Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Juca Kfouri cassado pelo “coronel” Havelange. Terrorismo e conivência às vésperas da Copa

 

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Fifa e a sua afiliada brasileira, a CBF, acabam de consagrar o jornalista Juca Kfouri como um jornalista integralmente independente. Ao recusar o seu credenciamento para a cobertura da Copa do Mundo – fato inédito nos anais desportivos – revelam uma cadeia de fatos da maior gravidade:

* O grau de senilidade e paranóia do “coronel” João Havelange nos momentos finais do seu longo reinado.

* O acerto das críticas que vem sendo feitas ao ex-genro e parceiro, Ricardo Teixeira, dono do vice-reinado brasileiro.

* O esquema arbitrário e mandonista imperante em nosso futebol que só consegue responder às evidências mostradas pela imprensa ao longo de 10 anos com terrorismo.

A Folha de S. Paulo, onde Kfouri mantém uma coluna regular, reagiu à altura: um destaque na primeira página, editorial na página 2, grande matéria no caderno de esportes (edição de 16/5/98), repercussões no dia seguinte (domingo, 17/5) e, na segunda-feira, 18/5, finalmente o artigo do jornalista censurado (ver abaixo remissão para o dossiê).

Três dias depois de anunciada a arbitrariedade podia-se constatar impressionante passividade e falta de solidariedade dos coleguinhas. A Fenaj certamente não trabalha nos fins de semana e precisará reunir a diretoria para “tirar” uma resolução de solidariedade.

Três dias depois de anunciada a arbitrariedade impera o silêncio satisfeito, a omissão conivente. Salvo as seguintes e honrosas exceções:

* O galhardo protesto de Armando Nogueira no seu programa dominical na TV Bandeirantes (Apito Final) declarando que se já tivesse em mãos a sua credencial a rasgaria em solidariedade a Juca Kfouri.

* A nota do colunista Ricardo Boechat (O Globo, 16/5) desvendando em cima da bucha o ato ditatorial.

* A página do novo jornal carioca Extra (18/5) que assim se destaca num ambiente onde impera a subserviência à CBF.

* Página da Zero Hora (18/5).

* A cobertura solidária das rádios CBN, Guaíba, Bandeirantes e Jovem Pan, mais aguerridas do que os jornalões.

* O veemente protesto do jornalista Reali Jr. diretamente de Paris no seu comentário na Jovem Pan (18/5), dando conta da repercussão da violência na imprensa esportiva mundial.

* A ANJ (Associação Nacional de Jornais) enviou no dia 18/5 carta ao presidente da CBF pedindo esclarecimentos urgentes e advertindo que, se se constatar veto a Juca Kfouri, estará configurada “uma descabida censura à atividade jornalística, arranhando a prática democrática da liberdade de imprensa”.

Na véspera da Copa, quando a mídia está faturando gordos patrocínios sem os quais seria impossível a cobertura da França, é evidente que as grandes organizações jornalísticas não querem estragar o clima de euforia e festa. Preferem deliciar-se com as visitas de vedetes peladas à concentração de Teresópolis, mesmo que dirigentes e jogadores se irritem com esta invasão.

Futebol no Brasil é sinônimo de cervejota, desvario e omissão. A verdade e a dignidade que se danem.


 

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Dossiê da Folha de S. Paulo contra a censura a Juca Kfouri