Monday, 14 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Na Fair, outro cenário

ISRAEL-PALESTINA

A organização Fair (Fairness and Accuracy in Reporting) apresenta cenário completamente diferente em pesquisa sobre o uso da palavra “retaliação” nos telejornais noturnos da ABC, CBS e NBC (4/4/02). Segundo este observatório da mídia, o termo sugere uma postura defensiva em resposta à agressão de alguém e joga a responsabilidade pela violência nas mãos de quem aparentemente iniciou o conflito. E as redes caracterizaram a violência israelense como ?retaliação? quase nove vezes mais do que fizeram com a violência palestina.

O estudo descobriu que, do começo da Intifada, em setembro de 2000, a 17 de março, os noticiários das três principais redes americanas empregaram variações de “retaliação” 150 vezes para descrever ataques no conflito israelense e palestino. Mas em 79% das vezes referiu-se à “retaliação” israelense contra palestinos, enquanto apenas 9% caracterizava desta forma ataques palestinos (12% referiam-se a ambos os lados ou eram usados de forma ambígua).

A Fair argumenta que os dois lados sempre apresentam seus ataques como revides a agressões anteriores, e retratam sua luta como defensiva. “O fato é que repórteres fazem escolhas ao relatar os ataques.” Entre os telejornais, World News Tonight (ABC) foi o mais equilibrado, usando o termo em 64% das vezes para descrever ações israelenses e em 21%, para palestinas; no Evening News (CBS), os números foram, respectivamente, 79% e 7%, enquanto Nightly News (NBC) não caracterizou nenhum ataque palestino como “retaliação”.

Por fim, a organização lembra que é inexato apresentar qualquer lado como se estivesse agindo puramente em defesa própria, já que estatísticas de grupos de direitos humanos, como o israelita B’Tselem, mostram que muitos não-combatentes foram mortos neste conflito: durante o mesmo período medido pela pesquisa da Fair, as forças israelenses mataram 823 civis (192 deles, crianças), enquanto palestinos mataram 253 (48 crianças). Quando a mídia cede à tentação de definir papéis, diz a Fair, ela simplifica o conflito e presta um desserviço ao público.

 

Pesquisa de opinião da CBS News (3/4/02) descobriu que sete em cada 10 americanos estão acompanhando atentamente as notícias sobre o conflito no Oriente Médio. Em geral, há maciça simpatia por Israel (52%, contra 10% pelos palestinos) e considera-se que o ataque foi justificado (65% contra 23%); no entanto, 51% (contra 30%) acreditam que o governo deveria ter tentado uma solução diplomática antes, 47% contra 28% apóiam a resolução da ONU, que pede a retirada de áreas ocupadas, e 63% acham que a ação apenas estimulará mais ataques contra o estado judeu ? quase ninguém acha que o tornará mais seguro.

Além disso, 33% não acham que os homens-bomba representam todos os palestinos, enquanto 53% acreditam que representam apenas a visão de poucos. Embora 59% digam que o que acontece em Israel é muito importante para os EUA, não há consenso sobre como deve ser a postura do país: 44% acham que os EUA têm responsabilidade de resolver o conflito, mas 46% dos americanos dizem que isto não é problema seu.

 

Israel cancelou as credenciais de dois jornalistas da TV árabe e ameaçou entrar com ação legal contra a CNN e a NBC por ignorar ordens militares e transmitir da cidade sitiada de Ramala. O governo anunciou que Leileh Odeh e Bassam Azawi perderam as licenças depois que o canal Abu Dhabi exibiu matéria no dia 31 alegando que tropas israelenses executaram um grupo de jovens. Segundo o comunicado, a rede “tem divulgado crua propaganda anti-Israel e assumido uma postura combativa e hostil, agitando o mundo árabe”.

Steve Weizman [AP, 2/4/02] revela que o governo também enviou reclamações à CNN e à NBC, cujos correspondentes continuam a transmitir de Ramala mesmo após a região ter sido declarada zona militar fechada, de acesso proibido a jornalistas. No dia anterior, uma equipe da CBS News foi expulsa da cidade, o que gerou protestos da Associação de Imprensa Estrangeira em Israel.

Em Nova York, o Comitê de Proteção aos Jornalistas enviou carta ao premiê Ariel Sharon afirmando que o país tem obrigação de permitir que repórteres trabalhem livremente. “Tentar impedir jornalistas de testemunhar eventos na região é um ato evidente de censura”, escreveu o grupo, preocupado com a segurança dos profissionais. A Federação Internacional dos Jornalistas, sediada em Bruxelas, criticou o fechamento de zonas para a imprensa. “A censura só vai levar a mais ignorância, boatos e medo.”

Justificativas

Matéria de Israelinsider.com (1/4/02) relata as razões do governo. Aparentemente, a entrada de um grupo de repórteres e ativistas internacionais no quartel-general de Arafat irritou Israel não apenas por entrarem em zona militar, mas porque teriam trazido celulares ao líder palestino, um meio de furar o isolamento. O governo também alega que, com a imprensa, saíram do edifício fugitivos procurados, logo identificados e detidos. “Eles se aproveitaram da abertura de Israel”, ataca o chefe de operações das Forças Armadas, major Giora Eiland.

Surpreendentemente, afirma Israelinsider.com, a tentativa não foi relatada pelo correspondente da CNN, Michael Holmes, que fazia parte do grupo, embora a presença de fugitivos com Arafat seja um dos principais pontos de disputa entre israelenses e palestinos e tema de numerosas reportagens.