Wednesday, 09 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

"Na TV, sessão não altera Ibope", copyright O Estado de S. Paulo, 4/05/01

ASPAS

CRISE DO PAINEL
O Estado de S. Paulo

"Na TV, sessão não altera Ibope", copyright O Estado de S. Paulo, 4/05/01

"A sessão de acareação realizada ontem no Conselho de Ética do Senado não alterou substancialmente a média de audiência das emissoras que a exibiram. Em alguns casos, como o do SBT, chegou mesmo a provocar uma queda de ibope em relação a outros dias.

A acareação começou a ser exibida às 14h40 pela Record, Cultura, Band e os canais pagos GloboNews, BandNews e TV Senado. A Cultura foi a única dos canais abertos a exibir o debate na íntegra, mas não ultrapassou a média habitual de 1 ponto nas duas primeiras horas de declarações. Quando todas as outras emissoras tiraram a sessão do ar, o índice do canal subiu para 3 pontos de média e pico de 5,4 pontos às 17h40.

A Band e a Record, que tiraram a sessão do ar às 16h20, ficaram com médias de 2 e 3 pontos, respectivamente.

A Globo exibiu dois momentos do debate entre os senadores, entre 14h55 e 15h35 e entre 16h20 às 16h25. Obteve 12 pontos de média em ambos os horários, o que equivale à media normal nas tardes da rede. O SBT ficou com 8,7 pontos de média entre 14h57 e 15h12, quando exibiu a acareação pela primeira vez, e entre 15h50 e 16h30, no segundo bloco de exibição do evento.

A RedeTV! cravou 4 pontos entre 15h50 e 16 horas, o dobro da média que obtém no horário. Cada ponto no ibope equivale a 44 mil domicílios na Grande São Paulo."

Ignácio de Loyola Brandão

"No limite: sucesso da Tevê do Senado", copyright O Estado de S. Paulo, 4/05/01

"Pelo número de e-mails, fax e telefonemas, acredito que o interesse pelo mistério do sapinho, que morou em minha garagem por algumas semanas, foi tão grande quanto a novela Violado no Senado. Estou plagiando o mancheteiro do jornal que noticiou Sérgio Ricardo quebrando a viola em antigo festival de música. O mistério foi desfeito. Certo dia, Josenaldo, faxineiro do prédio, ao colocar vasos de plantas na camionete de Maria Rodrigues, a síndica, viu o sapinho muito quieto, escondido embaixo de um arbusto. A camionete ia para o sítio de Maria e Josenaldo compreendeu que o bichinho estava voltando para o lugar de onde provavelmente veio. Esperamos que esteja lá, feliz, numa água. Ainda bem que, durante sua breve vilegiatura paulistana, ninguém o engoliu. Tanta gente está engolindo sapos!

Apesar do Credicard Hall, desajeitado de chegar, complicado de estacionar (se estiver chovendo, é catastrófico esperar as vãs), desorganizado quanto às mesas (venderam-me a mesa H2 e ela não existia, deixando as controladoras descontroladas), o show de Elyade Ochoa, o cubano, valeu. Valeu pelas músicas e por uma dessas frases que as pessoas ou preparam lentamente ou soltam ocasionalmente, sem ter idéia do alcance. Na conversinha amena que estabeleceu com a platéia, procurando formar um clima, falando de vida e morte, Elyade se mostrou filósofo. Exibiu curiosidade em saber o que existe do lado de lá, mas confessou: ?Não tenho medo de morrer. O que me preocupa é o tempo que vou permanecer morto.? Ele nem precisava mais tocar, eu tinha ganho a noite.

A música cubana está na ordem do dia, depois do Buena Vista. Tudo agora é Buena Vista. Entidade mítica a partir do Wim Wenders, o Buena Vista se multiplica e se distribui pelo mundo, fazendo as pessoas dançarem. Quem diria, foi preciso um ?frio? alemão para recuperar ritmos quentes que o bloqueio americano tirou de circulação. A gravadora Trama acaba de editar uma coleção de quatro discos, Cubanissimo, com o pistonita Jesus Alemañy, considerado tão grande quanto Miles Davis. É preciso olhar o trabalho que a Trama vem realizando, lançando novos, nacionais e internacionais, resgatando velhos, se arriscando, colocando na praça música boa que gravadoras comerciais recusam. Não estivesse à frente da gravadora o João Marcelo Boscoli, inquieto e apaixonado. Como gente bonita atrai gente bonita, ele tem ao seu lado a doce Manu. E a gravadora Caravelas acaba de lançar os Originais Cubanos, conjunto de dez discos que trazem da Casa de la Trova a Elyade Ocho, do Cuarteto Patria a Orquestra Todos Estrellas, de Rubén Gozales a Raul Planas, a divina Omara Poryuondo e, claro, Ibrahim Ferrer.

Muito bem. No Brasil, agora, precisamos dançar para suportar o esgoto que desce do Senado para dentro de nossas casas, pelos telejornais e pela TV Senado. Agora, todo mundo está vendo os depoimentos dos mentirosos pela TV Senado. Inacreditável. Aquela emissora, de uma chatice inominável, de repente ganha índices no Ibope que alegrariam os que vivem na dependência das pesquisas. Maníaco em pesquisa não é contraventor? Afinal, é vício que deixa as pessoas maluquinhas, transtornadas, fora de si.

Deviam proibir crianças e jovens de assistirem aos depoimentos. Ver Arruda e ACM mentindo, desconversando, burlando, falsificando fatos, contando patranhas, se enrolando na mistificação e empulhação, é mau espetáculo, afronta a sensibilidade e inteligência. Estamos chegando à verdade através da mentira. Procura-se, por outro lado, inverter tudo, acusando o País de discriminação. Alega-se: Os que estão contra ACM estão contra a Bahia.

Ninguém está contra a Bahia nem contra os baianos. A Bahia criativa, moderna, não está representada em ACM. O caráter do povo baiano não está sintetizado em ACM. Ele não merece o apoio da gente boa que apareceu para um abraço; está usando essa gente.

Pode ser que seja necessário voltarmos às ruas, para recuperar a indignação perdida. Já fomos às ruas pelas Diretas Já, pintamos as caras contra Collor. Porto dos Milagres que se acautele! O político mau-caráter que a novela exibe, é Filha de Maria (somente os antigos vão entender) perto de ACM e Arruda. Como é que gente assim volta para casa à noite, olhando para a mulher e os filhos? Ou sou simplório, ingênuo? Gente assim ama a carreira, a mentira. Vergonha, indignidade, indecência? Ora, vejam meu poder, minha conta bancária! A nossa resistência tem sido maior do que os concorrentes de No Limite."

Nelson De Sá

"Antonio & Regina ", copyright Folha de S. Paulo, 4/05/01

"?Não.? Foi a resposta de Regina Célia Borges a uma primeira pergunta, sobre se havia sofrido ameaças depois do primeiro depoimento.

O que se viu a partir daí, no espetáculo de ontem, foi a coincidência insistente entre o que ela dizia e o que dizia ACM.

Assim começava, também com elogios de parte a parte, de Antonio a Regina e vice-versa, a ?acareação? -em realidade, uma tomada caótica de novos depoimentos.

José Roberto Arruda, isolado num canto, nem parecia dar importância ao que acontecia, acumulando contradições consigo mesmo, despreocupado.

Entre outras, Regina Borges confirmou, por vezes usando quase as mesmas palavras, a versão de ACM para o telefonema que ele deu a ela, após receber a lista.

Sobre a descrição do telefonema que havia apresentado no primeiro depoimento, chegou a questionar a si mesma, dizendo ter sido ?claudicante?.

Assim foi o espetáculo, até o fim da tarde, quando entrou em cena Jefferson Péres.

O senador pedetista tentou evidenciar as contradições, foi incisivo. Até atingir a ?admoestação? ou repreensão que ACM teria feito a Regina Borges, pela violação do painel.

Citou a frase do próprio ex-presidente do Senado em seu primeiro depoimento: ?Sobre este assunto, eu fiz alguma admoestação?. E opôs o que estavam dizendo agora ACM e Regina Borges, em insistente uníssono, de que não houve a tal admoestação.

Daí partiu Jefferson Péres a questionar por que ACM não havia repreendido a funcionária logo depois de receber a lista. O senador baiano, em meio a ameaças, disse que ?não sabia se ela tinha culpa?.

Péres ficou bestificado, parou de perguntar e saiu, num ato teatral de quem não aguenta mais o Senado.

A partir daí, ACM murchou e Regina Borges passou a ser mais e mais questionada.

Até que, após ser levantado abertamente que estaria incriminando Arruda e beneficiando ACM, ela chorou -ou quase, o bastante para as câmeras fecharem no seu olhar, em busca de lágrimas.

Faixa perto do Congresso: ?Regina, não se intimide?.

O JN, perdido na bagunça da ?acareação?, não passou de uma manchete vaga, ?contradições em Brasília?.

Mas deu um jeito de dizer, abrindo o primeiro bloco: ?Agora há pouco, o senador Antero Paes de Barros disse que Antonio Carlos Magalhães faltou com a verdade?."

Laura Mattos

"Globo aproveita a crise para escarnecer de ACM", copyright Folha de S. Paulo, 4/05/01

"O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), cuja família é proprietária da retransmissora da Rede Globo na Bahia, não tem sido poupado pela emissora na cobertura jornalística da crise do Senado e virou o alvo preferido do humorístico ?Casseta & Planeta?, que terça-feira usou o trocadilho Antonio Carlos ?Fraudalhães?.

ACM também não gostou do fato de a novela das oito, ?Porto dos Milagres?, ter incluído recentemente na trama um senador baiano envolvido em irregularidades. Na véspera do depoimento de ACM ao Conselho de Ética do Senado, na semana passada, foi ao ar um capítulo em que o senador, interpretado por Lima Duarte, tem uma conversa gravada secretamente por um adversário.

O ?Programa do Jô?, que fez entrevistas com os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Heloísa Helena (PT-AL), adversários de ACM, tem sido chamado pelo senador de ?palanque da oposição?.

Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, afirma que ACM ?está sendo e será tratado como qualquer político seria na cobertura da violação do painel eletrônico e em qualquer outro episódio?. Ele diz ainda que o manual jornalístico da emissora afirma que ?o jornalismo não tem afetos nem desafetos?.

O programa ?Casseta & Planeta?, que teve de deixar de exibir recentemente um quadro de sátira à cantora Sandy, protagonista da novela das seis, tem, segundo seus diretores, liberdade para tornar ACM avo de suas piadas. ?No caso da sátira a ACM, não recebemos interferência nem para colocar nem para tirar nada?, afirma Claudio Manoel, ator e redator final do programa.

Jô Soares disse à Folha, com ironia, que ?agradece o elogio de ACM?. ?Meu programa é um fórum aberto de debate, e estamos tentando trazer ACM também para entrevistá-lo.?

Ricardo Linhares, autor de ?Porto dos Milagres?, disse que o senador Vitório (Lima Duarte) ?não foi diretamente inspirado em ACM nem em nenhum outro político?. ?A inspiração vem certamente do escândalo no Senado e do quadro político atual?, disse.

ACM sempre teve uma relação próxima a Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo. Os laços se estreitaram quando ACM foi ministro das Comunicações (governo Sarney) e a retransmissão da Rede Globo na Bahia passou para a TV Bahia, propriedade da família Magalhães.

Mas ACM passou a sentir um tratamento diferente da emissora em março de 2000, quando foi exibido o ?Globo Repórter? em que seu nome era envolvido nas denúncias de Nicéa Camargo, ex-primeira dama de São Paulo, contra a gestão de Celso Pitta.

Na época, ACM enviou carta aos filhos de Roberto Marinho, dizendo que estranhava a maneira como havia sido tratado no episódio. Recebeu como resposta que um empresário da comunicação deveria entender a necessidade de separar a amizade entre famílias da linha editorial da emissora."

Volta ao índice

Jornal de Debates ? próximo texto

Jornal de Debates ? texto anterior

Mande-nos seu comentário