Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O chute e o escorregão

LÍNGUA PORTUGUESA

Rodrigo Bastos Cunha (*)

Errar é humano. Mas errar tentando corrigir o erro do outro é no mínimo lamentável. A edição n? 169 da revista Imprensa, que foi às bancas neste mês de março, traz na seção "Língua Portuguesa" furiosos ataques de Fernando Jorge contra um artigo publicado pelo professor John Schimitz, da Unicamp, na edição anterior da mesma revista.

Esse texto de Fernando Jorge mostra que ele não conhece tão bem a língua portuguesa quanto o professor Schimitz, que por sinal é norte-americano. O autor dos ataques afirma que Schimitz produziu uma redundância ao escrever "novas palavras e termos" em seu artigo, e justificou sua afirmação dizendo que "o substantivo ?termo? é apenas sinônimo de ?palavra?, se não for acompanhado de vocábulos explicativos", como "termos científicos, termos médicos, termos artísticos". Fernando Jorge talvez não saiba que "termo" também é sinônimo de "expressão", e que se John não escreveu algo do tipo "novas palavras e termos científicos, médicos e artísticos" talvez tenha sido por economia e elegância de estilo.

Fernando Jorge também faz uma crítica equivocada sobre o uso de vírgulas pelo professor Schimitz. Ele diz que na frase "O poeta, romancista e ensaísta português, Vasco da Graça Moura…", de Schimitz, a vírgula após "português é um erro gramatical. Como argumento, comete o disparate de dizer que é como se Schimitz tivesse separado o sujeito do predicado ou o verbo do sujeito. E o professor Schimitz não fez nada semelhante a isso. Pela norma culta da língua portuguesa, na frase acima, "Vasco da Graça Moura" é aposto de "o poeta, romancista e ensaísta português". Portanto, o uso da vírgula é não apenas justificável, mas obrigatório.

(*) Lingüista, editor-adjunto da revista ComCiência <http://www.comciencia.br/>