Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nelson de Sá

CRÍTICA DIÁRIA

"Coluna No Ar", copyright Folha de S. Paulo

"8/02/02 ? Brasileiros e Brasileiras

A Band News anunciou, com destaque:

– Nizan Guanaes deixou o PFL… Ele enviou um comunicado ao presidente do partido, Jorge Bornhausen, rompendo o contrato.

Não por acaso, a decisão do publicitário acontece no momento em que FHC, José Serra e demais governistas abrem a campanha de TV, agressivamente.

O pré-candidato surgiu em mangas de camisa, no horário nobre, para dizer que os maços de cigarro terão fotos dos estragos causados pelo fumo. É informação de semanas atrás, mas o que importava era o palco.

Em sua encenação, Serra disse mais de uma vez como precisou ?enfrentar a poderosa indústria do fumo? para fazer a coisa certa.

Por outro lado, ele não poderia alienar com suas ?medidas corajosas?, como chamou, todos os que querem seguir fumando -e não suportam pressões politicamente corretas. Então, disse:

– Olha, fumar é uma decisão pessoal e nós respeitamos. Como respeitamos todos os brasileiros e brasileiras, os que fumam e os que não fumam.

E os que votam.

Também no horário nobre, mas nos telejornais, lá estava FHC em mangas de camisa, bradando contra o corporativismo e o Congresso que emperram seus projetos contra a violência. E lá estava a primeira-dama, de volta à TV depois de bom tempo, agora com ações na periferia do Rio.

O bloco de José Serra está nas ruas.

O bloco de Garotinho, de seu lado, segue os passos de Fernando Collor -ocupando o horário público de partidos nanicos.

Washington Olivetto, um raro publicitário que sempre recusou fazer campanhas eleitorais, falou ontem do cativeiro com segurança e até bom humor, como registraram telejornais.

O que pouco se viu, na TV, foi um dos trechos finais da entrevista de Olivetto, em que ele afirmou que poderia ter sido ?trágica? a divulgação de seu sequestro.

O assunto tornou-se tabu.

Um dia depois que o diretor da CIA soltou publicamente a previsão de grave crise política na Venezuela, um coronel surgiu para dar voz ao suposto descontentamento militar. Na Band News:

– O coronel pediu a renúncia de Hugo Chávez, depois de chamá-lo de tirano. O militar disse falar em nome de 75% dos integrantes das forças armadas venezuelanas.

Foi preso horas depois.

7/02/02 – Avançar mais

As bandeiras ao fundo, o terno alinhado, a precisão na mensagem, até mesmo o tom professoral: o discurso de FHC bebeu na velha fonte de Nizan Guanaes, conhecida de suas duas campanhas.

Foi na mensagem, mais do que na forma, que deixou sua marca. As poucas falhas, como os microfones cobrindo parte do rosto do presidente, não perturbaram a evidência de um discurso inteiramente concertado com o de José Serra.

Nas palavras de FHC, muito se fez em sete anos, mas dá para ?avançar mais?. Ou:

– Há muito pobre no Brasil… Nós começamos a mudar isso.

Foi o que Serra começou a delinear em seu discurso de pré-candidato, três semanas atrás -e foi o que seu grande eleitor detalhou ontem aos ministros, com destaque, na platéia, para Pedro Malan.

Na avaliação do comentarista Franklin Martins, foi um discurso, primeiro, ?para mostrar que o governo não fez tudo, mas fez muita coisa?. Segundo, ?para dizer que ainda há 11 meses de governo, e em 11 meses dá para fazer muita coisa?.

Dá para fazer, para começar, mais uma campanha.

O Jornal Nacional destacou que o paço municipal de Santo André já traz a contagem dos dias sem solução do caso Celso Daniel.

E ontem mais um cativeiro foi ?estourado? a partir de investigações do caso, mas a relação com Santo André não se confirmou. E foi encontrada mais uma base -a sexta- da quadrilha que sequestrou Washington Olivetto.

Mas nada do assassinato de Celso Daniel. A contagem já vai para 20 dias.

O âncora Boris Casoy bem que avisou que grupos de direitos humanos não demorariam a aparecer, em defesa dos sequestradores de Olivetto.

O JN destacou ontem a chegada ao Brasil de uma representante de comissão de direitos humanos do Chile.

A CNN demorou, mas abordou o fórum de Porto Alegre. Foi num debate entre uma jovem ativista, recém-chegada do Brasil, e um empresário que foi ao fórum de Nova York.

A jovem fez um breve relato de Porto Alegre e foi ao ataque, questionando a ação do Banco Mundial na África. O empresário reagiu dizendo que o ídolo pop Bono Vox havia relatado que os cidadãos africanos gostavam do Banco Mundial.

Está aí o que Bono foi fazer em Nova York, afinal.

6/0202 ? Festival

A imagem que fechou e fica como a marca do 2? Fórum Social Mundial, ontem nos telejornais, foi a do governador petista Olívio Dutra dançando próximo ao prefeito petista Tarso Genro, num palco, bisonhamente.

São os dois pré-candidatos do PT ao governo gaúcho, em disputa fratricida -não só entre eles mesmos, por publicidade eleitoral, mas sobretudo contra os milhares que foram a Porto Alegre atrás de outra coisa que não fazer campanha.

Outra imagem poderia servir de marca final, para o verso da política eleitoral que manchou o fórum.

Foi uma outra festa, que a Globo News quantificou em 40 mil pessoas, jovens que se acotovelaram anteontem para ver o show de encerramento do fórum, num anfiteatro. Seis bandas tocaram, de O Rappa a Replicantes.

Na Band News, falou-se em ?cenário de festival de rock?. Nada que pudesse se confundir com Olívio Dutra e Tarso Genro dançando.

De um lado, um festival de O Rappa, Replicantes, o argentino Fito Paez.

Do outro, em Nova York, o vocalista Bono Vox, descrevendo na CNN sua banda U2 como uma ?corporação? (sic), dadas as suas proporções. Mas uma corporação atenta aos pobres do Terceiro Mundo.

Um depoimento fechado, mais um Tempra azul encontrado -e não foi muito além o noticiário da televisão sobre as investigações do assassinato de Celso Daniel.

Depois do espetáculo que foi a libertação do publicitário Washington Olivetto, ainda faltam sinais mínimos de avanço no crime que iniciou todo o alarme de segurança.

Enquanto isso, o telespectador vai sendo alimentado a doses regulares de mais e mais detalhes do cativeiro do publicitário, como o diário metódico mantido pelos sequestradores ou a quarta e a quinta bases da quadrilha.

Com os dois fóruns fechando as portas e sem novidade no caso Celso Daniel, o jogo eleitoral do governismo volta aos poucos à boca de cena.

Ontem, ao vivo no Bom Dia Brasil, era o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, quem dava suas opiniões eleitorais. Para ele, qualquer que seja o novo presidente, até do PT, a política econômica não deve mudar muito.

Questionado sobre os sinais eventuais de que pode seguir no cargo, no futuro governo, ele se declarou ?lisonjeado?."