Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

No estilo Imperatriz

QUALIDADE NA TV

CARNAVAL

"No estilo Imperatriz", copyright no. (www.no.com.br), 2/03/01

"A transmissão de Carnaval da Globo foi no estilo da Imperatriz Leopoldinense: pouca animação mas eficiente. Cleber Machado e Glória Maria, os destaques principais, vieram num carro alegórico deslumbrante, uma bolha transparente colocada por sobre a pista da Sapucaí. Dez, nota dez. É verdade que, locutor esportivo de formação, o paulista Cleber às vezes parecia estar voando tanto quanto o astronauta do Joãozinho Trinta. Quando a palavra shalon apareceu no alto de uma alegoria, ele tentou ser didático e acabou introduzindo nova língua na babel delas: ?Shalon quer dizer paz em judeu?. Mas, de um modo geral, apostou-se, como Rosa Magalhães, na burocracia. Poucos repórteres, poucos comentaristas, pouca gente falando. Menos possibilidade de errar. Se o desfile caminha para uma mesmice visual aborrecida, com centenas de mulheres exibindo mostruários de silicone, a Globo inovou nas vinhetas, inspiradas em personagens clássicos da festa, como a nega maluca, o arlequim e a colombina. Um show de imagens. Só não precisava colocar nos camarotes, o simpático, mas sotaque carregado demais, Luciano Huk. Numa festa em que se faz a sagração anual da felicidade de ser carioca, Luciano Huk abriu suas transmissões abraçado com a também paulistíssima Nair Bello. E os dois morriam de rir, no maior xaveco, balada total, de estar ali sem entender qualquer coisa da festa. Parecia provocação. Os turistas invadiram não só as alas das escolas, mas também os microfones da Globo.

A culpa não é do ACM

Se o Carnaval baiano foi o que se viu na tela da Bandeirantes, tudo não passa de um desfile de caminhões em reverência e glória aos deuses gêmeos da emissora. Mãe Meninha? Morreu. Dona Canô? Gravou um disco de orações. ACM? Tá dominado. Triste Bahia. Todos em baixa. Não é possível que o país tenha passado décadas e décadas ouvindo, emocionado, hinos belíssimos de Gilberto Gil aos Filhos de Ghandi para que esse bloco da afirmação cultural baiana acabe embasbacado diante dos Filhos do Fernando Vanucci. Era assim: os trios paravam na frente do camarote da Band. Os cantores, visivelmente deslumbrados, davam entrevistas do alto do caminhão para os dois rapazes de apatia e físico gêmeos, que estavam do outro lado da avenida no camarote. A multidão, quedada em silêncio, como se estivesse em casa, na poltrona, ficava ouvindo o Beto Jamaica enaltecer a garra e o talento dos gêmeos. Tudo muito estranho e pouco carnavalesco. Diziam que o carnaval da Bahia não rendia boas imagens, mas era animado. Dessa vez, a julgar pela transmissão da Band, nem uma coisa, nem outra. A garotada do sul maravilha jogou o preço das mortalhas para a faixa dos R$ 300 e dominou a festa nos trios de Daniellas, Ivetes e Tchans. Desanimado, caro, com músicas repetitivas e confundindo Vanucci com o próprio Senhor do Bonfim, o Carnaval Band-baiano parece finalmente cansado de correr atrás do trio elétrico.

Carnaval trash

As mulheres de silicone, percebe-se agora, espanaram os travestis para fora das escolas. Não é pouca História. Na virada para os 90, os travecos pareciam prestes a tomar o lugar não só da rainha, mas também do diretor de bateria. Se ainda estivessem lá, talvez não fosse o astronauta Eric Scott, mas a Laura de Vison que atravessasse a Sapucaí voando. É pouco provável que alguém esteja com saudade deles, mas como jornalismo é serviço, cabe anunciar aqui que reuniram-se todos terça-feira para os beliscões anuais do Otávio Mesquita na entrada do Gala Gay, no Rio. Em alguns momentos do início da madrugada de quarta-feira, a Rede TV! liderou a audiência com seu John Waters dos pobres caçando Divines no meio da rua Afrânio de Melo Franco. Trash total. Um japonês teve as calças arriadas, um americano foi obrigado a gritar ?cuecão de couro, mano?, o bordão do Pitibicha. Um travesti tinha tanto silicone nos peitos que Otávio Mesquita deixou o microfone apoiado entre eles, e, com as mãos embaixo confirmando que o traveco era homem, fez a entrevista. A Rede TV!, como é do seu estilo, tentou fazer televisão sem gastar. Sem direito de transmitir o desfile da Sapucaí, colocou dois repórteres mandando flashes malucos. Um deles, Djacir, mostrava por exemplo modelos trocando de roupa para subir nos carros. Empurrado por um segurança, saiu do ar. O outro repórter maluco, bem, o outro era Luciana Gimenez e aqui está ela num flash entrevistando o jogador de vôlei Tande, tamborim na bateria da Mocidade: ?Você samba no pé, Tande??, perguntou Luciana, lânguida as always. ?Não?, respondeu Tande, ?é por isso que eu saio na bateria?. Foi aí que Luciana bateu com o microfone na cabeça e concluiu o que o país já suspeitava: ?Sou burra mesmo!? Nota zero no quesito evolução da raça. Mas assistir à imperatriz Rosa Magalhães foi muito menos divertido."

"A tevê não diz tudo sobre o carnaval", copyright Jornal da Tarde, 1/03/01

"A constatação de que o carnaval é uma festa de que a maioria das pessoas procura fugir não chegou ainda à televisão. Algumas emissoras não dizem isso por estarem comprometidas comercialmente com os eventos; outras, por não estarem. As comprometidas precisam fazer justamente o contrário, convencer o telespectador de que o carnaval é uma festa supimpa, a maior do povo brasileiro, e quem não está participando está perdendo algo irrecuperável; elas precisam a todo momento enaltecer os desfiles, cuja transmissão é paga em cotas milionárias pelos patrocinadores; precisam dizer que o estrangeiro é que sabe valorizar o que é nosso, pois o carnaval atrai dezenas de milhares de turistas e suas imagens são vendidas para mais de uma dezena de países.

As emissoras que não estão comprometidas com a festa, por não terem patrocínio nem tradição de cobertura, não dizem que os brasileiros fogem do carnaval porque não estão interessadas no assunto nem para desmascará-lo.

A verdade é que a gigantesca fuga dos paulistanos para o litoral ou para o interior, a dos cariocas para a Região dos Lagos ou para as cidades serranas, assim como a de todos os moradores das grandes capitais para os respectivos refúgios de descanso e lazer, além dos que usam a folga para rever os parentes distantes, indicam que a grande massa do País do carnaval quer mesmo é aproveitar os feriados emendados. Engarrafamentos de quatro a seis horas na ida, e coisa parecida na volta, mostrados com detalhes pelos telejornais, atestam essa verdade que não é nunca transformada em números e dados pelos noticiários. O povo não quer exatamente carnaval, quer é feriado.

Se antigamente havia alguma participação da massa era porque brincava-se de graça. Grandes bailes eram coisa de grã-finos, a rua era do povão, os clubes, da classe média. Hoje, até o tão falado carnaval popular da Bahia é pago. Paga-se um dinheirinho bom para dançar dentro das cordas, livre dos bagunceiros que vão bem lá atrás do trio elétrico. Pelo que se vê, parece que só em Olinda o carnaval ainda é do povão.

Variedade – Nem só de samba-enredo vive o carnaval organizado de hoje. Quem mostrou melhor a variedade da festa foi a Globo, em dois jornais seguidos, na terça-feira: o Jornal Nacional e o Jornal da Globo. Vimos o carnaval misturado com boi-bumbá, de Manaus; o dos grandes bonecos do mamulengo, de Recife; o pula-pula de Salvador; o fervedouro do frevo, de Pernambuco; os peitos, bundas e luxo das escolas de samba do Rio e de São Paulo. Perguntar pode ofender, mas… de onde é que vem o dinheiro? Antigamente, dizia-se que era do jogo do bicho – e agora?

Funk – Ainda bem que não tivemos o que ameaçava ser uma invasão anunciada, a do funk. Se a grosseria de música e gestos vingou em algum baile, não ficamos sabendo pela tevê.

No programa de Adriane Galisteu, É Show, uma turminha de funk apareceu, cantando Tapinha não dói. Grupo sem voz, coreografia paupérrima. Lembrou-me aquelas coisas do começo do tchan, da dança da garrafa. Tudo passa, felizmente, e coisa ruim passa mais depressa ainda.

Marilyn – Coisa boa demora mais a passar. No Jornal Nacional tivemos uma matéria mostrando que cinco fotos de Marilyn Monroe, tiradas quando ela era ainda pouco mais do que ninguém, e com as quais ganhou US$ 50, foram leiloadas por milhares de dólares pelo herdeiro do fotógrafo. Ela morreu há 38 anos.

Sem voz – Isadora Ribeiro, aquela nulidade como atriz, apresentou-se como cantora no programa de Adriane Galisteu. Não tem voz, não tem dicção, não tem repertório nem musicalidade. É séria candidata a nova Gretchen, a cantora que não cantava, só gemia e rebolava."

"Carnaval das popozudas e dos tigrões", copyright O Estado de S. Paulo, 3/03/01

"Existem coisas que não variam no carnaval: a cobertura burocrática das emissoras de TV – com perguntas óbvias, gracinhas de repórteres, closes nos seios de destaques, panorâmicas da avenida (entenda-se todas que servem de passarela de Norte a Sul) -, briga na hora da apuração dos resultados e um ?fenômeno?.

O fenômeno do ano anterior foi o do rosário e do chicote. De um lado, o padre pulador Marcelo Rossi arrastou atrás do seu trio elétrico mais de 100 mil foliões em São Paulo. Do outro, as formas da Tiazinha mobilizaram mais os fotógrafos na Avenida Marquês de Sapucaí do que as das Lumas e Luizas.

Este ano, o fenômeno correu à margem dos desfiles oficiais. Foi o funk, das cachorras, das popozudas, das tchuchucas e dos tigrões, que reinou por todo lado, nos intervalos dos desfiles, nas ruas, nos carros e na TV.

Em quase todos os canais, as cenas, o som, as letras e coreografias grotescas repetiram-se nos programas de auditório. No Raul Gil, no Caldeirão do Huck, no Faustão, no Super+, no Fantástico, no Domingo Legal, nos programas femininos – o Mulheres, da Gazeta, convocou uma trupe para ensinar ?a dança do momento? ao pessoal de casa, ou seja, rebolados e tremeliques convulsivos ao som de coisas como ?só um tapinha não dói? ou a música da ?motinha? – o funk deu (e dá) as cartas.

Nada contra grupos de garotos cariocas pobres ganharem dinheiro e fama à custa de sua vocação musical (o ritmo funk tem seu charme, afinal, mobiliza milhares de jovens nos fins de semana). O problema é a massificação que a mídia impõe, martelando hits do Bonde do Tigrão, de Mc Naldinho e Mc Bela, Mc Beth, e de tantos outros.

É sempre assim, quando a mídia determinada a ?onda? que agrada ao público consumidor – de discos, shows, TV e rádio -, ela esgota a paciência de Deus e do mundo. Temos bastante experiência nisso: já fomos atacados por Menudos, pela lambada, por duplas sertanejas, por grupos de axé, loiras e morenas que ralavam na boquinha da garrafa e por pagodeiro de voz chorosa e muita água oxigenada no cabelo.

É claro que uma hora o fenômeno do funk vai passar para dar lugar a outro, que certamente está sendo criado pelo mercado. A questão é justamente essa.

Por que nós, telespectadores, somos obrigados a assistir à mesma coisa em todos os canais da TV aberta?

Não é possível que, na era da diversificação, o consumidor da programação não tenha o que escolher. E que as emissoras, sempre envolvidas na feroz guerra pela audiência, não se envergonhem de fazer tudo igualzinho às concorrentes que tanto criticam."

HUMOR

"Para entender a piada que vem por aí", copyright O Estado de S. Paulo, 4/03/01

"Quem andava meio triste com as raras opções de humor televisivo terá motivos para rir nos próximos meses.

A começar pela volta da Escolinha do Professor Raimundo, marcada para dia 26. As aulas terão meia hora de duração, de segunda a sexta-feira, às 17 horas. Voltam os surrados alunos de Chico Anysio, com destaque para o retorno do João Canabrava de Tom Cavalcante e da Dona Cacilda de Cláudia Jimenez.

?Volta todo mundo?, anima-se Anysio, feliz com a decisão da Globo de retomar a Escolinha diária. ?Gosto mais de fazer diário porque, além de o programa ser mais visto, a interação com o elenco é melhor.? Uma reunião, terça ou quarta-feira, definirá os detalhes de produção. Pelo cronograma do humorista, as gravações começam dia 15.

?Para mim, será uma reciclagem bacana?, anima-se Cláudia Jimenez. Dona Cacilda não mudou. ?Ela continua inteiramente tarada.? O ruim da história é que a atriz abandonará o posto três meses depois. Para arrancar risadas na próxima novela das 7, em julho.

Sob o título provisório de As Filhas da Mãe no Jardim do Éden, a trama também marcará a volta de Regina Casé às novelas. Silvio de Abreu assina o texto e Jorge Fernando, a direção – dupla com quem Cláudia trabalhou em Torre de Babel. No elenco, Fernanda Montenegro, Diogo Vilela, Tony Ramos, Luiz Fernando Guimarães e Cleide Yaconis.

Galã de Laços de Família, Reynaldo Gianecchini será o par de Cláudia. ?Faço a atriz desempregada que se veste de homem ao tentar vaga numa sitcom?, diz.

?A sitcom é um sucesso, mas o personagem de Gianecchini, que não é gay, começa a se apaixonar por ela.?

SBT – Para Gorete Milagres, que voltou como a doméstica Filó para A Praça é Nossa (SBT) no mês passado, um novo programa é incerto.

Apesar de curtir a Praça (?Foi lá que fiquei conhecida e Carlos Alberto Nóbrega é um excelente escada?), não vê a hora de ter de novo uma atração só sua. Ô Coitado saiu do ar em dezembro e, desde então, ela grava um piloto atrás do outro. ?Uma pesquisa constatou que é melhor reduzir o número de personagens?, diz. ?Por enquanto, o porteiro Curió (Maurício Tizumba) e a empregada Val (Ju Colombo) me farão companhia na Praça.?

MTV – O quinteto de Hermes e Renato ampliará presença na MTV. Além do programete de 15 minutos, exibido às segundas após Gordo a Go-Go, o grupo ressuscitará as pílulas cômicas que o transformou em revelação no ano passado. Já Marcos Mion prepara novidade ?totalmente autoral?, inspirada no americano The Tom Green Show."