Thursday, 10 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Nelson de Sá

CRÍTICA DE TV

"Terror e escravidão", copyright Folha de S.Paulo, 26/3/02

"Começou logo nas semanas seguintes aos atentados de 11 de setembro. A Rússia saiu atrás de seus ?terroristas?. Ariel Sharon saiu atrás de seus ?terroristas?.

Muitos mais o fizeram. No fim de semana, por aqui mesmo, foi a vez do ministro da reforma agrária, que bradou no Jornal Nacional:

– Terroristas!

Que cada um escolha o seu. O adjetivo serve para todas aquelas ocasiões em que a autoridade é questionada e se faz imperativo humilhar.

Os terroristas locais, que tomaram a fazenda dos filhos de FHC com crianças no colo e depois dançaram forró, foram devidamente presos, diante das câmeras.

Ou melhor, primeiro o negociador indicado pelo governo garantiu, segundo o próprio negociador, que não haveria prisões se os sem-terra saíssem da fazenda.

Ato contínuo, eles saíram e foram algemados e jogados ao chão para a ?photo-op? que restauraria a autoridade do presidente.

É flagrante que a invasão foi arbitrária, sem desculpas -e de efeito devastador para Lula e sua taxa de rejeição.

Mas daí ao terror vai um bocado de retórica eleitoral.

O PT está perdido no episódio. Primeiro José Dirceu e depois o próprio Lula surgiram com críticas na Globo.

Agora insinuam, como ontem na Globo, que foi armação do governo FHC, que teria descoberto os planos, mas deixado correr para queimar a candidatura de Lula.

É reação em tudo semelhante à cortina de fumaça lançada por Roseana Sarney e seu pai diante do monte de dinheiro -e com efeito ainda menor, já se pode prever.

A TV passou praticamente ao largo da denúncia de trabalho escravo na fazenda do pefelista Inocêncio Oliveira, no Maranhão, noticiada semanas atrás neste jornal.

Bastou o ministro do Trabalho soltar uma nota em defesa de Inocêncio, nota devidamente precedida por telefonema seu ao próprio Inocêncio, para os indícios de escravidão deixarem de causar escândalo.

O presidente da República, que cita o abolicionista Joaquim Nabuco desde que tomou posse, não queria melindrar mais os pefelistas.

Mas agora a escravidão no Maranhão, com seus ?gatos? e demais detalhes, foi parar na capa do New York Times. Quem sabe agora Fernando Henrique faz mais do que citar Minha Formação."

"Lula entra no jogo", copyright Folha de S.Paulo, 27/3/02

"Lula foi à Cultura e à TVE, emissoras ligadas a governos tucanos, para avisar que não vai ficar quieto, se a televisão der mais visibilidade a outros candidatos.

Começou bem. Sua entrevista no Roda Viva, ainda que concentrada nas ações dos sem-terra, foi a mais excitante das quatro realizadas até agora. As anteriores, de José Serra, Ciro Gomes e Anthony Garotinho, foram modorrentas.

Lula citou, como exemplo de favorecimento, o programa de Gugu -que já foi garoto-propaganda tucano, que agora é garoto-propaganda do Ministério da Saúde e que, no Domingo Legal, volta e meia recebe o presidenciável do PSDB.

Lula avisou que, se preciso, vai falar com Silvio Santos, Roberto Marinho, quem for.
Na verdade, Lula já está enviando mensagens mais ou menos claras aos donos das redes de televisão. E não são mensagens de confronto ou rancor, como seria de esperar dele após três campanhas.

Por exemplo, no Roda Viva Lula se disse favorável à entrada do capital estrangeiro nas empresas de comunicação. Outro exemplo, no mesmo Roda Viva, mas também nos telejornais da Globo, o petista se disse favorável à ?capitalização? da Globo Cabo pelo BNDES.

Lula quer entrar no jogo como os outros, de qualquer jeito.

Para além da sedução por espaço nos telejornais e programas de auditório, o que se aguarda para abril é a superexposição do presidenciável petista nos intervalos.

Com programa e comerciais concentrados nas próximas semanas, ele deverá isolar-se ainda mais como o líder nas intenções de voto e abalar outros nomes de esquerda.

Para não ficar para trás, os tucanos já estão de olho no programa e nos comerciais do PMDB marcados para início de maio, logo a seguir.

À frente da operação, o ministro das Comunicações, que deverá assumir como coordenador tucano semana que vem.

O problema para Lula, com superexposição e tudo, é o MST. Na Cultura e na TVE, o petista se declarou ?contra a invasão?, insinuou que seria uma armação etc.

Outros petistas -dentre os candidatos dirigidos por Duda Mendonça- foram além, afastando aos gritos a imagem do PT do MST.

São ações coerentes com a estratégia eleitoral da legenda, que não exclui nem o apoio de ACM -como admitiu o próprio Lula, no Roda Viva.

É o jogo."

***

"Fumaça e fogo", copyright Folha de S.Paulo, 28/3/02

"Estrangulado pela boa fortuna do tucano José Serra na Justiça Eleitoral e em tudo mais, nas últimas semanas, o PFL usa literalmente as armas que ainda tem.

Contra a Polícia Federal, assim, vai a Polícia Militar do Maranhão, ainda que com risco de levar a um confronto institucional ou pior.

Foi o último cartucho de Roseana Sarney, cuja viabilidade como presidenciável era abertamente questionada nos telejornais desde a noite de anteontem -com a nova decisão da Justiça Eleitoral.

Mas o ato de desespero de jogar polícia contra polícia, na ação contra a central de inteligência em São Luís, já não alcançou, ontem mesmo na televisão, a repercussão que seria de esperar -até pelo contrário, resultou em ridículo.

Maior e melhor impacto teve Silvio Santos, o animador de auditório, o empresário, o pefelista redivivo.

Inocêncio Oliveira, o líder do PFL, disse à Jovem Pan que Roseana não vai desistir. Mas deu a entender que o apresentador da ?Casa dos Artistas? está mesmo sendo cogitado pela legenda, para o lugar da governadora do Maranhão.

Na expressão do pefelista, onde há fumaça há fogo.

A eventual candidatura de Silvio Santos, por outro lado, foi destacada tanto no Jornal da Record como no Jornal da Band, por sinal, duas emissoras que acabam de fechar um acordo político com o SBT, em oposição à Rede Globo.

Na Band, Silvio Santos foi manchete e longa reportagem, com biografia, fotos de juventude etc.

Paulo Renato, o ministro tucano da Educação, já apareceu para se dizer contrário a um candidato a presidente sem nenhuma ?experiência?. Também um cientista político falou contra o animador.

Mas as pessoas ouvidas na rua gostaram, como esperado. Para uma delas, ?ele é um homem competente?. Afinal, argumentou, ele começou como camelô e cresceu muito.

É a mística eleitoral de Silvio Santos, que já se viu em ação em 89 -e que levou à balbúrdia que acabou gerando, para quem não lembra, Collor.

Lula, José Dirceu e José Genoino, em suas declarações dos últimos dias, entregaram os sem-terra -em troca de uma imagem confiável para a candidatura petista à Presidência da República.

Ontem, foram obrigados a ouvir os elogios do ministro Raul Jungmann, que na CBN considerou ?impecável? a reação do Partido dos Trabalhadores."

***

"Caso encerrado", copyright Folha de S.Paulo, 29/3/02

"O Jornal Nacional, poucas horas depois da operação da PM do Maranhão contra a Polícia Federal, expôs o equívoco -ou o ridículo- da ação.

Fátima Bernardes, com seu semblante mais rigoroso:

– Os policiais militares deixaram a casa sem levar nada.

E um tenente-coronel da PM maranhense:

– Não foi encontrado nenhum objeto que pudesse ser apreendido.

Ontem a exposição prosseguiu. Registrou-se, por exemplo, que a Polícia Federal ?começou a preparar a desativação de sua unidade de inteligência?. Obra de Roseana.

Ato contínuo, os líderes tucanos reagiram não mais com irritação, mas com condescendência, como se a pefelista estivesse no chão e não se pudesse mais golpeá-la.
Aloysio Nunes Ferreira:

– Não posso imaginar que o governo do Maranhão estivesse de má-fé ou tivesse conhecimento do fato.

Pedro Parente, mais ?crítico?:

– Qualquer coisa no sentido de impedir a Polícia Federal de cumprir as suas obrigações não é razoável.

José Aníbal, presidente do PSDB, foi direto ao assunto dizendo que Roseana não sabia da operação e que ?o povo não quer disputas intestinas? e sim a votação da CPMF.

A própria Roseana buscou aproximar a operação àquela realizada na Lunus e, segundo o JN, ?afirmou que para ela o caso está encerrado?.

O caso e a candidatura, pelo que indicaram outros pefelistas. A Globo abriu o dia anunciando a ?divisão? na legenda, com Jaime Lerner dizendo que não era unânime no PFL a insistência com Roseana.

E Edison Lobão, senador pelo Maranhão, sublinhava na Jovem Pan que Silvio Santos é filiado, sim, ao PFL.

Chegou a vez de Garotinho. Esta semana o JN entrou pesado contra a contratação de funcionários pelo governador do Rio, nas semanas anteriores à saída do cargo. Anteontem, o telejornal repetia o ?alerta? do Tribunal de Contas:

– A partir do meio do ano é provável que falte dinheiro para honrar as despesas.

A Band News foi das raras a registrar o desespero das mães, mulheres e filhos dos sem-terra, diante da ordem da Polícia Federal para que falassem com os 16 presos em Brasília separadas por um vidro.

Em meio ao choro, um sem-terra questionava:

– Os companheiros são presos políticos."

 

"O que o público sintoniza não é o melhor da tevê", copyright Jornal da Tarde, 30/3/02

"Os suplementos de televisão dos jornais publicam uma lista dos programas de maior audiência de cada canal aberto. A lista é fornecida pelo Ibope aos assinantes e está à disposição do público no seu site, na Internet. Os índices são publicados com duas semanas de atraso. Os que saem nos jornais de amanhã mostram a audiência medida entre 11 e 17 de março.

Uma olhada nessa lista demonstra a supremacia dos programas popularescos, que as emissoras buscam sem muito escrúpulo.

Na Band, o freqüente campeão de audiência, entre 5 e 6 pontos, é ?Cine Privê? (assim mesmo, com circunflexo) aos sábados, na madrugada. Passa sempre um filme de sacanagem, cafona e primário. Disputando ali, cabeça-a-cabeça, com 5 pontos, estão três programas na linha sensacionalista: o jornalístico ?Hora da Verdade? (que às vezes tem reportagens muito boas), conduzido por Roberto Cabrini, a coletânea internacional de desastres e salvamentos chamada ?Vídeos Mais Incríveis? e o ?Cine Sinistro?, cujo nome diz tudo. Não entram os bons jornalísticos da emissora.

Na Globo, a telenovela ?O Clone? tem sido a campeã, 47 pontos de média. Mais popularesca, mais chavão, mais ?essa falsa cultura?, impossível. Depois ?Big Brother Brasil?, confinamento de insignificantes 38 pontos. Em terceiro, vem o único produto de bom nível, o ?Jornal Nacional?, variando entre 36 e 38 pontos.

No SBT, vem em primeiro o ?Casa dos Artistas? dominical (35 pontos), depois o sorteio dominical da Telesena (23 pontos) e o ?Domingo Legal? (20 pontos). Dois jogos milionários de Silvio Santos, popularescos, e o terceiro, o programa do Gugu, chega a ser de uma ruindade agressiva.

Na Record, um popular brega de doer é o campeão: ?Programa Raul Gil?, variando de 12 a 14 pontos. Explora a linha calouros em desfile, fórmula popular que vem do rádio antigo e do circo. Depois vem o jornalístico ?Cidade Alerta?, de José Luiz Datena, com média de 10 pontos, embolado com o filme das quintas-feiras, ?Super Tela? e com o bom-mocismo de ?Domingo da Gente?. Qualidade? Esquece.

Na Rede TV!, os inomináveis ?Você na TV?, ?TV Fama? e ?Canal Aberto? são os campeões, entre 4 e 5 pontos.

Na Gazeta, mais inomináveis: os sabatinos ?Festa do Malandro? e ?Giro do Guerreiro?, variando de 4 a 5 pontos. Vade retro! O terceiro colocado é um programa popular que tem a sua graça, o passadista ?Mesa Redonda? (3 pontos), de debates esportivos, nas noites de domingo.

Não seria justo colocar no mesmo bonde a Cultura, tevê pública que não tem de disputar pontos no Ibope com objetivos comerciais, como as outras. Também ela tem um popular entre os programas de maior audiência, ?Missa de Aparecida?, às 8 da manhã, aos domingos, disputando o posto com a música brasileira de ?Bem Brasil?. O excelente ?Caminhos e Parcerias? não é o mais visto da emissora.

A Globo deixou Felipão em paz

Custou, mas a equipe esportiva da Globo parou de falar em Romário. A brincadeira estava prejudicando os negócios da Globo (venda de patrocínio), e só serviu para criar confusão e atrapalhar o trabalho do treinador. O ?vamos parar com isso? foi tão definitivo que a equipe da Globo nem tocou no assunto quando a torcida (não sabendo que a brincadeira havia terminado) gritou o nome de Romário e chamou Scolari de burro. Pena que o basta tenha acontecido só agora, no fim do trabalho em campos brasileiros.

A cobertura da Globo foi aquilo de sempre: coisas boas (a qualidade técnica) e ruins (excessos verbais). Falemos dos defeitos. Galvão reclamou demais do gramado, sem questionar por que o jogo foi marcado lá. O narrador ficou enrolado com dois Ronaldinhos, quando seria facílimo chamar o da Inter de Ronaldo, nome que até a torcida já consagrou. De novo tivemos a bobagem interativa e faixas comerciais superpostas no vídeo, prejudicando o acompanhamento da jogada. Aos 23 minutos do primeiro tempo a torcida começou a vaiar, e o Galvão na moita. Já que não podia boquejar sobre Romário, melhor fazer que não ouvia. Aos 34 minutos, close de Ronaldo puxando o ar lá para o fundo do pulmão e expirando forte, cansado, mas Galvão falava, falava e não via. Seria interessante observar como o jogador estava sem condição física. Somente aos 39 minutos, e porque foi ficando evidente demais, o patriota Galvão comentou as vaias da torcida, brincando: ?O torcedor quer é festa.? Quando Ronaldinho teve seus 15 minutos de brilho, Galvão começou a dramatizar: ?Onde é que o Felipão vai colocar o Rivaldo?? Como se fosse problema botar em campo Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho, como se em 70 não se tivesse arrumado lugar para os melhores, onde desse.

No intervalo, a Record jogou melhor do que a Globo. O árbitro comentarista Godoi mostrou que o goleiro Marcos cometeu pênati. O repórter de campo conseguiu boa entrevista com Felipão, que explicou as mudanças que estava fazendo e falou bem do meio tempo de Ronaldo. E o comentarista Raí explicou muito bem a modificação tática operada por Scolari, antes que Casagrande fizesse o mesmo na Globo. Aí começou aquela trocação de jogadores e a partida perdeu o interesse."

 

"O país de Jade", copyright Veja, 3/4/02

"No páreo pelas curvas da estonteante Jade, valorizadas a cada exibição de dança do ventre no horário das 8, correm três cavalos. Lucas, o par romântico oficial, é a barbada. Há também seu clone, Léo, que tem a vantagem de ser mais jovem e supostamente dispor de mais fôlego no sprint final. Corre por fora Zein, o que tem o melhor currículo como garanhão. O país discute quem vai ficar com Jade, e isso faz de O Clone uma das novelas de maior sucesso nos últimos tempos. A saga de Glória Perez tem uma audiência média de 44 pontos, mantendo o índice de suas três bem-sucedidas antecessoras, responsáveis pela revitalização do horário das 8 ? Terra Nostra (45 pontos), Laços de Família (44) e Porto dos Milagres (43). Todas essas novelas têm em comum o fato de se filiarem ao estilo do folhetinzão desbragado, cuja principal característica é justamente esta: ter várias opções viáveis no jogo do quem-acaba-com-quem, fazendo com que a platéia acompanhe, torça, se emocione e espere avidamente pelo final. Como num páreo no jóquei.

Dezenas de teses acadêmicas foram escritas para mostrar como a novela (principalmente a do horário das 8) mobilizava o brasileiro em torno de questões políticas e comportamentais. Os exemplos mais citados são Escalada (1975), de Lauro César Muniz, que tratou da questão do divórcio antes mesmo que a lei de Nelson Carneiro fosse aprovada, e Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, que retratava o desencanto com a corrupção na Nova República. Num raciocínio apressado, pode-se concluir que, como o folhetim voltou a imperar, a teledramaturgia nacional empobreceu. Uma pesquisa coordenada em 1997 pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e pela Universidade de São Paulo ? a mais extensa e detalhada já realizada sobre o gênero no Brasil ? constatava como a novela influenciava os hábitos de consumo, além de pautar as discussões políticas e comportamentais dentro da família. Aparentemente, apenas o primeiro desses três itens continua valendo para O Clone. O anel-pulseira da personagem Jade já vendeu mais de 120.000 peças e foi até licenciado para o exterior. Nenhuma discussão política ou comportamental surgiu por causa de O Clone ? o que, aliás, também não ocorreu com Terra Nostra e Laços de Família. Em Porto dos Milagres, por sua vez, os autores Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares se valeram de um político corrupto, Félix Guerrero (Antonio Fagundes), para turbinar a audiência. No final, no entanto, o grande chamariz foi mesmo o triângulo amoroso formado por Marcos Palmeira, Flávia Alessandra e Camila Pitanga.

Afinal de contas, o que vem ocorrendo com o gênero? Para chegar a uma conclusão mais realista, talvez o correto fosse perguntar o que mudou na sociedade brasileira. Um dado interessante está no livro A Deusa Ferida, um tour de force de professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo que escapa das generalizações comuns em estudos do tipo. Entre as razões apontadas para explicar a queda histórica de audiência até 1997, seus autores argumentam que as classes média e média alta passaram a ter opções de entretenimento, deixando a telenovela em segundo plano. Entre elas, estariam os canais de TV por assinatura e a internet. Ou seja, é possível dizer que talvez a novela esteja repercutindo menos exatamente porque o Brasil melhorou. Nos anos 70 e 80, ela era a principal ? e freqüentemente a única ? forma de diversão da classe média. Além disso, nos tempos da ditadura militar, o país estava sob censura. A novela, assim como outras expressões artísticas, servia para que se fizessem críticas, ainda que enviesadas, às mazelas que afetavam a sociedade. Quando sobreveio a Nova República, em 1985, seus autores aproveitaram a abertura institucional para fazer uma catarse política. Hoje, com a democracia consolidada no Brasil, as questões nacionais são discutidas livremente na imprensa e nos fóruns políticos. Não é preciso um Gilberto Braga para colocar o dedo na ferida.

O departamento de pesquisas da Rede Globo faz uma objeção pertinente às conclusões do livro A Deusa Ferida. O universo retratado é o de uma pequena elite. A TV a cabo e a internet são privilégios de um número reduzidíssimo de brasileiros. As pesquisas qualitativas da Globo mostram que a maior parte das famílias das classes B, C e D ainda se reúne em frente à TV no horário da novela. Visando a esse público, os autores preferem abordagens didáticas a discussões polêmicas. É por essa razão que, em O Clone, o personagem Albieri, interpretado por Juca de Oliveira, gasta cenas intermináveis explicando processos genéticos para seus amigos e auxiliares. Esses diálogos, que parecem verbetes de enciclopédia, prestam um serviço a quem não sabe nada sobre o assunto, embora soem enfadonhos para a porção mais elitizada da audiência. ?A novela da Globo hoje tem de dar conta de um novo público, os mais de 6 milhões de famílias que compraram o primeiro aparelho de TV com o Plano Real?, observa a professora Silvia Borelli, uma das coordenadoras do estudo publicado em A Deusa Ferida. Uma conclusão de tudo isso é que provavelmente muita tinta de impressora foi gasta em vão nas academias brasileiras. A idéia subjacente à maior parte das teses era a de que a novela de televisão constituía a mais perfeita realização da proposta dos CPCs, os Centros Populares de Cultura dos anos 60, segundo a qual dava para ?conscientizar? a população por meio de uma arte de massas. O que os dados mostram, no entanto, é que as novelas só tinham repercussão política e comportamental quando os mais endinheirados e os formadores de opinião se preocupavam com elas. Depois que a maior parte desse público migrou para outros meios, elas passaram a cumprir apenas a sua função original: entreter. Em resumo, a novela não piorou. Apenas voltou a ter o seu verdadeiro tamanho. Quem vai ficar com Jade? Façam suas apostas."

 

 

NOTÍCIAS DA TV

"Globo prevê R$ 500 mi na mídia com Copa", copyright Folha de S.Paulo, 27/3/02

"A Globo calcula que neste ano, por causa da Copa do Mundo, a concentração de verbas publicitárias na TV aberta vai aumentar.

Segundo Octavio Florisbal, su perintendente comercial da Glo bo, a TV aberta deverá aumentar de 57% (em 2001) para até 59% sua participação no bolo publici tário. No ano passado, a TV já ti nha aumentado sua participação (de 56% em 2000), que vinha em tendência de queda. De acordo com o Inter-Meios, projeto que mede o investimento publicitário, o setor movimentou R$ 9,3 bi lhões brutos em 2001, dos quais R$ 5,3 bilhões ficaram com a TV (mais de 75% com a Rede Globo).

Para chegar a essa conta, Floris bal leva em consideração que a Copa do Mundo, ?com patrocí nios e promoções, deverá movi mentar perto de R$ 500 milhões em publicidade, grande parte pela TV aberta?. ?Prevendo que a mí dia no Brasil poderá chegar próxi mo aos R$ 10 bilhões brutos neste ano, a Copa deverá representar al go em torno de 5% desse total. Portanto é factível que a TV aber ta aumente a sua participação, al cançando 58% ou 59%?, diz.

O consultor Antonio Rosa Neto, especialista no assunto, discorda. Para ele, a tendência é a segmen tação e a desconcentração das verbas. Rosa Neto acredita que a Copa ficará longe de movimentar R$ 500 milhões. Tanto que a TV Globo até agora só vendeu R$ 175 milhões em cotas de patrocínio das transmissões da Copa.

OUTRO CANAL

Titanic 1

A Globo atirou no fundo do mar de Angra dos Reis pelo menos R$ 500 mil. Foi próximo disso o custo total de ?Amor a Bordo?, quadro do ?Caldeirão do Huck? gravado na região, em um barco. Tudo foi jogado fora, decidiu a direção da Globo.

Titanic 2

O quadro agora será refeito em outra região, terá outro diretor (Ignácio Coqueiro), outro barco e novo elenco. Jorge do Espírito Santo, que dirigiu a versão descartada, já procura emprego.

Perdão 1

José Luiz Datena afirma que não levou nenhum tostão a mais em seu salário ao voltar para a Record, depois de uma saída barulhenta. A versão, confirmada por outras fontes, parece ser crível.

Perdão 2

Datena sondou a Globo e o SBT e não foi aceito. Chegou a assinar contrato com a Rede TV!, mas não sentiu firmeza. No sábado, Ney Gonçalves Dias fez teste para o ?Cidade Alerta? e foi aplaudido no estúdio. Alertado pelo diretor de jornalismo da Record, no domingo Datena procurou a cúpula da emissora. ?A Record me pediu desculpas, e eu queria voltar ao programa?, diz.

Xadrez

O piloto de F1 David Coulthard vai hoje pagar uma promessa feita a Luciano Huck no ano passado. Ele grava para a Globo mostrando como dançar com saias escocesas."