Friday, 11 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Jurandir Freire Costa

REALITY SHOWS

"Diversão ou desatino", copyright Folha de S.Paulo, 31/3/02

"A exibição, na televisão, dos programas ?Casa dos Artistas? e ?Big Brother Brasil? surpreendeu e desconcertou muitos brasileiros. Por que tanto interesse pela privacidade de artistas e pessoas comuns, fechados, dias e dias, em uma casa? As explicações se sucederam: voyeurismo sexual, decadência cultural, alienação política, ganância de produtores e patrocinadores dos programas etc. É possível que tenha havido algo de tudo isso. Mas haverá algo além disso?

Acho que sim. Uma ressalva, porém, antes do comentário. Não façamos de ventania furacão. Os programas não vão virar o país de cabeça para baixo, e sucessos de audiência duram como palavras ao vento. Uma coisa, no entanto, é evitar o uso de superlativos impróprios; outra é insistir em ver o mesmo onde começa a surgir o outro. Sucesso quer dizer aprovação do público, e isso é o que me parece interessante pensar: quais visões de mundo transformaram tais programas em sucessos de audiência.

A primeira coisa que chama a atenção no episódio é, obviamente, a mudança do valor da moral da intimidade. Podemos sequer imaginar uma família do século 19 ou das primeiras décadas do século 20 reunida para apreciar espetáculos do gênero?

Na ?Idade de Ouro? da cultura burguesa, a intimidade era olhada de soslaio, com um misto de curiosidade, respeito ou desconfiança, jamais como artigo de ostentação. O íntimo tinha algo do tabu descrito por Freud. Era, ao mesmo tempo, amado e odiado, venerado e temido, fonte do puro e do impuro. Pensemos nos heróis e heroínas de Proust, Henry James, Eça de Queirós, Machado de Assis ou das coleções ?Menina e Moça?. Poderíamos concebê-los sem a sutil indiscrição de portas entreabertas, sussurros e segredos de alcova?

Na cultura pós-burguesa, esse modo de vida perdeu o encanto. A intimidade, em especial a familiar, caiu do pedestal. Usada por conservadores na defesa de preconceitos sexuais; por contestadores, para denunciar o machismo e o sexismo da família ?burguesa e capitalista?; e, enfim, por arautos do mercado como um ?produto? que se vende, sobretudo, como grife exclusiva do estilo de vida dos ?vencedores?, a intimidade foi roubada de sua atração moral e emocional. Tornou-se um mero tema de disputas políticas, filosóficas ou científicas, abandonando o lugar de fundamento ético da privacidade e da felicidade sentimental que, até então, ocupara de modo inconteste. ?Casa dos Artistas? e ?Big Brother Brasil?, portanto, não desrespeitam a privacidade que, efetivamente, existe; simplesmente a retratam sem os ideais que, até então, tornavam-na sublime. Os participantes da casa devassada, dentro e fora da tela, agem de forma voluntária, refletida, e sabem que o prêmio da vitória é dinheiro. Todos compartilham, com maior ou menor consciência, a ?moral do capricho? e a ?a-moralidade do lucro?. A-moralidade do lucro, porque os programas escancaram o que a maioria aceita e a minoria -por pudor e integridade- reluta em admitir. Outrora, a recompensa do agir moral era o reconhecimento, a admiração e o respeito de todos. Agora, valemos o que pesamos em dinheiro; o que se tem e exibe é a medida do que se é. Moral do capricho, porque os espectadores decidem o que vai ser dos moradores, em razão do humor ou da convicção moral momentâneos.

?Vale o que eu gosto?

A regra tácita do julgamento se apóia na avaliação dos traços de personalidade e da aptidão dos jogadores para viverem em coletividade. Até aí, pode-se pensar, ponto para os bons propósitos. Na prática, entretanto, o resultado é outro. O emprego dos critérios psicológicos se resume à imposição do ?vale o que eu gosto?, ?bom é o que eu quero?. Não porque os juízes sejam especialmente despóticos, mas porque moralidade fundada em motivos psicológicos não pode ser diferente. Razões do agir psicológico são sempre peculiares a cada um; razões do agir moral devem ser, pelo menos potencialmente, comuns a mais de um. Moral de um só é, segundo as circunstâncias, oportunismo, casuísmo, engodo ou violência, jamais regra do viver coletivo.

Vamos e venhamos, a mudança na percepção moral das virtudes privadas é enorme. Compare-se esse processo de decisão à severidade luterano/calvinista dos ?Julgamentos Finais? ou aos seus equivalentes leigos, os ?tribunais de consciência? da grande tradição filosófica do Ocidente moderno, descontadas as exceções de praxe: os moralistas; o triunvirato Espinosa, Nietzsche e Bergson; o dueto pragmático James e Dewey; outros que certamente desconheço e mais meia dúzia de pensadores atuais. O contraste é evidente. É verdade, alguém com sotaque nietzschiano pode replicar: mas por que moral? Por que nossa vida tem de ser escrava de morais eternas, universais e absolutas, tão inventadas quanto as morais televisivas, sujeitas à chuva e ao bom tempo? Afinal, muda muito trocar de língua e continuar recitando o jargão ?manda quem pode, obedece quem tem juízo!?. Por que não imaginar a ética do criador solitário contra o ramerrão moral do rebanho? A objeção procede. Mas não se estende ao caso analisado.

O público ouvinte e vidente não está criando valores aos quais adere, doa a quem doer, agrade a quem agradar. Não passamos do cenário soturno da dúvida sobre o Ser, das chamas do inferno ou da condenação da carne para a cena olímpica da vontade de potência e do início do novo. Os cenhos franzidos e os atos de contrição não deram lugar à coragem, à luta contra a desmedida, ao apreço pela honra e ao amor ao destino. Nem mesmo a modesta decência, que Agnes Heller opõe, de modo pragmático, à grandeza nietzschiana é visada pelos jogadores. O que se quer mesmo é, de um lado, o prêmio em dinheiro, do outro, entretenimento inconsequente e gozo do poder sem os ônus do comando. No fundo, a moral da história é que ?moral? deve ser vista como um ?pra valer? com certificado de ?faz-de-conta?. Sério com ?s? grande só o dinheiro. Pois, se a brincadeira ultrapassa os limites e o bom-mocismo esperado descamba para o imprevisto, muda-se de canal e cessa o desconforto. Ninguém é interpelado pela escolha feita; ninguém se compromete com aquilo que escolheu.

Versão recauchutada

Não custa repetir verdades acacianas: a vida, como o tempo, empresta, nunca dá. O problema não é se agarrar ao que passou; é saber que valorar, preferir, afirmar que isso é melhor que aquilo tem um custo. O teatro da moralidade pós-burguesa, na superfície, é risonho, despretensioso e aberto a crenças politicamente corretas sobre sexo, relações afetivas, cuidados corporais e demais obsessões da cultura urbana de hoje. Cave-se um pouco mais e o que surge é a versão recauchutada da cediça manobra do ?circo? para as massas, ?sarau? para as elites. Esse é o segundo aspecto que importa ressaltar. Enquanto as elites brasileiras consomem viagens sofisticadas, bom gosto via TV a cabo, concertos sinfônicos austro-alemães ou exposições parisienses, londrinas e nova-iorquinas, a classe média e os miseráveis, empobrecidos e intimidados por balas perdidas, se trancam em casa para decidir a sorte de outros trancafiados. O engano é duplo. Primeiro, porque o ?brother? anunciado não é ?big? -é ?little?.

Malgrado o título de um dos programas e as insinuações do outro, ambos estão longe da trama original de Orwell. No romance alusivo aos regimes nazista e comunista, se tratava de neutralizar, de modo preventivo e paranóico, os opositores da ordem totalitária. Na televisão, espiões e espionados são os mais convictos guardiões do status quo político. O jogo se assemelha, isso sim, às visitas que o burguês europeu fin-de-siècle fazia a circos, hospícios, hospitais e prisões para ver de perto os ?monstros degenerados? e, depois, com suspiros de alívio, dizer: ?Que bom que não sou eu?. Segundo, porque, no presente, os encarcerados são ?os normais?. Os bisbilhoteiros, por sua vez, não passeiam. Estão sitiados nas casas pelo medo das ruas e, enquanto esperam dias melhores, olham a metáfora do próprio enclausuramento com a satisfação envergonhada de quem cobiça o que despreza e não ousa dizer alto o que pensa: ?Pena que não sou eu! Mas, já que não sou eu, será quem eu quiser!?.

Poder pífio e esmagador

Ou seja, as pessoas são induzidas a crer que controlam o que já foi controlado, e o que, de fato, limita suas liberdades continua onde sempre esteve. A autonomia é posta a serviço do irrelevante, com um ganho suplementar para os que, realmente, agem visando a seus próprios interesses: o pequeno poder é pífio, ressentido e caricato. Mas, multiplicado por milhões, pode ser esmagador.

Ética e caráter existem, dizia o personagem de um antigo filme ?noir?, para se afirmarem em horas inconvenientes. Opinar moralmente sobre os outros, no conforto do anonimato, com aperitivos na mão e sem a menor responsabilidade pelas consequências da opinião emitida, é tudo menos brincadeira inocente. A língua portuguesa tem outros nomes para isso: leviandade, maledicência, pusilanimidade e, dependendo da ?personalidade?, lição introdutória às finas artes da delação.

Para concluir -e é importante enfatizar- não pretendo ?demonizar? a televisão, como alguns se inclinam a fazer. Sem entretenimento a vida é insuportável, e a brincadeira é o lugar da cultura sem o qual não podemos viver. A questão é saber com o que podemos brincar e em que momento parar. Leiloar o que não pode ter preço é confundir brincadeira com venalidade, diversão com desatino."

 

"Guerrilha de sofá", copyright Folha de S.Paulo, 31/3/02

"A televisão vem monitorando e promovendo mudanças sociais significativas. Reflete um certo estado das coisas, cria um senso comum público e se lança num visível esforço para antecipar futuros. Não é ilegítimo perguntar, olhando a TV brasileira pelo avesso, que tipo de cultura essa televisão reflete e prefigura. Estamos assistindo a uma reconfiguração do campo televisivo com a convergência entre TV e internet, a entrada de capital estrangeiro no negócio e a busca incessante por novos formatos. Acontecimentos mundiais transmitidos ao vivo, jogos e ?reality shows?, zoológicos e laboratórios humanos interativos que devassam a intimidade são alguns desses novos campos de batalha. Um outro dado relevante nesse quadro.

A oferta global de informações supera num nível estupidamente grande a capacidade humana de consumo, seja em livros, na internet ou na TV. Logo a ?nossa atenção tem que ser comprada? (1), e nunca houve tanta disputa por ela, pois como assegurar que vamos consumir ao menos uma parte de tudo isso que é produzido? Como fidelizar, fazer voltar, criar pactos de consumo e audiência? A ?interação?, por mais pífia que seja, é uma dessas tentativas de capturar nossa atenção. Os programas de ?convivência?, como o ?Big Brother Brasil?, ?Casa dos Artistas? e todos os programas que trabalham com a comercialização da intimidade e criam vínculos entre um grupo de participantes e telespectadores ?atuantes?, são outra resposta a isso.

Ligar indivíduos, com suas necessidades pessoais, a espaços públicos e ?mentes coletivas? é um desejo utópico que a televisão vem concretizando de forma duvidosa ao transformar essa ?mente coletiva?, espaço altamente valorizado, num confessionário das intimidades mais irrelevantes.

Continuidade e extensão entre o tempo da vida, o tempo do trabalho e o tempo do lazer -que são a característica do capitalismo pós-industrial (2). As máquinas que servem à produção (computador, telefone, celular, TV, internet) são máquinas lúdicas, que estreitam a convivência e servem ao lazer. A TV aposta nos jogos de convivência como simulações de uma certa vida social, lugar de fidelização, lealdades, criação de vínculos, um formato em expansão em todos os canais e que faz sucesso.

Na busca de criar fatos midiáticos continuamente, capturar nossa atenção e comprar nosso tempo, a televisão convoca o próprio espectador ou usuário a participar do processo de produção da informação. Ele é o consumidor-produtor que Walter Benjamin anteviu nos leitores que escreviam para os jornais e que hoje recebem câmeras de vídeo para produzir imagens que vão entrar no telejornal, no programa de variedades, numa denúncia política ou no ?álbum? eletrônico pessoal. As tecnologias doméstico-industriais transformam cada um de nós em unidades móveis de produção de imagens e informação que alimentam o sistema de comunicação.

O capitalismo midiático é produtor e tem que gerir bens altamente perecíveis, a informação, a notícia, bens simbólicos e imateriais, que colocam a televisão no eterno presente das medições de audiência e na guerra contínua pela nossa atenção.

Instabilidade e oscilações que produzem mudanças significativas nas fórmulas consagradas de fazer TV. Essa mobilidade sobre o ?ao vivo?, de olho nos índices, faz de cada edição do ?Big Brother Brasil?, do ?Fantástico?, do ?Faustão?, do ?Ratinho? ou da ?Casa dos Artistas? um exercício de mútua vigilância cada vez mais esquizofrênico e endógeno, em que o campo televisivo e suas exigências comerciais se sobrepõem a todo princípio.

Ratinho comemora ao vivo a subida de pontos no Ibope com gritos, música e aplausos da platéia. Estar na frente da Globo vira show, com direito a comoção popular. Alegria de ser platéia e telespectador no evento campeão de audiência que é uma satisfação em si, numa demonstração incontornável de como a televisão atua, mais do que tudo, como espaço comum, lugar de ?estar junto?, inserido numa realidade coletiva, partilhada, festiva e ?tribal? (Michel Maffesoli), independentemente de qualquer conteúdo. Talvez esteja aí um germe de ?aprendizado? torto da audiência e do seu poder.

Autofagia -o canibalismo dos fracos- é a aposta da TV que se desdobra em metaprogramas sobre a própria televisão: ?Vídeo Show?, ?TV Fama?, coberturas em abismo da vida televisiva que é repercutida ao infinito. Tudo pode ser reciclado, inclusive a pauta do concorrente. Paradoxo que faz com que a concorrência vigilante na TV aberta e na mídia em geral produza mais uniformidade e redundância do que originalidade (3).

Gênese das celebridades

Entre as poucas demandas da audiência, medidas em pesquisas e divulgadas pelas próprias emissoras, ver pessoas comuns e anônimas na TV é um ?desejo? difuso. E não seria exagerado prever que essa forma de ?existência? propriamente televisiva torne-se um ?direito?, uma exigência do próprio telespectador que, em última instância, quer se ver. A TV se antecipa à obrigação e dá vazão e escape a esse desejo com seus concursos, shows de calouros, espectadores ?reversíveis? que se tornam ?top models?, atores, repórteres por um dia ou o povo que fala, se confessa, pede auxílio, sofre em público, expõe suas virtudes e sua miséria existencial. Mais do que isso, ao catapultar ?anônimos? para o estrelato e o circuito midiático, ?reality shows? como ?Big Brother? e ?Casa dos Artistas? revelam a própria gênese das celebridades televisivas.

Uma nova vida que virá depois do capital midiático acumulado durante a exposição às câmeras. A existência pós-mídia dos participantes do ?Big Brother? é o assunto mais recorrente entre eles, exercício de tédio televisivo, em que tentam antecipar seu futuro, depois dessa capitalização. Trata-se de uma reconfiguração das relações sociais mediadas por imagens/informação. É interessante observar os novos tipos sociais que surgem e são legitimados nesses programas. Não mais o machão, o ?corno?, o ?efeminado?, a ?gostosa?, a ?virgem?, o ?tarado sexual? de ?A Praça É Nossa?, ?Ratinho?, ?Linha Direta? ou ?Zorra Total?, que ainda regem certo imaginário popular rural. Os novos tipos (notadamente no programa da Globo) fazem parte de um imaginário mais próximo da classe média urbana: a empresária paulista, o artista plástico, a designer, o cabeleireiro chique, o dançarino de axé, a modelo-manequim, a socialite, as subcelebridades, crias da própria mídia, a ninfomaníaca, o rapper irado, os marombeiros com visual estilizado de meninos de rua, cara de mau e gorro enterrado na cabeça.

Democratismo difuso

Exibidos num espaço público privilegiado e de atenção máxima, todos podem falar sobre tudo, pois a ?notoriedade?, dada pela TV mais do que por seus pares, torna-se a base da ?autoridade? instantânea adquirida pela visibilidade máxima. Uma hipertrofia do campo do privado e da intimidade, supervalorização do indivíduo, que coloca a confissão no centro da ágora, no espaço público nacional mais caro e disputado. A televisão realiza assim o cruzamento do panoptismo com o confessionário, como pensados por Foucault e Deleuze (4), para caracterizar as sociedades disciplinares e de controle: ?Confessam-se os crimes, os pecados, os pensamentos e os desejos; confessam-se passado e sonhos; confessa-se a infância; confessam-se as próprias doenças e misérias; emprega-se a maior exatidão para dizer o mais difícil de ser dito; confessa-se em público, em particular, aos pais, aos educadores, ao médico, àqueles a quem se ama, a si próprios (…)?. Tudo se confessa diante das câmeras e na TV. E tanto a confissão quanto a vigilância se tornam entretenimento, espetáculo (5) e frequentemente tédio. Ter acesso às confissões, vigiar os comportamentos, julgar e excluir por voto anônimo é a base de um democratismo difuso e socialmente inoperante, pois nunca decide nada de importante.

Telespectadores do mundo, uni-vos!

Mesmo parados diante da TV estamos trabalhando para a audiência. Seria então o telespectador revoltado e mobilizado a nova classe revolucionária no capitalismo midiático e imaterial? ?Quem fica sempre olhando, para saber o que vem depois, nunca age: assim deve ser o bom espectador?, descarta Guy Debord. Néstor García Canclini vai mais fundo, provoca e rompe com a maneira tradicional de pensar o consumo e os hábitos televisivos como mal irremediável, propondo sua politização: ?Faltam movimentos de consumidores, de telespectadores? (6) que pudessem exigir, opinar, protestar e pressionar. Algo que o anonimato e a impessoalidade da audiência não estimulam.

É sintomático que os movimentos de boicote à TV, raros, que vêm surgindo, no estilo ?não ligue a TV no dia X?, ainda tenham como modelo a velha greve; a novidade é que passam pela internet e estão ligados à vocação hiperativista dos internautas que formam redes e comunidades de pressão e ação em oposição a décadas de ?silêncio? dos telespectadores. ?Redes da multidão? (Antonio Negri) em que o telespectador reconhecesse a televisão como um bem público e fizesse uso desse bem. A idéia -tanto de Canclini quanto de Negri- está na contramão do lugar-comum de ?irracionalidade? e ?passividade? no consumo.
A televisão, regulada pela publicidade, tenta se legitimar numa abstração, a audiência. Mas nada da complexidade, diversidade, singularidade da multidão de telespectadores passa nessas medições quantitativas, ?blitz extemporânea da vontade coletiva?, diria Negri. Resta saber como tomar posse da TV e fazer uma ?guerrilha de sofá?.

Notas
1. Cristian Marazzi sobre a ?attencion economy?, in ?As Multidões e o Império ? Entre Globalização da Guerra e Universalização dos Direitos? (DP&A Editora);
2. Antonio Negri. ?O Poder Constituinte ? Ensaio sobre as Alternativas da Modernidade? (DP&A Editora);
3. Pierre Bourdieu. ?Sobre a Televisão? (Jorge Zahar Editor);
4. Gilles Deleuze. ?Pos-Scriptum sobre a Sociedade de Controle?, in ?Conversações? (editora 34);
5. Arlindo Machado. ?Máquina e Imaginário? (Edusp);
6. Néstor García Canclini. ?Dicionário para Consumidores Descontentes?, no Mais! de 27/1/2002. (Ivana Bentes é professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, organizadora de ?Cartas ao Mundo? (Companhia das Letras) e autora de ?Joaquim Pedro de Andrade? (ed. Relume-Dumará)."