Sunday, 06 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Maria Carolina Maia

iG EM LIVRO

"?A verdadeira história do iG? é o nome de livro sobre o portal", copyright Cidade Biz, 6/07/01

"Deve sair até o final do mês A verdadeira história do iG (Editora Érica), livro de cerca de 200 páginas em que o consultor Pedro Luiz Cortês esmiúça e analisa os segredos do êxito do portal. Como foi planejada a estratégia de lançamento da empresa, o que queriam os investidores com o empreendimento e como Nizan Guanaes construiu a marca iG são os principais pontos da obra, a 28? publicada pelo professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, que também faz consultas de internet e marketing.

?O grande mote do livro é entender por que surgiu o iG?, adianta Cortês. ?O portal nasceu da união de investidores que injetaram 170 milhões de dólares no projeto de um provedor de acesso gratuito?, conta. ?Qual o objetivo desse investimento? Com certeza não é o mesmo do UOL, que está ligado a dois grandes grupos de comunicação (Grupo Abril e Grupo Folha)?, deixa a pergunta, enigmático. Embora seja público que os investidores criaram o portal para vendê-lo num EPO em Nova York, no que a intenção foi frustrada pela débaclê da Nasdaq, sendo forçados a ter que assumir, pelo menos por enquanto, a gestão permanente do negócio.

Em sua pesquisa, iniciada no começo de março, Cortês entrevistou personagens que fizeram a história da empresa, como Nizan Guanaes, o vice-presidente comercial André Carvalho, Alexander Mandic e a diretora de marketing Carla Sá. ?Eu procuro analisar a estratégia de marketing do iG?, diz Cortês. ?Ele poderia ter se tornado apenas mais um entre os provedores pequenos do mercado, onde a concorrência é muito grande.? Há explicação para tudo no livro, até para o fato de a empresa ter sido a primeira a oferecer acesso grátis à rede no país. Nada foi por acaso, garante Pedro.?A administração da marca foi feita de maneira proficiente?, avalia, ?o case do iG é muito interessante?.

Para o consultor, autor de Web Marketing – mantendo vantagens competitivas na internet, um dos trunfos do iG é dar ao público o que ele quer. ?Não adianta ter marca e não ter conteúdo?, afirma, ?e também não adianta ter conteúdo e não ter divulgação?. Outro ponto forte é a gestão de custos do portal, muito eficaz, de acordo com o professor. ?O problema de muitas empresas da web é que elas não sabem administrar seu crescimento e acabam contratando mais mão-de-obra do que necessitam?. Apesar da boa gestão operada pelo iG, contudo, o portal demitiu 29 de seus funcionários no início de março.

A idéia é lançar o livro, que já está na gráfica, durante a Fenasoft, evento marcado para o final de julho em São Paulo. Com o trabalho terminado, porém, Cortês teve a capa de sua publicação modificada de última hora – o projeto inicial era inspirado na cor vermelha que compunha o logo do iG, e, que, com o equilíbrio financeiro da empresa, deve ceder lugar ao azul. A nova capa foi aprovada nesta terça pelo portal, que, contudo, ainda não anunciou oficialmente o break even, já que espera por auditoria que o legitime, mas já o divulgou internamente."

IRÃ NA REDE

"Internet é a nova moda no país dos aiatolás",
copyright O Estado de S. Paulo / The Washington Post, 8/07/01

"Arash Fahimi é um adolescente em uma nação que olha com censura os namoros, proscreveu o rock e oferece a um jovem de 17 anos quase nenhuma chance de viajar para além de suas fronteiras. Mas Fahimi, como centenas de outros jovens iranianos, descobriu uma válvula de escape de seu casulo.

Sentado diante de um terminal de computador num cibercafé, ele baixa os últimos sucessos da música pop do Ocidente e conversa diariamente com pessoas que conheceu pela Internet em todo o planeta. Ele até mesmo encontrou uma namorada pela Web. ?Quero ter uma idéia melhor do que é o mundo?, disse Fahimi, com fones de ouvido pendurados em um boné de beisebol com propaganda da Nike e os dedos batucando no teclado. ?Já que não posso viajar para o exterior, a Internet é o melhor caminho.?

Na República Islâmica do Irã, onde o comportamento em público é estritamente regulado e os cidadãos temem ser presos por falar o que pensam, a Internet está transformando o estilo de vida pessoal e liberando a expressão pública numa velocidade que sua burocracia atrasada tecnologicamente tem sido incapaz de controlar.

O Irã está atrás de muitos países no uso da Internet porque o serviço apenas se tornou amplamente disponível há 18 meses. Só que agora está crescendo tão rapidamente que pegou o governo desprevenido. Altos funcionários estão esboçando regras e preparando softwares e equipamentos para contornar o acesso à Internet, mas dizem que ainda não está claro se as restrições serão adotadas e, caso sejam, o quanto serão efetivas.

Por ora, as salas de bate-papo são a novidade, por serem centros de recreação sem censura para jovens que têm poucos lugares para se encontrar ou expressar pontos de vista políticos. Os sites oferecem links para gays e lésbicas conhecerem-se, numa cultura em que o homossexualismo permanece sendo um tabu. Eles oferecem um foro para opiniões dissonantes num país onde o Judiciário, controlado pelos conservadores, fechou quase 40 jornais e revistas reformistas no último ano. Os usuários podem enviar flores para a mãe ou fazer negócios no campo do software com os EUA, apesar das sanções americanas contra o país.

Os cibercafés, ou ?coffeenets?, no linguajar iraniano, são abertos em Teerã à velocidade de um por dia. Estima-se que haja 450 operando, segundo cálculos do governo e de empresários. Alguns provedores de Internet dizem que o número de assinantes a cada mês é mais do que três vezes maior do que no mesmo período no ano passado. ?Há um ano e meio havia só dois cibercafés em Teerã?, diz Madjid Emami, de 30 anos, formado na Universidade da Califórnia. Ele retornou a seu país sete anos atrás e recentemente abriu um provedor particular com um grupo de amigos. ?Agora há um cibercafé em cada esquina. Até salões de chá estão instalando computadores.?

O governo e provedores particulares estimam que de 350 mil a 1 milhão de iranianos usam a Internet, a grande maioria por intermédio de universidades, órgãos oficiais e cibercafés. Dois anos atrás eram apenas 2 mil pessoas no país. Os cafés cobram cerca de US$ 2 por 1 hora de uso.

Em vez de atacar os potenciais demônios da Internet, muitos clérigos de alta posição criaram sites próprios – como o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, recomenda – para responder a questões religiosas, introduzir decretos do imã Ruhollah Khomeini e oferecer outras interpretações do islamismo. Algumas autoridades expressam preocupação sobre os usos da Internet e debatem o que fazer com ela.

?O Estado está preocupado com os problemas de segurança que a Internet pode trazer. Qualquer um pode colocar o que quiser num site sem ser identificado?, diz Shahram Sharif, de 29 anos, repórter especializado em informática no jornal Hambastegi. ?Um dia a Internet vai entrar em conflito com os interesses do Estado. Eles terão de decidir se ela será filtrada ou deixada livre. Hoje, tudo está em aberto.?

Algumas semanas atrás, a polícia fechou todos os cibercafés de Teerã, alegando que eles não tinham licença para operar. Os proprietários descobriram então que o governo havia posto um aviso em um jornal pequeno meses antes, advertindo-os sobre a necessidade de obter permissão. Depois disso, a maioria obteve autorização e voltou a abrir, segundo as autoridades.

?Nós temos que lutar contra os aspectos negativos da Internet, não com a própria Internet?, diz Ahmad Motamedi, ministro do Correio, Telégrafo e Telefone, que tem potencialmente a maior autoridade sobre o acesso e o controle de computadores no país. Motamedi revela que pretende modernizar o nome de seu ministério – mudando talvez para Ministério das Comunicações e Tecnologia da Informação – e admite que a burocracia do governo ainda não regulou a Internet, permitindo que provedores privados saltassem à frente do Estado no negócio.

?Quando cheguei ao cargo, no ano passado, tinham feito um investimento de US$ 100 milhões em compras de equipamento e tecnologia?, disse ele. ?Por causa da terrível burocracia, o material ficou jogado num canto.?

Como resultado, provedores privados de Internet estão usando o antiquado monopólio de telefonia do Estado e sobrecarregando as linhas para servir clientes cada vez mais frustrados. Empresas particulares competem com agências do governo na venda de pacotes para usuários. Motamedi explica que propôs ao presidente Mohaamad Khatami regulamentação e normas para o setor.

?Nós certamente incluímos na proposta algo relativo a obscenidades. Também não devemos permitir extremismos demais?, diz, referindo-se a alguns pontos que serão levados em consideração.

Segundo Motamedi, o governo se prepara para instalar filtros de software para impedir acesso a sites tidos como inadequados, mas reconhece que mesmo os sistemas mais sofisticados não criam barreiras impenetráveis. Ainda não está claro o modelo a ser adotado.

A Arábia Saudita, por exemplo, barra acesso a páginas que contêm pornografia, informação considerada crítica ao islamismo ou à família real, serviços de telefone via Internet e salas de bate-papo do Yahoo. A China bloqueia sites enfocando direitos humanos, os de publicações ocidentais e os do movimento espiritual Falun Gong. Mas a tecnologia permite aos usuários contornarem a maioria das restrições."

TROTES NA REDE

"Projeto enterrado", copyright IstoÉ, 8/07/01Surpresa

"Hollywood está produzindo um documentário provando que Jesus Cristo e os 12 apóstolos eram gays. Três milhões de telefones celulares nos EUA estão infectados por um vírus que apaga as funções do aparelho. O McDonald?s revelou em nota oficial o segredo do hambúrguer mais famoso do planeta: minhocas condimentadas e cérebro frito de macacos da Polinésia. Os negros vão perder o direito de voto a partir de 2007. Mentir é tão simples… Uma fantasia aqui, um exagero ali. Quando não é preciso olhar nos olhos do ouvinte, fica ainda mais fácil. O poder anônimo da comunicação virtual e a velocidade instantânea das notícias no mundo eletrônico transformaram a internet num prato farto para os mentirosos e uma armadilha aos navegadores de primeira viagem.

Como o e-mail é a maior forma de troca de informações entre os 500 milhões de internautas no mundo, virou pombo-correio de lorotas. As mais corriqueiras são os falsos vírus que destroem programas e facilitam o acesso às senhas. Dinheiro fácil também virou arroz de festa. Num desses boatos digitais, Bill Gates ofereceu US$ 1.000 e uma cópia do Windows 98 a quem repassasse sua mensagem ao maior número de pessoas. O pedido para espalhar um e-mail é a primeira pista de cilada à vista. Outras fábulas saem de sites tão elaborados que até os veteranos caem. Recentemente, o jornal paulista Diário do Grande ABC estampou um mea-culpa na primeira página por ter anunciado que o físico e Prêmio Nobel Stephen Hawking havia se livrado da cadeira de rodas graças a uma armadura de metal, um exoesqueleto.

Essas cascatas fazem parte do lixo eletrônico ou spam – o correio indesejado, que abarrota o computador com propostas inusitadas, desde venda de produtos até correntes para salvar uma criancinha com câncer. O material é tão vasto que já recebe classificações. Histórias que correm há anos na rede e fora dela, como xampus que usam produto cancerígeno para fazer espuma e o sujeito que vai a um motel com uma prostituta e acorda sem um rim, entraram para o rol das lendas urbanas. O resto é hoaxe – peça ou trote eletrônico, alguns dignos de um roteiro de Steven Spielberg. Tudo o que os mentirosos querem é monopolizar a atenção. E conseguem. Apesar dos protestos de entidades de defesa dos animais, o site www.bonsaikitten.com continua no ar, ensinando a enfiar gatos em vidros para decorar a casa. No www.manbeef.com vende-se salame e salsicha de carne humana a US$ 14,75 e entre US$ 10 e US$ 12, respectivamente. O acepipe supostamente viria de cadáveres de pessoas que venderam seus órgãos ainda em vida."

Surreal – ?Essas brincadeiras funcionam como exercício para quem quer aprender a mexer na rede?, diz Mauro Marcelo de Lima e Silva, delegado especializado em crimes pela internet. Ele ajuda a polícia paulista a solucionar uma denúncia surreal: a de que um televisor SempToshiba teria implodido e sugado uma criança. ?Chegamos ao computador de onde partiu a mensagem. Mas descobrir o autor é quase impossível porque os serviços de e-mail gratuitos não fazem sequer cadastro de seus usuários?, explica Silva. O prejuízo dos hoaxes é que eles entopem a rede e tornam lenta a navegação. O pior é o efeito multiplicador. ?Num clicar de mouse, a mensagem é repassada a toda sua lista de endereços?, constata Silva. Saber filtrar os assuntos é uma recomendação importante.

Carne: corte, preparo e entrega

O gerente de marketing Augusto Avelar, 23 anos, enviou a 20 amigos um boato sobre o surto de sequestros relâmpagos de mulheres em shoppings de São Paulo. A assinatura automática de Avelar foi junto com os e-mails e ele acabou sendo confundido com o autor da denúncia. ?Minha caixa postal está lotada. Recebo telefonemas o dia inteiro?, lamenta. O escritor Luis Fernando Verissimo e o cartunista Ziraldo foram vítimas ilustres do hoaxe. Dois textos circularam pela rede com as suas valiosas assinaturas. O que levava o crédito de Ziraldo era um manifesto raivoso e desbocado contra o apagão. ?Sou indignado, mas não uso expressões de mau gosto. A internet é uma poderosa fábrica de boatos?, vociferou Ziraldo. Verissimo nem sequer conseguiu convencer alguns de seus leitores de que não era autor da crônica que compara o pagode, o axé e o sertanejo a drogas a serem resistidas. ?Passei por um idiota que não se lembra do que escreveu?, brincou.

No divã, essa credulidade teimosa pode ser interpretada como sinal de busca de identidade. ?As histórias fantásticas tampam buracos de dúvidas e questionamentos reais e fazem o sujeito se reconhecer em algum grupo, como o dos que acreditam em saci pererê?, analisa a socióloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Gabriela Guimarães. Mas o coordenador da Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro, Fredric Litto, acha que é falta de esperteza mesmo. ?Não se pensa com clareza. Deveria se ensinar na escola a julgar o valor de uma informação?, diz Litto. ?Na sala de aula, os professores passam a imagem de ser fontes de conhecimento inquestionável. Isso atrofia o senso crítico da criança, que no futuro terá dificuldade para discernir o falso da realidade?, faz coro o psicólogo americano e consultor de comunicação na rede, James Creighton.

Seleção – A internet coloca à disposição do usuário um volume monstruoso de informações. Mas não é só por estar disponível na tela que tudo é verdadeiro. Um estudo do Journal of the American Association afirma que quase metade dos sites médicos traz informações contraditórias e não confiáveis. ?Discute-se hoje a classificação obrigatória dos sites, responsabilizando-os pelo conteúdo. Enquanto não houver uma seleção criteriosa, não se pode esperar ética na internet?, opina António Tavares, vice-presidente do provedor de acesso Vianet.Works na América do Sul. Portanto, cheque a fonte e acredite se quiser."

    
    
                     

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