Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nasce a concorrência

O SUL

Gilmar Antonio Crestani (*)

A Rede Pampa, proprietária de rádios e TVs, está entrando na mídia impressa. A campanha de lançamento do novo veículo, O Sul, foi desencadeada com a seguinte pergunta em outdoors espalhados pela região metropolitana de Porto Alegre: "O seu jornal é imparcial?" A pergunta não é mera expressão retórica.

O problema levantado fez lembrar a definição de belo, do Voltaire: "Perguntem a um sapo o que é a beleza, o belo admirável, o tokalón. Responder-vos-á que é a fêmea dele, com os seus dois grande olhos redondos, salientes, espetados na pequenina cabeça, um focinho largo e achatado, barriga amarela, dorso acastanhado".

Imparcialidade é termo caro também ao Direito. Há juízes que procuram a imparcialidade, outros que a defendem. Outros há que a pensam impossível. Estes, atrelados ao Direito Alternativo, dizem que, ao proferir uma decisão, o magistrado está pendendo para um ou outro lado, já que não pode haver empate e há sempre duas partes, no mínimo, envolvidas na controvérsia.

Sob o signo da controvérsia, a RBS parece ter vestido a carapuça, já que ameaçou acionar a Justiça para abortar o nascituro. E isso já é um ganho. O simples fato de provocar a concorrência, o novo jornal, além de expandir o mercado, será, esperamos, uma alternativa ao quase monopólio da RBS.

Briga de titãs

Um jornal que nasce independente, todo em cores mas sem cor partidária, e que não depende das "facilidades" do "venerando e degenerado cifrão" (que Alberto Dines tributou ao jornalista-empresário Horácio de Carvalho para reequipar seu Diário Carioca), é uma notícia alvissareira de que se ressente o povo gaúcho.

Pilotado por Paulo Sério Pinto, ex-Correio do Povo, O Sul não terá "os ex-jornalistas convertidos em respeitáveis lobistas" que derrubaram Boechat, de que fala Dines no mesmo artigo do Jornal do Brasil (30/6/2001). Aqueles que também já foram respeitáveis governadores. Pelo menos a promessa de que não se pautará pela quadratura do círculo do cifrão, poder, informação.

Não há como não transportar para a província sulista a análise que Dines faz do centro do país quando diz: "Sobretudo no segmento da telefonia e telecomunicações onde circulam somas e apetites imensuráveis. Convém lembrar que os maiores grupos jornalísticos brasileiros, de uma forma ou de outra, estiveram ou estão intensamente envolvidos na privatização da telefonia e nos ramos correlatos das telecomunicações. Suas cruzadas moralizantes são tão legítimas quanto à presença de Gilberto Mestrinho à frente da Comissão de Ética do Senado". Pois bem. A Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações ? CRT foi a primeira empresa brasileira, no ramo de telefonia, transferida à privada RBS. A briga de titãs com a Telefônica quase sepultou esta. Em todo caso, para sobreviver, teve de vender o provedor Zaz para a Telefônica de Espanha, o Cablemodenet, agora Vírtua, para o Grupo Globo. Nas rodas de especulações, também o jornal Zero Hora estaria em negociações com o Globo. Para cúmulo dos azares, encontrou um novo governo estadual, mas sem as velhas e renovadas "facilidades".

Não há mal que sempre dure

Não bastasse ter sido estancado o dreno das publicidades públicas estaduais, piorou o nível de credibilidade dos veículos do Grupo RBS. O remédio amargo da concorrência poderá servir de tábua de salvação, pelo menos ao jornal Zero Hora. Terá mais um parâmetro para confrontar com o jornalismo que pratica.

No plano da relação política com o Estado, antes a RBS dizia que a oposição ao governo Antonio Britto não tinha idéias. Só críticas. Uma vez eleita a ex-oposição, sacou outra maldade, dessa vez associada a ACM e ao PMDB do gaúcho Eliseu Padilha: o governo gaúcho não tem projetos e expulsa empresas como a Ford. Mas o " bigode" virou teflon, então partiram para outra: são projetos de cubanização do Rio Grande do Sul. Agora inventaram uma CPI da Segurança que está tratando da relação dos políticos com os bicheiros ? alguns, inclusive, são integrantes e assessores da dita CPI. É a velha sentença latina: civis pacem para bellum. Se queres a paz, prepara-te para a guerra. Ou, a melhor defesa ainda é o ataque.

Para a RBS, o Rio Grande está na contramão. Não se pode negar razão a esta assertiva. E a justificativa é que, ao contrário dos demais entes federados, o estado criou uma Universidade Pública. E, desaforo, gratuita! Investir em educação não é atribuição do Estado, é coisa Di Gênio!

Não há mal que sempre dure, nem imparcialidade, venalidade que não encontre concorrência. Mas, se beleza é fundamental, como diria Vinicius, para uma sapa bonito é o sapo.

(*) http://www.crestani.hpg.com.br/

    
    
                     

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