Ata da Fundação. Alíás, assinei não apenas uma, mas muitas atas, nessa época. Onde foram parar?

Lembro-me que além de assinar atas fiz muita faxina na sede do Pela Vidda, na Av. Paulista e na General Jardim, logo que houve a mudança. Durante os primeiros anos me doei muito ao grupo, sim, numa luta constante. Juntamente com o meu parceiro na época conseguimos doações de móveis, cadeiras e até máquinas de escrever pelo Senac-SP, onde meu parceiro trabalhava. Não Participei apenas das quintas-feiras, conforme coloca o Wilson, eu já militava intensamente no Pela Vidda muito antes do Wilson vir a fazer parte, há testemunhas disso como o Jaime e o próprio Mário Sheffer. E tudo isso sem que eu tenha HIV, apenas por acreditar em algo, em uma luta que depois vi distorcida no Brasil. Não tenho HIV até hoje e posso provar me submetendo aos exames que quiserem.

Comecei a me afastar dos grupos justamente por presenciar brigas constantes e vaidades pessoais, também por não acreditar mais nos rumos que a luta anti-aids vinha tomando no Brasil e da qual o Pela Vidda fazia parte. É um direito meu não acreditar. Sempre defendi que a luta deveria se voltar para as classes menos favorecidas e que homossexuais que frequentam a Vieira de Carvalho e as Boates dos Jardins já estavam muitíssimo bem informados sobre a doença e seus riscos e tinham e tem dinheiro para comprar os seus preservativos. O próprio Ministério da Saúde reconhece que a Aids se pauperizou. Portanto, é junto com pobres, favelados, sem-teto etc. me deveríamos trabalhar, pessoas a quem falta tudo e não falta apenas informação, infelizmente. É nessa luta que acredito.

Só que distribuir informação e camisinha para pobres e favelados não dá nenhum status e nem promove os grupos e ONG?s. Descobri, na luta contra Aids, que o voluntário nunca é valorizado, sendo tratado na maioria das vezes como um funcionário que deve obrigações ao grupo, o que é uma cruel distorção. Muitos grupos só funcionam justamente devido aos seus voluntários e nunca à uma secretaria, direção ou presidência. O voluntário, neste país, também deve ser valorizado. Por isso me afastei.

Quanto à entrevista e a minha posição como barebacker foi e é uma forma de jorgar luz numa prática de muitos e muitas, gays e não gays, para uma ampla discussão. E atingi o meu objetivo. Já disse que não adianta tapar o sol com a peneira. Sexo sem camisinha muitos fazem, mas poucos assumem justamente devido ao massacrante politicamente correto discurso do ?sexo seguro?. E ninguém quer ser crucificado, como ocorre agora comigo. Mas alguém tinha que falar. E falar nunca foi conveniente numa sociedade como a nossa.

Todos temos o direito de assumirmos os riscos que queremos correr para sermos felizes! Cigarro também mata, talvez mais lento que outras doenças, mas mata! E muitos soropositivos fumam, sabendo dos riscos e resolvem assumí-lo! Mas ninguém fala nada, afinal fumar não envolve sexo, nosso grande tabu ainda! Comer frituras e comidas gordurosas também mata, mas salvadinhos fritos são servidos nos chás positivos do Pela Vidda e mesmo quem tem colesterol alto provocado pelos remédios come, afinal fez a sua escolha e ela é respeitada.

A reportagem não tem nada de sensacionalista. Sensacionalismo é o que fazem em cima das nossas escolhas e ainda nos mandam sutilmente calar a boca.? (RICARDO ROCHA AGUIEIRAS)"

 

DESEMPREGO NA TV

"Columbia prepara programa que dá emprego", copyright Folha de S. Paulo, 21/09/02

"Sucesso na TV argentina, ?Recursos Humanos? deverá ganhar uma versão brasileira. O programa, que já foi tema de reportagem no ?Jornal Nacional?, é um ?game show? disputado por desempregados, em que o vencedor ganha um emprego por pelo menos seis meses. A escolha é feita pela audiência, por telefone.

Os direitos autorais do programa, exibido pelo Canal 13, acabam de ser comprados pela Columbia Television, produtora de TV do grupo Sony. A Columbia irá tentar emplacar ?Recursos Humanos? em TVs de todo o mundo, menos dos EUA. No Brasil, fez nesta semana os primeiros contatos com emissoras, oferecendo a atração em co-produção. Segundo a produtora, mais de uma rede demonstrou interesse.

Um quadro nos moldes de ?Recursos Humanos? vem sendo estudado pela Rede TV! desde o início do ano. Segundo João Kléber, apresentador do ?Canal Aberto?, o quadro iria entrar no ar em novembro. Mas a compra dos direitos pela Columbia deve emperrar os planos da emissora.

A Columbia já é parceira da Record. Com a emissora, irá produzir dois programas: ?Roleta Russa? e ?No Vermelho?, que promete pagar dívidas do vencedor.

Na Argentina, ?Recursos Humanos? exibe vídeo com o cotidiano do desempregado e seu drama. Na maioria das vezes, a empresa que oferece a vaga também dá emprego ao perdedor."