Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nirlando Beirão

REICHSTUL NA GLOBO

"Por que Reichstul entrou como n? 1 na fogueira de vaidades da Globo", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 4/03/02

"Henri-Philippe Reichstul volta a mostrar que não é homem de aceitar só meio desafio. Dois meses após deixar a presidência da Petrobras, em parte porque sentiu que o que tinha de fazer pela companhia já fora muito mais do que permitiram as pressões dos interesses paroquiais, corporativos e políticos, em parte porque tinha planos de se dedicar mais à família, Reichstul diz sim àquele que deve ser, fácil, fácil, um dos maiores abacaxis da quitanda dos negócios privados no Brasil – a direção da Globo.

Ao assumir como executivo número 1 das Organizações Globo, acima de todos os demais – inclusive a já legendária Marluce Dias da Silva, até aqui a toda poderosa da Rede Globo -, e só abaixo dos sócios controladores (leia-se: a família Marinho), o ex-secretário-executivo do Ministério do Planejamento no governo Sarney (ele foi o sub de João Sayad no Ministério e, depois, sócio dele no banco de investimento SRL) encontra pela frente um passivo de US$ 2,8 bilhões, sendo que 85% disso em dólar, e perspectivas comerciais nada alentadoras.

O conjunto das empresas sob o guarda-chuva das Organizações Globo amargou, em 2001, um prejuízo de US$ 551 milhões. As operações de TV a cabo e de internet (em que a Globo tem como parceira hoje bastante arrependida a Telecom Itália) e a considerável queda do faturamento publicitário até mesmo da galinha de ovos de ouro, a Rede Globo de Televisão, indicam por onde é que a imponente Globopar (o nome da holding que Reichstul passa a capitanear) anda sangrando.

O namoro dos irmãos Marinho – Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto – com o ex-presidente da Petrobras começou há menos de um mês, tendo como padrinho o empresário Israel Klabin, do ramo carioca do grupo de papel e celulose que leva o nome de sua família.

Reichstul se surpreendeu mas ficou de pensar. Passou o carnaval em Cuba, convidado de honra do governo – em reconhecimento pela coragem que demonstrou em dar seu aval a uma ousada joint venture Petrobras – Cupet (Cuba Petróleo) para prospecções na plataforma marítima cubana, litoral norte (aquele que dá perigosamente frente para a Flórida). Lá, tomou a decisão.

Passou o início desta semana no Rio, para os finalmentes, tratando de se manter o mais discreto possível naqueles fofoqueiros corredores da Vênus Platinada. O que fez Reichstul refletir tanto para aceitar uma tarefa que tem dificuldades óbvias (inclusive um SOS financeiro a ser sinalizado no curto prazo) mas também um glamour considerável é que, por modéstia, ele se coloca como quem não é do ramo.

De fato, passa a ser o número 1 do maior complexo de comunicação da América Latina. Mas, em março de 1999, quem assumiu a maior estatal brasileira foi também alguém que não era do ramo e até chegou a brincar: ?Me dêem 30 dias e eu vou poder discutir tudo sobre petróleo com vocês?, disse o recém-chegado Reichstul em sua primeira coletiva na estatal.

Em menos de três anos, uma estatal complicada que valia US$ 11 bilhões se livrou das gorduras da burocracia, da incompetência e dos favorecimentos e passou a ter no mercado o valor de US$ 30 bilhões, com estampa de companhia competitiva. A ironia é que os veículos que têm Globo no nome foram os últimos a perceber, tendo se caracterizado, em especial o jornal-mãe e a própria TV, por uma sistemática campanha contra a nova Petrobras de Reichstul.

A contratação, formalizada na quarta-feira à noite, sinaliza para o mercado que a Globo não está para brincadeira. E que está mais que atenta a todas as mudanças que certamente virão logo à frente em decorrência da aprovação da lei que abre o setor de mídia ao capital estrangeiro e aos investimentos de pessoas jurídicas. A um problema gigantesco, a família Marinho responde com uma aposta à altura – um profissional do primeiríssimo time. Outros mamutes da comunicação vivem situação semelhante e nem por isso reagem como deviam.

Seja isso, ou não, um mea culpa quae sera tamen da Globo, da parte de Reichstul, cavalheiro incapaz de guardar ressentimentos, a anistia será ampla, geral e irrestrita. Até mesmo aquela colunista que, no carnaval do ano passado, o colocou no mesmo bloco de Jader Barbalho, da fraudadora Jorgina e do juiz Lalau, só terá de Philippe muito açúcar e muito afeto."

 


"Reichstul vai assumir comando geral das Organizações Globo", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 1/03/02

"O ex-presidente da Petrobras, Henri-Philippe Reichstul, vai assumir o cargo de diretor geral das Organizações Globo. Passará, assim, a ser o executivo número 1 de todas as empresas do grupo, devendo satisfações apenas aos integrantes da família Marinho.

O cargo não existia no organograma das Organizações. Na prática significa que a família de Roberto Marinho está investindo na profissionalização do comando.

O convite a Reichstul foi feito há um mês. O executivo aproveitou o período de Carnaval para refletir e amadurecer a idéia. O sim foi dito no final da tarde desta quarta-feira, no Rio de Janeiro.

Reichstul foi presidente da Petrobras durante quase três anos. Durante seu comando, a estatal bateu recorde de lucro por dois anos consecutivos, em 2000 e 2001. Mas também viveu problemas graves, como os vazamentos de óleo na baía da Guanabara, e o afundamento da maior plataforma de petróleo do mundo, a P-36, na Bacia de Campos.

Sua tarefa à frente das Organizações Globo não será das mais fáaacute;ceis. A Globopar, holding da família Marinho para os negócios fora da área de mídia, acumula uma dívida acima de US$ 2,4 bilhões, em números de setembro do ano passado.

A maior parte deste passivo se deve às operações da Globo Cabo, de longe a mais problemática empresa da constelação de negócios da família Marinho.

Nesse caso, pelo menos, Reichstul pode encontrar facilidade de diálogo com a diretoria. O atual presidente da Globo Cabo, Luiz Antonio Viana, é um velho conhecido de Reichstul. Até setembro passado, Viana ocupava a presidência da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras no setor de distribuição de combustíveis.

Além da Globopar, que tem como diretor executivo financeiro Mauro Molchansky, caberá ao ex-presidente da Petrobras controlar as atividades dos dois importantes braços das Organizações Globo na área de mídia.

O maior e mais vistoso é, de longe, a Rede Globo, que tem como diretora-geral Marluce Dias da Silva. O outro envolve a divisão de jornais (O Globo, Extra, e Diário de São Paulo), o Sistema Globo de Rádio, a Editora Globo e a gráfica Globo-Cochrane. O executivo responsável por essa parte é Luiz Eduardo de Vasconcellos."

 

"Ex-presidente da Petrobras coordenará mudanças nas Organizações Globo", copyright O Globo, 28/02/02

"As Organizações Globo anunciaram ontem a contratação do economista Henri-Philippe Reichstul para assumir o comando do seu processo de reestruturação. Esse processo visa a dotar as Organizações Globo de uma estrutura societária, organizacional e de capital adequadas para continuar em bases sólidas a manter a liderança do setor de mídia na América Latina.

Philippe Reichstul assume inicialmente a presidência da Globopar com amplos poderes dados pelos acionistas para essa reestruturação e para liderar as Organizações Globo no desafio de continuar a crescer no mercado nacional e internacional.

Reichstul é formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-graduação na Universidade de Oxford, e ocupou várias posições executivas nos setores privado e público – como a presidência da Petrobras, estatal onde permaneceu durante dois anos e oito meses e que deixou em janeiro passado."