Thursday, 03 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

O boteco foi a melhor parte

PROVÃO 2002

Percio Villoslada (*)

Domingo, sete horas da manhã. Só citar esse horário já é uma coisa esdrúxula, quem toma uma atitude a essa hora da manhã do domingo? Talvez bêbados de ressaca prometam que nunca mais vão beber, e essa deve ser a atitude mais consciente que um ser humano deveria ter aos domingos. Mas não quando o MEC resolve avaliar seu curso numa cidade distante de sua residência.

Voltando um pouco, 1998: decepcionado por não ter passado em nenhum vestibular em universidades públicas, resolvi escolher o mal menor. A UMC era a menor mensalidade que encontrei e resolvi encarar. Não me arrependi, decerto, mas depois de quatro anos a gente fica um pouco enfastiado de fazer a ponte São Paulo/Mogi todo santo dia. A faculdade foi como um casamento: no primeiro ano, a lua-de-mel, gostava de todo mundo, perdia as sextas-feiras no bar da esquina e era feliz. O segundo perdeu um pouco do romance, mas a vontade ainda era forte. O terceiro foi mais um ato de compaixão do que qualquer outra coisa. O quarto e último está me levando a pensar 15 vezes ou mais antes de me referir à interiorana cidade de Mogi das Cruzes.

Trabalho e esquecimento

Amigos se fizeram e coisas se aprenderam. Particularmente, acho que uma pessoa que diz não ter aprendido nada numa universidade deve ser presa, ou executada. Só a oportunidade de se relacionar com tanta gente diferente já é uma experiência magnífica. Fora o fato de conhecer a possível esposa/caso contínuo. Para não contar as baladas, os shows e tudo o mais. Enfim, quatro anos depois voltamos a 2002, na fatídica manhã de domingo na qual fui arrancado dos braços do meu cobertor e arrastado para a interiorana cidade de Mogi das Cruzes. Nada contra o Provão, nada a favor também, mas pelo menos podiam ter me colocado para fazer a prova perto de casa, garantiria pelo menos uma hora a mais de sono.

Ainda não entendi como a prova caiu no meio do ano. Nem acabei de aprender tudo o que a faculdade quer me ensinar, como posso servir de base para análise do curso? Mas preciso do diploma e esses manhosos avaliadores vincularam-no à presença no Provão. Mesmo que se entregue a prova em branco. Sem considerações de nível ideológico, fiz minha prova com o conhecimento adquirido até então, e acho que não me dei muito mal. Melhor para a faculdade. Engraçado foi o "intensivão provão" que tivemos no penúltimo semestre do curso. Eu aprendi a fazer a prova, e ainda não sei quais são as implicações legais, fiscais, tributárias etc. que envolvem a abertura de um jornal.

Para falar sério mesmo, nem sequer o endereço de onde eu devo levar meu diploma para obter o famoso registro no Ministério do Trabalho meus professores tiveram coragem de colocar no quadro negro, que agora é verde. Claro que um ser minimamente interessado já sabe o endereço, mas custava? Acho que o pessoal está lendo muito Estadão, e continua faltando informação.

Mas vamos lembrar das boas partes do curso, o boteco ? afinal, jornalista adora boteco, temos que praticar bem na faculdade. O caldo de feijão do Jesus, a festa do Divino, os amigos e uma porção de professores. Será que leva mais que cinco anos para eu esquecer tudo isso? Sim, porque como já me falaram que vida de jornalista é fogo, só trabalho, correria, sem tempo para nada, acho que nem vou me lembrar dessas coisas.

Que Deus, ou seu filho, o Jesus, me proteja.

(*) Quartanista de Jornalismo da Universidade do Mogi das Cruzes