Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Laura Mattos e Marília Ruiz

MESA-REDONDA

“Bola dividida”, copyright Folha de S. Paulo, 19/10/03

“Parecia uma mesa-redonda de verdade, com todo mundo falando ao mesmo tempo sobre assuntos completamente diferentes.

Ícone da velha guarda dos debates futebolísticos na TV, Roberto Avallone, 58, ficou cara a cara com a dupla de apresentadores do ?RockGol? – que virou sucesso neste ano ao satirizar as mesas-redondas tradicionais e tratar o futebol com humor escrachado.

A convite da Folha, o ex-apresentador do ?Mesa-Redonda Futebol e Debate?, demitido da Gazeta há duas semanas, conversou com Paulo Bonfá, 31, e Marco Bianchi, 31, sobre a mudança de rumo dos programas esportivos das noites de domingo. Para os três, há uma tendência: tornar os debates menos técnicos, fechados a fanáticos, e usar o humor para atingir uma audiência maior.

Apesar de concordar, Avallone não quis ser chamado de ?velho?. ?O ?RockGol? é o símbolo de uma nova etapa. Mas sem descartar o meu símbolo. Porque o que faço foi classificado pelo Galvão Bueno como atuação apartista. É ?commedia dell?arte?, inspirada no [ator italiano] Vittorio Gassman, o símbolo da irreverência. Sou um cara irreverente. Tenho até idade, mas não sou antigo.?

Para Bonfá, falar em velho e novo ?é pejorativo?. Já Bianchi afirma que é possível falar em velha e nova escola de mesa-redonda, mas ?o que é velho não necessariamente é ruim, e o novo não é necessariamente bom?.

Avallone encerra a polêmica: ?Vamos empatar esse jogo e dizer que todo mundo é bom. Vocês são novos e velhos, e eu sou velho e novo. E fim de papo?.

Abaixo, trechos dessa mesa-redonda realizada na última quarta:

INFORMAÇÃO X HUMOR

Paulo Bonfá – Há pessoas que assistem ao ?RockGol? porque gostam de futebol, e há as que assistem porque gostam da gozação.

Roberto Avallone – Vocês pegaram uma fórmula boa. A minha proposta seria a de unir os dois tipos de programa, humor com informação. Aí seria mais completo. Porque quem conhece futebol como eu? Pouca gente.

NOVA GERAÇÃO

Avallone – O grande perigo é o jovem artista pensar que é melhor do que o mais consagrado. Eu tenho 37 anos de carreira. Já passei da fase de me deslumbrar, mas tenho consciência do meu valor.

Bianchi – Não me enquadro nisso. É bom deixar claro que não estamos vindo para substituir ninguém, são propostas diferentes.

Bonfá – Nosso ponto de vista é mais descompromissado, sem, ao mesmo tempo, esquecer a crítica. Mas o futebol tem que ser encarado como entretenimento, até para limar o fanatismo, o cara que vai ao campo para brigar.

Bianchi – Eu senti na pele o que é o fanatismo. Fui agredido por cinco pessoas porque teria dito coisas agressivas sobre um time, sendo que a gente brinca com todos os clubes. Estou operando o joelho pela quinta vez.

BITOLADO

Bianchi – A tendência é que os programas mais informativos tornem-se mais bem-humorados e abram uma janela para o mundo, porque às vezes parece que existe uma redoma..

Avallone – [interrompendo] Você acha que estou bitolado?

Bianchi – Acho que o programa…

Avallone – [interrompendo] Ah, o programa. Porque falo de cinema, de teatro, de tudo.

Bonfá – Tenho uma crítica. Em muitos momentos, os debatedores se levam muito a sério. Acho que há telespectadores cansados de ver pela oitava vez o cara debater se estava impedido ou não…?

VELHO X NOVO

Bianchi – Ao mesmo tempo em que as mesas-redondas mais informativas poderão se tornar mais bem-humoradas, as como a nossa poderão acrescentar um pouco mais de informação.

Avallone – Aí empatou, aí está tudo certo.

Bianchi – São propostas diferentes, que podem se aproximar. Mas torço para que continuem existindo programas mais informativos. Primeiro porque há público e, depois, porque sem eles não vamos ter mais inspiração [risos].

Avallone – E o velho não necessariamente é velho. Fui a um profissional que media a idade energética. Há três anos, tinha 25, segundo ele. Então hoje eu tenho 28.”

***

“Apresentador une bola a Machado de Assis”, copyright Folha de S. Paulo, 19/10/03

“A escalação do Palestra de 1951 ou frases avulsas de Machado de Assis. Tudo junto, ao mesmo tempo, no pique. Assim é Roberto Avallone, 58, a caricatura real de um âncora de mesa-redonda.

Com sotaque ?italianado? acentuado, Avallone pontua literalmente todas as suas frases. ?É para enfatizar o que estou dizendo. Entendeu, interrogação??

Gesticula, risca o ar com o indicador e fuma sem parar. ?Tenho que admitir que sou ansioso.?

Esse paulistano da Casa Verde transformou os debates de futebol em uma alucinada sinfonia de polêmicas em 1985, quando assumiu o ?Mesa-Redonda?.

Língua solta -?Sou muito sincero.?-, Avallone colecionou desafetos nesse período, mas, acima de tudo, conseguiu se transformar em um personagem muito comentado. Muito mais do que quando ganhou o Prêmio Esso de Informação Esportiva pelo comando da equipe de esportes do ?Jornal da Tarde? em 1978 e 1986.

Palmeirense mais do que declarado, criou o slogan ?Jornalismo Futebol Clube? para dar peso as suas opiniões. Instituiu também a ?tia Dora? -que existe de verdade. Atribui a ela, uma senhora de 84 anos, histórias e opiniões pró e contra o Palmeiras.

Longe de ser uma unanimidade, ele é, pelo menos, uma figura interessante para a televisão. Tanto é assim que circulou por programas de TV aberta e fechada nestas duas semanas pós-demissão.

De concreto, diz, conseguiu três propostas: uma da Bandeirantes, uma da Rede TV! e uma de seu novo amigo Galvão Bueno, que o quer todas as segundas no ?Bem, Amigos?, do SporTV.

Com os cabelos sempre impecavelmente coloridos por uma rinsagem, Avallone afirma que quer primeiro descansar e se cuidar.

?Essa é a última entrevista que concedo. Na próxima semana, vou tirar essas bolsinhas debaixo dos olhos. Depois quero viajar, tomar sol e, se Deus quiser, voltar a trabalhar em janeiro?, disse pouco minutos antes de voltar atrás e concordar em participar do ?RockGol?, de seus ?seguidores? Paulo Bonfá e Marco Bianchi.

Amigos de colégio, formados na USP, humoristas de carteirinha, ambos não têm problema em reverenciar a sua ?inspiração?.

?Como torcedor do Cosmos [dos EUA], mas simpatizante do Palmeiras, logo me identifiquei com o Avallone?, brinca Bonfá.

?Senti na prática essa influência. Criamos uma sátira ao Avallone que se chamava ?Mesa Quadrada Futebol Moleque? no ?Sobrinhos do Ataíde?, lançado no rádio, em 95?, disse Bianchi. Colaborou Rômulo Neves, da Redação”

 

SEXO NA TV

“Excesso de sexo caminha para o tédio”, copyright Folha de S. Paulo, 19/10/03

“Nem bem começou, a nova novela das oito vem causando um pequeno escândalo com a quantidade de sexo e nudez mostrada. Para além das estratégias ditas inovadoras que cercaram a estréia de ?Celebridade?, a volta que se anuncia triunfal de Gilberto Braga ao filé mignon das novelas não deixou de lançar mão do velho e bom apelo erótico para garantir os picos de audiência.

Só no primeiro capítulo, ?Celebridade? exibiu um topless e duas cenas de sexo. Mas, menos do que a quantidade, a falta de papas na língua parece ser a marca de Braga nessa nova ordem sexual televisiva. O autor, que parece acreditar mais em roteiro e história de que seu pares (e, como observou um amigo, leu Balzac), está usando o sexo a serviço de sua trama.

Faz parte, digamos, da construção do personagem já anunciar que tipo de sexo ele faz. Em ?Celebridade?, garotas boas fazem sexo com amor; garotas más fazem sexo com perversão e garotas nem boas nem más fazem sexo por necessidade ou cálculo. Resta, entretanto, a enervante questão da exposição.

Romantismo

As telenovelas, que guardam uma relação bastante íntima com a liberalização dos costumes operada na sociedade brasileira dos anos 60 para cá, vêm arriscando mais e mais no sentido da exposição.

Não basta, como nos tempos de um romantismo mais ingênuo, encenar a paixão -é preciso mostrá-la. Mais ainda do que o sexo, é necessário exibir os corpos perfeitos e fixá-los como objetos de desejo: mulheres magras e de musculatura definida, homens atléticos e bombados.

O que se deixava à imaginação febril dos telespectadores à época que Sonia Braga subia no telhado de vestidinho curto de chita, hoje acontece sob luzes acesas, como na primeira cena de ?amor? da novela, entre a boa moça Maria Clara (Malu Mader) e o príncipe encantado Otávio (Thiago Lacerda), que mostrou a calcinha da protagonista em primeiro plano.

Padrões

O efeito é menos erótico do que pedagógico -como não há mais espaço para a fantasia completar o que está sugerido, trata-se de oferecer um modelo a ser perseguido. O que se reforça com a insistência obsessiva não na sensualidade, mas na correção estética dos corpos.

A perfeição cosmética dos corpos é a isca: assim como o peito deve ser grande, a bunda empinada, o torso musculoso etc., a sexualidade deve ser programaticamente feliz, bem sucedida -e neste caso estamos falando de sujeitos ajustados, do bem. Como se a TV estivesse dizendo a cada um como viver a sexualidade e, sobretudo, o que ela deve significar. Moral à parte, a exposição reiterada de nudez e sexo na TV caminha em direção à banalização e ao embotamento dos sentidos -em resumo, ao tédio.”

 

TV GLOBO

“Globo supera meta e cresce 15% em 2003”, copyright Folha de S. Paulo, 17/10/03

“Apesar da crise que atinge o setor de mídia no Brasil, com a queda de investimentos publicitários, a Globo vai registrar neste ano um crescimento de 15% em suas receitas. A informação foi confirmada por um alto executivo da emissora, que pediu para não ser identificado.

O crescimento de 15% supera as expectativas da emissora, que previa faturar 10% a mais do que em 2002. Assim, a Globo deve fechar o ano com um faturamento líquido (já descontadas comissões de agências) de R$ 2,936 bilhões. No ano passado, a emissora faturou R$ 2,553 bilhões, 9,8% a mais do que em 2001.

Os resultados serão anunciados na semana que vem em convenção da área comercial em Recife. Segundo a própria Globo, os investimentos publicitários caíram 40%, em valores reais (descontada a inflação), desde 2000. Neste ano, só a Globo e a Record devem registrar crescimento de receitas. O faturamento do SBT caiu 15% no primeiro semestre de 2003.

A explicação para o fato de a Globo crescer em um cenário de crise é que anunciantes tendem a concentrar suas verbas em veículos com maior audiência.

Em consequência dos resultados comerciais, a cúpula da Globo estuda aumentar de três para sete os projetos de programas que serão testados no final de ano. Além de ?Carol e Bernardo? e ?Barraco?, são candidatos os humorísticos ?Maledicências? e ?Diaristas?.

OUTRO CANAL

Degelo Com a volta do bispo Honorilton Gonçalves à cúpula da Record, Otaviano Costa, contratado por ele, vai sair da ?geladeira?. Fora do ar desde abril, Costa vai dividir com Adriane Galisteu o programa de verão ?Bahia 50 Graus com Adriane Galisteu?, em janeiro, diretamente de Salvador.

Sobrevida Ao contrário do que a TV Cultura divulgou, o programa ?Vitrine? não saiu do ar. A direção da emissora reavaliou a decisão. Além disso, o ?Debate Nacional?, produzido pela TV Nacional, de Brasília, que iria ocupar a vaga do ?Vitrine? às quartas (22h30), ainda não entrou no ar na Cultura, segundo a emissora, devido a problemas técnicos.

Meia-noite José Mojica Marins, o Zé do Caixão, vai fazer uma participação especial em ?Um Show de Verão?, filme estrelado por Luciano Huck e Angélica. No longa, Mojica fará um personagem zen, totalmente diferente do eterno Zé do Caixão.

Curva Depois de registrar o recebimento de 20 reclamações contra a novela ?Celebridade?, na terça, por causa das cenas de sexo do capítulo de estréia, a campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania viu o número de ?denúncias? cair para apenas duas na quarta. A Globo afirma que os números não são significativos em um universo de 60 milhões de telespectadores.”