Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Brasil quer saber a origem do dinheiro

CASO SARNEY-MURAD

Chico Bruno (*)

Bater na mesma tecla é cansativo. Mas é obrigação de quem quer ver a imprensa brasileira correr nos trilhos do bom jornalismo. Felizmente está aberta a temporada de caça à verdade. As três maiores revistas brasileiras de informação trazem matérias de capa tentado descobrir a verdade sobre dossiês, grampos e afins e desmontando algumas versões.

Ao se comportar assim prestam um serviço aos seus leitores. A partir da leitura dessas matérias, não se avoluma a idéia de que esses fatos lamentáveis são uma prática brasileira, já que é comum ouvir brasileiros afirmarem: "Isso só acontece no Brasil." Alguns jornais também. O Correio Braziliense, edição de domingo, resgata o bom jornalismo, mostrando que a lama não é privilégio da política brasileira: existe em todo o planeta, mesmo nos países conhecidos como de Primeiro Mundo. Essa pauta tem tudo para ser capa das revistas nacionais de informação.

Maquinação à beira-mar?

Essa lama faz parte do processo eleitoral. Não é novidade. Uma das primeiras providências que os coordenadores de campanha tomam é encomendar dossiês sobre o passado dos concorrentes. Nesta eleição mesmo, um grande contingente de jornalistas contratados por candidatos está a vasculhar a vida alheia. Na Bahia, por exemplo, tem jornalista fazendo levantamento minucioso sobre o passado de um candidato de oposição a ACM. Essa chiadeira do PFL é coisa de quem tem experiência neste mister. Ao não dar crédito e procurar desvendar a verdade sobre o material recebido de alguns políticos, a imprensa cumpre seu papel.

Com o desmonte das sucursais dos grandes jornais e das revistas em todas as regiões do país, a imprensa nacional tem dificuldade em investigar o que acontece com as oligarquias regionais, que passaram a exercer o domínio da informação em muitos estados. Os dois mais bem-acabados exemplos disso são Maranhão e Bahia, onde Sarney e ACM são os donos da informação.

Infelizmente, a origem do dinheiro encontrado no escritório de Roseana e Jorge Murad, que é a grande indagação da sociedade brasileira, não é objeto de uma linha sequer dos grandes jornais e das revistas. Aliás, essa não é uma pauta de difícil execução, qualquer repórter com experiência a executa facilmente.

Falta agora a imprensa buscar uma resposta sobre a origem do dinheiro encontrado na Lunus. Afinal, é preciso matar a curiosidade popular, pois nenhuma das sete versões até agora apresentadas colou na opinião pública. A imprensa não pode privar os leitores de uma informação de tamanha relevância. Aliás, há jornalistas saindo em defesa da governadora do Maranhão e aproveitando o episódio para criar uma possível mexicanização do país. Uma hipótese que deve ter sido engendrada numa das casas de praia de um certo chefe político baiano, que costuma usar essas propriedades para hospedar jornalistas que privam de sua intimidade e divulgam suas maquiavélicas maquinações, bem ao estilo Golbery.

Vamos torcer para que a imprensa continue no rumo do bom jornalismo e responda à indagação sobre a origem do dinheiro encontrado na Lunus. Caso contrário, vai ficar a impressão de que a imprensa está poupando a família Sarney.

(*) Jornalista