Wednesday, 09 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

O grande balaio da fama

REALITY SHOWS

Luciana Carvalho (*)

No programa Saia justa, exibido no canal de TV por assinatura GNT, quatro mulheres inteligentes discutem diferentes assuntos de forma descontraída e aberta. Dividem o espaço a jornalista Mônica Waldwogel, a atriz Marisa Orth, a cantora Rita Lee e a escritora Fernanda Young. Há poucas semanas, chamou a atenção o debate em torno da "banalização da fama", como denominou Fernanda o fenômeno a que se assiste hoje na mídia, em que se joga em um mesmo balaio famosos que pouco têm em comum. É realmente interessante a observação da escritora, que no citado programa rendeu excelentes contrapontos por parte das demais participantes.

Hoje em dia, especialmente na televisão, a fama virou um produto em si mesmo, um "fim", e não mais uma conseqüência de um trabalho de qualidade. A atriz Marisa Orth lembrou que, durante sua experiência como apresentadora do reality show Big Brother, foi abordada muitas vezes nas ruas por gente interessada em participar do programa. O curioso, segundo a atriz, é que as pessoas demonstravam interesse na fama, mesmo sem ter qualquer talento artístico que a justificasse. A frase "quero é ser famoso, depois decido em que" resume o pensamento da maioria dos interessados em participar desse tipo de "seleção" ao mundo da fama. No início da história da TV e, principalmente, na era do rádio, a fama era artigo de luxo, atributo exclusivo de grandes talentos da música ou da dramaturgia. Hoje, são muitos os famosos e poucos os talentos…

Estamos vivendo numa época em que tudo surge de repente e da mesma forma acaba. Assim são os modismos, as pessoas, os ídolos… Até os seqüestros hoje são "relâmpago". Tudo é descartável. E a busca da fama a qualquer preço talvez seja apenas um desses modismos passageiros, que os programas de TV potencializam ao colocar no estrelato "pessoas comuns". Depois de Big Brother e Casa dos artistas, chegou a vez de Fama e Popstars. Ao menos agora a condição de famoso vai para alguém que sabe cantar. Pena que, mais uma vez, o grande público não tenha sido informado do processo de seleção dos participantes. Com tantos músicos talentosos no Brasil à procura de reconhecimento (mais do que apenas fama) e de uma chance de mostrar seu trabalho, é curioso que os candidatos à fama do programa pareçam tão iguais, com perfis tão padronizados.

Mais uma vez, a fama é o fim de todos os esforços, quando deveria ser o resultado merecido de uma carreira de sucesso, seja na arte da interpretação, na música, na literatura etc. O mundo das celebridades virou um grande balaio, onde estão em destaque ídolos que pouco têm a dizer. No fundo, esquecidos por todos, estão nossos mais talentosos poetas, escritores, músicos de verdade, atores e atrizes de gabarito, pessoas que merecem a fama pelo simples fato de que têm muito a dizer à humanidade. Será que ainda existem interessados em ouvir?

(*) Jornalista