Thursday, 10 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Luiz Orlando Carneiro

A VOZ DOS OUVIDORES


JORNAL DO BRASIL

"Deu no JB", com colaboração de Ruy Sampaio Lima, copyright Jornal do Brasil, 14/4/01

"Em torno de Chomsky

Uma pequena nota, "Chorumela Chomsky", a respeito do 70? livro do lingüista-filósofo Noam Chomsky, publicada na coluna Informe Idéias do último dia 7, provocou reações iradas de leitores ?engajados?, que aí vão publicadas, com as observações que julgamos apropriadas.

Nota Polêmica

Sobre o texto "Chorumela Chomsky": a crítica posta no caderno Idéias de 7/4 mostra-se, para utilizar uma qualificação mais respeitosa, surpreendente, sob o ponto de vista da validade da técnica argumentativa, embora não o seja sob o ponto de vista da predisposição ideológica. Com efeito, se um dado é verdadeiro, sê-lo-á independente de sua vetustez. Do contrário, a soma de dois e dois ? o exemplo é de George Orwell em Lutando na Espanha, aproveitado depois em 1984 ? teria de ser ensinada como uma imposição da moda (ou seja, dois e dois não podem ser, em edições de um livro de aritmética de 1970 e de 2001, necessariamente quatro). Curiosamente, as repetições de Roberto de Oliveira Campos não são consideradas passíveis de crítica ? e o ilustrado economista e parlamentar mato-grossense é extremamente repetitivo no seu discurso antiintervencionista, pró-Estado mínimo (orgulhou-se dos mais de 40 anos de pregação contra o ?Petrossauro?) ? nem tampouco as de Olavo de Carvalho, quando identifica ?comunismo? em qualquer posição que ela seja discordante e, com isto, mata qualquer possibilidade de contraposição á verdade da qual se adonou (apoderou). Em suma: se o fato de a linha argumentativa não se alterar, sem que se demonstre a incompatibilidade dos dados agregados com aquilo que se verifica na realidade, fosse suficiente para a comprometer ou converter em chorumela ? ainda mais pelo fato de se estar a falar de um autor respeitável na sua área de atuação – , invalidar-se-iam inclusive os pronunciamentos daqueles que, no ver do JB têm em seu prol a respeitabilidade da defesa dos interesses do capital, os únicos que, a seu ver, merecem ser preservados. Só que, com sinceridade, duvido que os titulares do JB tenham a coragem e ? por que não dizer? ? a lealdade de publicar a exposição da falha contida na crítica posta, quando não do intuito meramente insultuoso da matéria ora comentada, especialmente porque as observações a ela feitas partem de pessoa que não é ligada a nenhuma agremiação partidária e que não é, nunca foi , nem teve a veleidade de ser marxista. Ricardo Antonio Lucas Camargo ? Porto Alegre

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Não existe nada mais patético do que o servilismo da imprensa de extrema direita brasileira com relação ao império do Norte. Refiro-me obviamente aos comentários relativos ao Sr. Noam Chomsky no caderno Idéias, do JB , de 7/4. O lamentável articulista desse ridículo jornal, sem dispor de nenhum argumento efetivo para contestar as afirmações do Sr. Chomsky, despeja sobre o eminente intelectual americano uma série de impropérios sem o menor sentido. É bom se observar que o jornal que veicula essas críticas ficou muito bem conhecido por sua defesa fanática do apartheid sul-africano na década de 80, portanto, tal atitude para com o sr. Chomsky não nos surpreende. A argumentação de que a ?política americana é muito complexa para que se possa condenar toda uma nação como um império do mal? prima pela imbecilidade característica dos aduladores do rei. Os EUA interferem em assuntos de outras nações quando seus interesses estão em jogo, sem se importar com o sofrimento imposto a outros povos. Não há complexidade nisso, a não ser, talvez, para as mentes estreitas que habitam as redações do JB . Alexandre Fenelon ? Belo Horizonte

JB ? A afirmação de que o JB ?ficou muito bem conhecido por sua defesa fanática do apartheid sul-africano na década de 80? é totalmente improcedente. Este jornal defendia, sim, o estabelecimento de relações diplomáticas com o governo de Pretória, da mesma forma que as mantidas com outros países que não rezavam pela cartilha do respeito aos direitos humanos, como a então União Soviética e Cuba. Considerava-se que ações diplomáticas em defesa desses direitos seriam sempre mais efetivas com a troca de embaixadores com tais países.

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Li, no Informe Idéias de 7/4, um deselegante comentário a Noam Chomsky, acusado de manter sua linha de pensamento na crítica A política externa americana. Devo deixar de ouvir concertos de Mozart sempre repetidos? Os manuais de física devem passar a informar pontos de ebulição da água diferentes de 100 graus centígrados? Os livros de geografia devem parar de repetir que a capital do Brasil é Brasília? Ciência e pesquisa devem apresentar teses novas, sem compromisso com a realidade? A coluna em momento algum contestou os dados em que Chomsky apoia seus argumentos. Quando foi que a grande nação do Norte mudou a sua política beligerante, intervencionista e favorável aos interesses de suas grandes corporações? Paulo Werneck ? Rio de Janeiro

JB ? Cristina Costa, editora de Idéias, responde: A nota em questão não é obviamente uma crítica, mas sim um apanhado das críticas que o último livro do lingüista Noam Chomsky, A new generation draws the line, teve nos Estados Unidos. Até porque o espaço para críticas e resenhas é, pelo menos , 10 vezes maior do que o ocupado pela polêmica nota e reservado aos livros que efetivamente foram lançados no Brasil. Quanto a uma suposta má vontade com o autor, por ser declaradamente comunista, é bom lembrar aos leitores que a capa do Idéias do de 17 de março foi dedicada a outro célebre marxista americano, Fredric Jameson, que teve seu livro A cultura do dinheiro analisado pelo professor de filosofia Leandro Konder. Por fim, Roberto Campos e Olavo de Carvalho não são articulistas do JB.

Tucanos

Causou-me impacto negativo a chamada de primeira página Tucanos criam ONG e vendem mineral raro, de 10/4, não pelo teor da matéria, que é bom, mas pela forma como fui induzido a erro, bem como provavelmente muitos outros leitores, pressupondo que se tratava de ONG criada pelo tucanato, e não pela tribo dos índios tucanos (…) Ou o JB segue uma linha séria, desde a capa até os classificados ? de onde por sinal baniu toda a veiculação de propaganda pornográfica, em detrimento de algum retorno financeiro, o que merece aplausos (no jornal O Globo esse tipo de anúncio ocupa aproximadamente uma página e mais uma ou duas colunas de outra) ? ou perde em credibilidade e seriedade. Theodoro Carvalho Filho ? Rio de Janeiro.

JB ? Um dos objetivos das chamadas nas capas de jornais é, exatamente, chamar de modo especial a atenção do leitor para reportagens que tratam de assuntos relevantes o inusitados. O título Tucanos criam ONG e vendem mineral raro não faltou com a verdade, e certamente foi ainda mais atraente do que seria o título Indios criam ONG e vendem mineral raro. Às vezes, o jornal é bem mais humorado do que o leitor.

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