Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nenhuma reportagem

CRIME ORGANIZADO

Victor Gentilli

Numa decisão surpreendente, o Tribunal Regional Eleitoral do Acre cassou a candidatura à reeleição do governador Jorge Viana, do PT, e suspendeu seus direitos políticos por três anos. Mesmo com os direitos políticos suspensos, o TRE não impediu que o governador concluísse seu mandato. A mídia, de imediato, denunciou o crime organizado como incentivador da decisão do TRE. O governador Jorge Viana obteve solidariedade até do presidente Fernando Henrique, que abandonou a posição de magistrado para comprometer-se a tentar interceder no Tribunal Superior Eleitoral visando revogar a decisão do tribunal acreano que, conforme diversos especialistas, tomou uma decisão plena de erros.

O Jornal Nacional obteve e pôs no ar uma frase do advogado da coligação liderada pelo ex-prefeito Flaviano Melo, que disputa com Jorge Viana a eleição e que solicitou ao TRE a impugnação da candidatura. A frase "prefiro ser advogado do crime organizado a ser advogado do crime desorganizado" chocou a opinião pública e confirmou as denúncias do governador, que teme por sua sobrevivência.

Mas só depois da decisão do TRE é que alguns jornais enviaram repórteres a Rio Branco. Aliás, os jornais sequer buscaram informações na imprensa acreana. O Acre conta com três jornais diários, todos com versões online. O Rio Branco, o mais ardoroso defensor de Flaviano Melo e opositor do governo, notabilizou-se nas eleições de 1989 ao dar, no dia do segundo turno das eleições, a manchete "PT seqüestra Abílio Diniz". De lá para cá, o jornal não alterou sua linha editorial. A Gazeta do Acre, também oposicionista, tem maior difusão. Defensor do governador Jorge Viana, o jornal Página 20 oferece visão diferenciada. Independência e isenção são atributos desconhecidos nos jornais acreanos.

Omissão também no ES

Uma missão especial do Ministério da Justiça está no Espírito Santo trabalhando em parceria com o Ministério Público para apurar e desvendar os esquemas do crime organizado no estado. Na origem, um pedido de intervenção federal, decorrente de relatório produzido pelo Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.

O relatório, como já noticiado neste Observatório, baseia-se num trabalho excepcional da organização não-governamental Justiça Global. Trabalho que poderia ser feito por jornalistas foi realizado por militantes de direitos humanos.

Em ambos os casos, os jornais limitam-se a reproduzir ações e iniciativas do governo, do Ministério Público ou de quem quer que seja. Nenhum jornal ousa assumir uma investigação que auxilie no combate ao crime.

Leia também