Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Opus Dei chega atrasada e confunde tudo

PEDOFILIA NÃO CAIU DO CÉU ? III

Alberto Dines

Evidentemente frustrado porque este Observatório antecipou o debate, o representante da Universidade de Navarra, espécie de "bispo" da ordem e espécie de media-critic do Estado de S.Paulo entrou no assunto (OESP, 29/4, pág. 2, republicado em O Globo, na mesma data) . De forma suspeita como sempre.

Como não é isento, engajado numa das correntes que estão sob julgamento da opinião pública mundial, o articulista coloca no título "A crise da Igreja norte-americana" e, com isto, tenta desfocar e subverter o debate.

A crise não se circunscreve ao catolicismo americano; esta jogada visa apenas a minimizar o problema, mostrando os EUA ? ateu ou crente ? como um demônio. A crise é do catolicismo em geral, o qual, de Lutero ao padre Vieira, ao longo de pelo menos 600 anos não conseguiu se libertar de opções obscuras e tirânicas que nada têm a ver com os fundamentos e dogmas teológicos. Quando D. Paulo Evaristo Arns, com a coragem que lhe é peculiar ("O celibato não deveria ser obrigatório", O Globo, 28/4, pág. 11), abre as suas poderosas baterias contra o celibato dos sacerdotes que seguem a Cúria Romana, inicia não apenas uma discussão interna mas também sugere à mídia uma pauta que, se for desenvolvida, acabará com um sensacionalismo em grande parte alimentado pelos meios de comunicação dominados pelas seitas evangélicas.

A pedofilia e outros desvios de caráter não são exclusividade americana. O pediatra-pedófilo brasileiro que está preso, aparentemente de origem russa, é a demonstração cabal de que se trata de um problema universal. Se não fez votos religiosos fez outros mais profundos e menos formais ao subscrever os compromissos milenares dos médicos com os seus pacientes.

Mas o articulista do Estadão ultrapassa o Ouvidor da Folha quando abre a questão incluindo o turismo sexual na Tailândia (e por que esqueceu do Nordeste brasileiro?), os "transtornos de afetividade" e para o caráter "marcadamente homossexual" dos casos de pedofilia.

A pedofilia não caiu do céu nem é invenção do Demo. Ela é conseqüência, não é fato isolado. Precisa ser discutida sem preconceitos. Para permitir que a grita contra a hierarquia católica, por acobertar abusos sexuais contra crianças, distancie-se da Inquisição quando perseguia os praticantes de "atos nefandos".

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