Saturday, 04 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Mais leitores, mais competição

ÍNDIA

Em junho, o governo da Índia mudou a lei de imprensa, passando a permitir que investidores estrangeiros tivessem participação de até 26% nos jornais locais. Mas a novidade vem num momento de crise em que será difícil atrair capital, apesar do notável crescimento de 20% no número de leitores entre 1999 e 2001 ? no mesmo período, os EUA registraram decréscimo de 2%.

Nos últimos anos, o mercado indiano de jornais, composto por mais 5.300 diários e 17.000 semanários, mergulhou em uma guerra de preços e anunciantes que tem favorecido reduzido número de publicações nacionais, em detrimento de títulos locais menos capitalizados. O Times Group, proprietário do Times of India, é exemplo desse processo. Há uma década, esse jornal era considerado regional de Bombaim e tinha circulação modesta. Mas, desde 1994, lançou seis edições em outras áreas, como Nova Délhi e Madras, alavancando a tiragem de 813 mil para 2,1 milhões.

Paralelamente, registrou-se queda no número de leitores para títulos locais concorrentes como o Indian Express, de Bombaim. "O Times diminui o preço e não pudemos fazer isso também. Nossa circulação caiu", explica Shekar Gupta, editor do Express. "Não tivemos os recursos necessários para injetar no mercado". O Times cortou pela metade seu preço, obrigando a concorrência a fazer reduções e aumentando a dependência de anúncios de todo o ramo.

Atualmente, 80% do faturamento da imprensa indiana vem de publicidade. No começo da década passada, esse índice era de 66%. Anupama Chandrasekaran [The Wall Street Journal, 2/8/02] nota que, nos Estados Unidos, a porcentagem é semelhante, mas que os jornais americanos, em média, chegam às bancas pelo preço de custo, enquanto que os indianos suprem apenas de 25% a 50% de seus gastos com o que é pago pelos leitores.

Com a maior dependência de patrocinadores, há outro elemento que favorece diários como o Times. Com abrangência nacional, eles conseguem abocanhar maior fatia da verba de grandes anunciantes. Assim, os jornais locais vêem-se obrigados a reduzir o preço do espaço para propaganda para ganhar competitividade. The Times of India ? que é considerado um dos poucos jornais financeiramente saudáveis no país ?, The Hindustan Times e o Hindu, os três maiores diários, absorvem 38,8% do dinheiro da publicidade.

REPÚBLICA TCHECA

Karel Rziepel, malandro conhecido no submundo tcheco como "Limão", entregou-se recentemente à polícia confessando que fora contratado por Karel Srba, antigo assistente sênior do ex-ministro das Relações Exteriores Jan Kavan, para matar a repórter Sabina Slonkova, do diário Mlada Fronta Dnes. Ele teria recebido um pacote de explosivos plásticos, resolveu comprar uma arma, mas acabou se entregando.

Sabina, que está sob proteção policial, tem dezenas de inimigos no governo da República Tcheca por reportagens em que denuncia corrupção. Entre março de 2001 e março de 2002 ela escreveu uma série de artigos revelando irregularidades no arrendamento de um edifício do Estado tcheco em Moscou por uma empresa privada. Também publicou lista de propriedades de Srba incompatível com seus rendimentos oficiais.

Segundo a AP [29/7/02], Srba, que está preso, cuidava das finanças do ministério de Kavan e assinou contratos de investimento antes de ser demitido em meio a denúncias de corrupção. A imagem do ex-ministro, apesar de não ter sido oficialmente envolvido no caso, ficou arranhada. O presidente Vaclav Havel disse que ele deveria assumir parte da responsabilidade pelos erros do ministério e renunciar a algum dos cargos que ocupa ? atualmente, além de parlamentar em seu país, Kavan é presidente da Assembléia Geral da Nações Unidas. Ele já respondeu que não deixará nenhum dos cargos. Caso abandonasse o Parlamento, o primeiro-ministro Vladimir Spidia perderia a maioria, o que provocaria crise de governo.

Devido à polêmica do caso de Sabina, a polícia reabriu investigação sobre agressão sofrida pelo repórter Martin Reznicek, há dois anos, logo após publicação de matéria sobre corrupção em privatizações. Diz a AP que a perseguição aos jornalistas ajuda a desfazer a percepção de que a República Tcheca é exemplo de democratização entre os países do Leste Europeu, que, em grande parte, sofrem com corrupção governamental e repressão.