Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Leila Reis

ESPERANÇA

"?Esperança? resiste ao baque eleitoral", copyright Folha de S. Paulo, 15/09/02

"Toda vez que um evento quebra a rotina da programação, o telespectador fica ligeiramente desnorteado. É o caso das Olimpíadas, Copa do Mundo e eleições. É nessas ocasiões que os programadores tremem. Há sempre risco de ganhar ou perder audiência. No caso da Copa, quem compra os direitos de exibição recebe dividendos adicionais: a massa torcedora pode estacionar no canal engordando a audiência antes e após a partida.

Em época de eleições e de horário político todo mundo perde. Tanto que é praxe não lançar novos programas e desculpa para tirar do ar os que não têm o desempenho esperado.

Na atual temporada, o horário político afugentou significativamente a platéia. Na noite de 19 de agosto, o total de aparelhos ligados (na Grande São Paulo) era de 72%. Na estréia da campanha na TV, o número baixou para 52% e foi emagrecendo para ficar, no decorrer de 10 dias, em 47%. Essa semana, esse total ficou pouco acima dos 50%. Ou seja, 20% dos domicílios (quase 1 milhão, segundo o Ibope) abandonam os canais abertos para voltar depois que saem os candidatos.

Quem não pode se queixar da invasão do período atípico é Benedito Ruy Barbosa: Esperança está passando incólume pela crise. A novela das 8, que estreou com 46 pontos de média, tem se mantido na faixa de 40 e na semana passada bateu nos 45 quando Toni (Reinaldo Gianecchini) encontra o pai (Raul Cortez).

A cena, típica da dupla Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando Carvalho (o diretor), foi intensa e carregada de emoção. Na verdade, o público que acompanha o lenga-lenga da história do embate entre imigrantes e fazendeiros estava ávido pelo encontro.

Os interessados no destino de Toni, Maria, Camile e outros também foram surpreendidos por outra novidade. No capítulo do reencontro, Martino (José Mayer) é assassinado com um monte de tiros e entram em cena dois violeiros – vividos por Marcos Palmeira e Jackson Antunes – cuja função será a de amenizar a pasmaceira com um pouco de humor.

Não é déjà vu, violeiros têm lugar cativo nas novelas de Benedito desde Paraíso (1983) e já apareceram em Pantanal e em O Rei do Gado. Assim como a saga de imigrantes no Brasil faz parte do repertório do autor desde 1981, quando a Bandeirantes experimentou seu maior sucesso em teledramaturgia, Os Imigrantes.

Montar histórias com recortes de outras não é pecado, especialmente se elas forem próprias. Benedito é um grande autor e muito coerente com sua trajetória. O problema de Esperança – que os Cassetas já chamaram de Semelhança – é que andava muito parecida com Terra Nostra, tanto pela temática quanto pelo elenco.

O medo de desgostar a audiência é que provoca esses ?desvios?. No negócio televisão, é comum utilizar receitas já testadas para não desagradar ao telespectador. Mas Benedito é sábio, porque segue a cartilha, mas mesmo assim se acomoda. Sabe que até os paladares mais conservadores gostam de variar e assim acrescenta ingredientes mais picantes à sua receita.

No rastro do assassinato (aliás, com excesso de sangue cenográfico) virá a prisão injusta de Maria, mulher do morto e grande amor de Toni, e novos romances para esquentar o clima."

 

"Autor vai ao Rio para deslanchar ?Esperança?", copyright Folha de S. Paulo, 11/09/02

"Autor de ?Esperança?, Benedito Ruy Barbosa trocou seu ?isolamento? em uma chácara em Sorocaba (SP) por um ?refúgio? no Rio. Desde o último final de semana, a convite da direção da Globo, Barbosa está no Rio, onde deve ficar pelo menos 15 dias.

Os principais objetivos da mudança são aproximar o autor da direção da atração e reduzir o atraso nas gravações. Barbosa tem entregue o texto dos capítulos a menos de cinco dias de sua exibição, quando o normal é no máximo uma semana. Cenas exibidas no capítulo de anteontem, como as primeiras de Marcos Palmeira e Jackson Antunes, foram gravadas na sexta.

Nos números do Ibope, a novela ainda está longe do sucesso de ?O Clone?, sua antecessora. Sofre com a queda do número de televisores ligados e com o horário eleitoral gratuito e corre o risco de registrar uma das menores médias de todos os tempos no horário.

Em sua 11? semana (26 a 31 de agosto), ?Esperança? marcou 39 pontos, apenas cinco a mais do que a novela das seis. ?O Clone?, em sua 11? semana, teve média de 45 pontos, contra 20 do SBT (que exibia ?Casa dos Artistas 1?).

Com o capítulo de segunda, ?Esperança? atingiu média de 45 pontos, a maior desde o início do horário eleitoral. Foi um capítulo forte, marcando reviravolta e início de nova fase da trama, com um assassinato e o reencontro de dois dos protagonistas."

 

OBRA ABERTA

"?Obra Aberta? e a vida de personalidades", copyright O Estado de S. Paulo, 13/09/02

"Estréia hoje, na TV Cultura e Arte, a série Obra Aberta, conjunto de dez programas sobre a vida e a obra de grandes personalidades brasileiras.

Produzidos pela TV PUC de São Paulo, os vídeos têm cerca de uma hora de duração e são apresentados por Marza Mendonça. A idéia por trás dos programas é promover uma relexão crítica sobre a cultura do País.

O primeiro programa da série, hoje à noite, é dedicado ao compositor Heitor Villa-Lobos. Uma breve biografia, que acompanha o compositor desde à infância até a consagração na Europa, trazendo inclusive imagens históricas de concertos seus na França, abre o programa. Na seqüência, o violonista Turíbio Santos é entrevistado pelo maestro Diogo Pacheco. Atual diretor do Museu Villa-Lobos do Rio, onde está praticamente todo o acervo do compositor, Santos tem em seu currículo de instrumentista concertos e gravações dedicados ao autor das Bachianas, das quais se destaca o primeiro registro dos seus Doze Estudos para Violão, feito quando o violonista tinha apenas 20 anos. Ele e o maestro Pacheco discutem a formação do compositor, suas principais obras e sua importância dentro do contexto da produção musical do País.

Este esquema de entrevistas é a tônica de toda a série. Sempre dois especialistas estarão discutindo o legado de figuras como Euclides da Cunha, Tarsila do Amaral, Machado de Assis, Cartola, Nelson Rodrigues, Lúcio Costa, Clarice Lispector, Joaquim Pedro de Andrade e Alfredo Volpi, personagens escolhidos para a primeira etapa da série, fruto do investimento de R$ 343 mil da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.

Assim como no programa dedicado a Villa-Lobos aparecem imagens exclusivas de seu acervo, nos outros episódios da série outras preciosidades documentais estarão presentes. No dedicado a Euclides da Cunha, por exemplo, serão mostrados os originais dos artigos escritos por ele sobre a Guerra de Canudos. A última entrevista da escritora Clarice Lispector, dada ao programa Panorama em 1977, também será exibida, assim como uma inédita do arquiteto Lúcio Costa, gravada pelo cineasta Moacir de Oliveira. Há ainda trechos de entrevistas de Tarsila do Amaral e de Nelson Rodrigues, em uma edição do programa Vox Populi, gravada em 78. O compositor Cartola também será mostrado durante um show especial de 73 gravado pela TV Cultura e no longa-metragem Ganga Zumba, de Cacá Diegues, no qual fez uma quase desconhecida participação como ator."