Friday, 11 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Mídia desprezou dados vitais

ELEIÇÕES NA FRANÇA

Chico Bruno (*)

O resultado do primeiro turno da eleição presidencial francesa deve servir como um sinal de alerta no Brasil para a divulgação de pesquisas e para as analises dos analistas políticos brasileiros. Na França, a imprensa se deteve, assim como no Brasil, apenas no resultado do placar eleitoral das pesquisas.

Na França, as pesquisas são proibidas na semana da eleição. Os últimos números divulgados davam 20% a Jacques Chirac, 18% a Lionel Jospin e 14% a Jean-Marie Le Pen. Com base nesses números, os jornais franceses previam um segundo turno entre Chirac e Jospin. O resultado do primeiro turno: Chirac, 20%, e Le Pen, 18%. Essa diferença ? entre a última pesquisa, uma semana antes da eleição, e o resultado final ? já aconteceu em várias eleições no Brasil. E deu motivo para a abertura, neste ano, da CPI das Pesquisas, no Senado. Como pesquisa é uma fotografia do momento, não se pode confiar em dados divulgados na semana anterior à eleição, principalmente porque o trabalho de campo foi realizado uma semana antes da divulgação dos resultados. Esse foi o grande erro da imprensa francesa, aliado à falta de leitura correta dos resultados.

O que aconteceu na França foi o desprezo dos analistas políticos pela totalidade dos dados das pesquisas. Os jornais franceses desprezaram os indicadores que previam 30% de abstenção, 5% de indecisos e 54% que tinham pouco ou nenhum interesse na eleição. Os resultados do primeiro turno apontaram uma abstenção de 28%, e os indecisos, desprezados pela imprensa francesa, acabaram alterando os resultados da eleição. O que era previsível, pois estavam lá, nas respostas de sondagem da opinião pública.

É preciso aprender a ler

A grande quantidade de candidatos, 16, pulverizou os votos e fez com que um candidato com menos de 20% chegasse ao segundo turno. Vale ressaltar que a maioria era de esquerda, o que dificultou ainda mais a vida do socialista Lionel Jospin. Esse detalhe, também, foi desprezado pelos jornais franceses, embora os dados apontassem para ele. Bastava ler os números do placar desses candidatos para se ter uma idéia das dificuldades de Jospin.

O que aconteceu no domingo na França com certeza pode vir a se repetir no Brasil. Por isso, é preciso que os analistas políticos brasileiros leiam a totalidade das respostas que as pesquisas fornecem, para que não desapontem seus leitores e não arranhem a credibilidade dos institutos de pesquisa, que acabam sempre como vilões quanto se encerra a apuração.

Esse episódio francês veio a tempo e a hora para a imprensa brasileira. Que sirva de alerta e exemplo para que jornais, TVs e rádios tupiniquins aprendam a ler os dados e não incorram nos mesmos erros franceses.

(*) Jornalista