ELEIÇÕES 2002
"Na eleição da mídia, candidatos debatem até na FM", copyright Folha de S. Paulo, 19/06/02
"Se a TV ainda havia deixado alguma brecha nas agendas dos presidenciáveis, o rádio acabará de preenchê-la. Nas eleições de maior exposição na mídia em todos os tempos, os candidatos debaterão propostas até na FM.
A Transamérica (100,1 MHz, em SP) está só esperando a Copa acabar -já que está transmitindo os jogos- para fazer um debate entre os favoritos na disputa ao Planalto. Negocia parceria com uma emissora de TV, que poderá ser o SBT. A FM já levou ao ar café da manhã-entrevista com Ciro (PPS) e Garotinho (PPB). Tenta agendar Lula (PT) para amanhã e Serra (PSDB) até o final do Mundial.
É um palanque considerável. As entrevistas vão ao ar no ?Transnotícias?, das 7h às 8h, no horário nobre do rádio. O debate entre os quatro deve ter o mesmo espaço. Como a Transamérica é uma rede nacional, o programa é retransmitido por 45 emissoras, nas principais capitais e cidades do interior. Não há como saber a audiência, mas uma pesquisa Marplan aponta que, só em seis cidades, a atração tem 80 mil ouvintes.
A CBN também vai levar à FM (90,5 MHz, em SP) um debate entre presidenciáveis. Está marcado para o próximo dia 27, no MAM de SP. Segundo Antônio Guerino, coordenador do Sistema Globo de Rádio, as presenças de Ciro, Garotinho, Lula e Serra já foram confirmadas. É outro palanque de peso, já que o encontro será transmitido também pela AM de SP (780 kHz), pelas 23 retransmissoras da rede CBN e pelo canal de TV Globo News (Net/Sky).
No final do mês, a estação estréia dois programas: ?Agenda do Candidato? e ?Voto Limpo?. São só mais algumas novidades da megacobertura planejada pelas Organizações Globo. Transamérica e CBN também têm planos de realizar debates entre os candidatos ao governo. Estão acertando detalhes com as retransmissoras.
Na AM paulistana, nem é preciso dizer que a campanha terá um espaço generoso. Os clássicos Paulo Lopes, da Capital (1.040 kHz), e Paulo Barboza, da Record (1.000 kHz), também devem fazer seus debates. Para evitar confusão, a Associação de Emissoras de Rádio e TV de SP fará um seminário eleitoral na próxima terça. Mesmo assim, é bom que os partidos fiquem de olho. O rádio costuma ser campeão de irregularidades na cobertura de eleições.
Números impressionantes da última pesquisa do Ibope, divulgada na semana passada: Padre Marcelo, na Globo (1.100 kHz), está com média de 481 mil ouvintes por minuto. É mais do que o dobro do segundo colocado."
CONSELHO DE COMUNICAÇÃO
"?Quem usa o Conselho é o Congresso, não o contrário?", copyright Comunique-se, 21/6/02
"Previsto em lei há 14 anos, mas só consolidado no final de maio deste ano, o Conselho de Comunicação Social começa a se tornar realidade na semana que vem, quando seus 13 membros estarão reunidos pela primeira vez para a cerimônia da posse no Senado. Composto por oito representantes específicos (quatro de setores empresariais e quatro de profissionais), além cinco representantes genéricos da sociedade civil, o novo órgão ganha vida em meio a questões como implementação do padrão digital e abertura da mídia ao capital estrangeiro.
Em entrevista a Comunique-se, Daniel Herz, diretor da Fenaj e representante da Categoria Profissional dos Jornalistas no CCS, afirma que o órgão não pode ser usado como ferramenta para lobistas. ?Os conselheiros receberam uma delegação para tratar de determinados assuntos e não possuem mandato popular. Quem tem que usar o Conselho é o Congresso Nacional, não o contrário?.
Comunique-se: Como o senhor vê o fato de que jornalistas e comunicadores criticam o caráter consultivo do Conselho de Comunicação Social?
Daniel Herz: Essa crítica deveria ter sido feita há 14 anos, quando a lei foi criada. Agora, isso é uma questão vencida. A Fenaj defendia que o CCS fosse um órgão regulador. A condição consultiva pode traduzir um componente de fraqueza, mas pode ser o contrário. No CCS não serão tomadas decisões sobre interesses. Ficaremos liberados para questões mais profundas. Uma grande questão a ser discutida é a introdução da tecnologia digital nos meios de comunicação. O rádio e a TV vão mudar radicalmente.
Comunique-se: Com que espírito nasce o regimento?
DH: Da nossa parte, queremos garantir a esfera de efetividade do CCS. Ele só vai ter sucesso se gerar confiança na sociedade. Já estamos recebendo demandas de todo o tipo. Ainda sem estrutura, teremos que ser criteriosos, pois existem muitas questões.
Comunique-se: Qual será a influência do presidente e do vice-presidente do CCS?
DH: Depende do perfil que desenharmos. Está previsto em lei que o presidente tem que sair das cinco vagas genéricas (que não representam nem as entidades empresariais, nem as profissionais). É uma cautela simbólica. Se o presidente pertencesse aos setores empresarial ou profissional não teria espaço para defender interesses próprios. O presidente e o vice-presidente terão uma representação institucional. Mais importante do que isso é se comprometer com a efetivação do CCS.
Comunique-se: Como e quando os membros do CCS vão se reunir?
DH: Pelo menos uma vez por mês haverá uma reunião ordinária, o que é óbvio. É preciso definir como vai se tratar questões emergenciais e outros encontros. O fato de o mandato não ser remunerado possui vantagens e desvantagens. Uma delas é que nem todas as entidades podem bancar uma grande estrutura.
Comunique-se: O CCS saiu do papel após o Senado ter aprovado a entrada do capital estrangeiro na mídia com o apoio da oposição. Como o senhor acha que o órgão vai lidar com a abertura dos meios de comunicação?
DH: Não houve negociação no Senado para que o CCS fosse aprovado. No CCS há os dois lados: os que são contra e a favor da entrada do capital estrangeiro. Do ponto de vista dos que se opuseram à abertura: as preocupações de antes persistem. Trata-se de fazer com que a regulamentação da lei se traduza da forma mais cuidadosa possível. O principal é fazer com que o conselho não seja uma ficção.
Comunique-se: Qual a característica mais importante do CCS?
DH: Muita gente ainda não percebeu que o CCS fará uma interlocução da sociedade com o Executivo. O CCS não é um mini-Congresso. Os conselheiros receberam uma delegação para tratar de determinados assuntos e não possuem mandato popular. Quem tem que usar o Conselho é o Congresso Nacional, não o contrário."