TV GLOBO
Alesse de Freitas Nunes (*)
O grande entusiasta da televisão brasileira com toda certeza foi Assis Chateaubriand. Mais que um louco megalomaníaco, ele conseguiu montar um império da comunicação. Manipulava políticos e banqueiros para beneficiar seus negócios. E quem se opunha era ferrenhamente criticado pelos veículos.
Mas os Diários Associados não conseguiram manter o mesmo poder depois da morte de Chatô. E quem assumiu o trono das comunicações foi o jornalista Roberto Marinho. E o fez não necessariamente sem os adjetivos dedicados ao seu antecessor.
Em minha época de faculdade corria um vídeo sobre um tenebroso acordo entre a Rede Globo e a Time Life. Uma coisa sombria, que no final das contas envolvia um investimento imenso para tornar a rede maior que o próprio globo. No vídeo, que jamais foi mostrado no Fantástico nem virou assunto do Globo Repórter, aparecia até o Chico Buarque dando depoimento contra a Globo. Como fã de Chico e opositor da injustiça social que a Globo representava, odiei e desejei de todas as formas que algo acontecesse para derrubar o império.
Mas o poder dos Marinho só cresceu de lá para cá. Chatô morreu cedo. Roberto Marinho já passou dos 90. E tem filhos com tino para a coisa.
As esperanças me voltam às veias quando analiso a falácia da apresentação do resultado financeiro da Globopar e da própria Rede Globo em 2001. Até então existiam os especialistas em derrubar a audiência da Globo. Ratinho, Silvio Santos, Gugu. Um prazer inenarrável em detonar a concorrente. Agora, o verme está comendo o leão por dentro. Em 2001 foram US$ 500 milhões de prejuízo; em reais, R$ 1,215 bilhão. Agora, sim, podemos ver a primeira sangra no pescoço do dragão que nos empurra goela abaixo novelas imbecis, elege presidente sem escrúpulos, emburrece nossa população e ainda nos faz sentir orgulho de assistir a uma big trapalhada com fundo comercial e anestesiante.
Bilhãozinho difícil
O cineasta Orson Welles também se juntaria ao coro dos sorridentes que hoje assistem à Globo Cabo afundando numa dívida de US$ 643 milhões. Melhor ainda depois de aparentemente naufragado um empréstimo solicitado pela Globo ao BNDES, iniciativa que gerou muita crítica e revolta de vários setores da economia (o Brasil não é o mesmo).
E, para soerguer a empresa e cavar no subsolo do poder o bilhão de dólares necessários para sanear a dívida, a empresa foi buscar Henri Philippe Reichstul para reestruturar o conglomerado. O mesmo presidente da Petrobras que assistiu ao afundamento da plataforma P-36, no litoral do Rio de Janeiro, lembram?
A justificativa da empresa é que o mercado brasileiro de publicidade teve retração de 14,3%. E uma aposta no aumento de assinantes de TV a cabo, além da esperança do aumento de clientes do serviço de banda larga Vírtua. Como nada disso aconteceu, as coisas foram se complicando e a dívida aumentando.
A empresa foi obrigada a demitir 1.600 funcionários (20% do quadro) e ainda reduzir investimentos em 30%. E isso afetou o setor de vendas e telemarketing, piorando ainda mais as coisas. A crise chegou à Bolsa de Valores. As ações da Globocabo chegaram a valer R$ 4. Hoje, ninguém paga mais que R$ 0,67.
Bons tempos são esses em que tentam arrancar um bilhãozinho dos cofres públicos e todos protestam. Chatô não reconheceria o país. O Chico Buarque já pode pensar em outras poesias e jogar seu futebol tranqüilamente. E nós ficamos apreciando o pensamento do Barão de Itararé: "A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana". Podemos até ser imbecis, mas empréstimo de R$ 1 bilhão para a Rede Globo nós negamos. Que prazer!
(*) Jornalista de Campinas, SP