Wednesday, 09 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Otavio Frias Filho

ASPAS

HOMOGENEIZAÇÃO & PARTIDARISMO

"Partido da mídia", copyright Folha de S. Paulo, 28/06/01

"Como é que um fato vira notícia? Os manuais das redações prescrevem que, quanto mais pessoas forem afetadas ou se interessarem potencialmente por um fato, mais ?notícia? ele será; quanto mais desconhecido e inesperado ele for, também. O problema, como sempre, está na forma de interpretar essas regras.

Apenas uma fração mínima dos fatos se converte em notícia. O processo de seleção confere uma ampla margem de arbítrio à mídia. Quanto mais desviamos a atenção dos grandes assuntos para a rede capilar de pequenas notícias, maior é esse arbítrio, embora seja menos danosa sua utilização mal-intencionada.

E, apesar da margem discricionária, basta ver os telejornais ou consultar as primeiras páginas para verificar que os temas são na maioria os mesmos, os tratamentos são semelhantes e, às vezes, os próprios títulos são iguais. Isso não decorre de avaliação ?objetiva? dos fatos nem de um complô da mídia.

É resultado das pressões de mercado: o veículo que não se amoldar da melhor forma possível a elas acabará excluído pelo consumidor de informações. Tal implicação não garante que a mídia seja justa, democrática ou imparcial, mas tão-somente que está empenhada em atender as demandas de seu público.

Os veículos são semelhantes porque disputam o mesmo público. O efeito de homogeneizar é reforçado ainda pelo fato de que, na sua maioria, os jornalistas provêm de um mesmo meio, sofreram influências parecidas, conversam boa parte do tempo com outros jornalistas. É o que FHC chama de ?partido da mídia?.

É claro que, num mecanismo do tipo ?o-ovo-ou-a-galinha?, a mídia influencia as expectativas do público e gera, em certos momentos, novas demandas. Outro mecanismo, também já mencionado pelo sociólogo-presidente, sobrevém: a corrida pelo furo, o estouro da manada no mercado da informação.

Em tese, quanto maior a oferta de informação em diferentes veículos e embalagens, maior seria a sua diversidade, mais ampla a escala de opções do público e melhor a circulação de idéias e informações na sociedade. Isso parece verdade, mas apenas até certo ponto de saturação, que é onde estamos.

Pensava-se também que a internet democratizaria não só o acesso mas também a produção de informação, o que se vai revelando outra uma meia verdade. Ainda mais que antes, a tendência em todo o universo da mídia hoje é de homogeneização dos produtos e de concentração empresarial em torno de megacorporações.

A diversidade se torna cada vez mais aparente, até porque desapareceu toda variação quanto a visões de mundo e opções de vida coletiva. Ao converter-se numa máquina, a mídia reduziu, ao menos nos grandes temas, parte do arbítrio que havia nas decisões -ao preço de pôr um rolo compressor em seu lugar. (Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna)"

"A panela e o fogo", copyright Folha de S. Paulo, 27/06/01

"Amigo meu, jornalista tarimbado e conhecido, escritor premiado diversas vezes, fluente em alemão, inglês, italiano e francês, está vivendo um drama de consciência. Recebeu duas propostas profissionais para trabalhar, em dois veículos de comunicação, ambos com público certo e entusiasta.

Mas um deles, segundo consta na praça, deverá ser a boca-de-fogo principal para sustentar a candidatura de um político que deseja retornar à vida pública e tem ambições presidenciais. O outro será financiado por um prefeito, que também deseja posicionar-se como candidato a presidente em 2002.

Tudo bem. Democracia representativa é isso aí, quem pode pode, quem não pode se sacode. Acontece que o meu amigo tem idéias próprias a respeito de jornalismo e de política. Não se sentirá bem ajudando os propósitos, ainda que sadios, dos dois políticos que pretendem lançar-se na próxima sucessão presidencial.

Ele habituou-se a ser jornalista fazendo coberturas internacionais, entrevistou importantes personalidades mundiais, artistas famosos, intelectuais que ganharam o Nobel, enfim, gostaria de voltar ao jornalismo que sabe fazer.

Ficaria constrangido de ser obrigado a colocar azeitona numa empada que não é de seu agrado. Mas precisa pagar o aluguel, a escola dos filhos, o chope que toma, os livros que compra e lê. Sente-se queimando numa panela. Mas, se pular da panela, cairá diretamente no fogo. O que fazer?

Aconselhei-o a procurar outros veículos, que ainda os há no mercado, que trabalham a comunicação sem partidarismo político e sem dependência econômica de grupos.

Houve época em que se abria ou se fortalecia um jornal apenas para lançar determinado político ou defender uma causa suspeita. Esse tempo parecia ter acabado. Mas a sede de poder é tão voraz que parece estar voltando."

"Mídia", copyright Folha de S. Paulo, 1/07/01

"?O assunto abordado por Otavio Frias Filho em sua coluna de 28/6 é extremamente importante: trata-se da massificação da mídia (?Partido da mídia?, Opinião, pág. A2). Nessa pasteurização, vale acrescentar aos motivos citados a falta de jornalismo investigativo de fato (diferente do denuncismo sensacionalista). As reportagens são sempre iguais porque também as fontes são as mesmas: as agências de notícias. Nada mais chato do que fazer um apanhado dos telejornais e observar que as imagens, e muitas vezes os textos, são os mesmos. Duvido que seja esse o produto que o público quer. Se for oferecido bons produtos, haverá público, sem dúvida.? Ricardo Russo, jornalista (Porto Alegre, RS)

SUCESSÃO NA GLOBO

"Carlos Schroder é escolhido novo diretor de jornalismo da Globo", copyright O Globo, 29/06/01

"Carlos Henrique Schroder assumiu ontem a direção da Central Globo de Jornalismo (CGJ), cargo que era ocupado desde julho de 1995 por Evandro Carlos de Andrade, que morreu na última segunda-feira. Schroder ingressou na Globo há 16 anos, como produtor de jornalismo, e exerceu a função de diretor editorial e de planejamento nos últimos seis anos.

Segundo comunicado divulgado pela Rede Globo, assinado por Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, vice-presidentes das Organizações Globo, Schroder teve papel fundamental no fortalecimento do jornalismo da emissora.

A nota diz: ?Schroder tem feito uma carreira marcada pelo talento, pela competência e dedicação, somados à sua capacidade de formar e motivar equipes. Nós reconhecemos nele as qualidades para levar adiante a missão de desenvolver com brilho um jornalismo marcado pela independência, ética e pelo compromisso social que formam a nossa filosofia?.

A nova estrutura da CGJ agora é formada pelos seguintes diretores: Amauri Soares, que iniciou na TV Globo há 14 anos como editor e hoje dirige o jornalismo em São Paulo, sendo o responsável pelo ?Jornal Hoje?, ?Jornal da Globo? e os programas ?Fantástico?, ?Globo Repórter? e ?Globo Rural?; Ali Kamel, diretor executivo do GLOBO, onde está há 12 anos e por seis ocupou o cargo de editor-chefe, terá sob sua responsabilidade o ?Jornal Nacional?, o ?Bom Dia Brasil? e as redações do Rio e de Brasília; Luiz Fernando Lima, que em 1983 começou na TV Globo como repórter especial e hoje dirige a Divisão de Esportes; e Alice-Maria, que iniciou na TV Globo em 1966 como estagiária e atualmente ocupa a supervisão da Globo News e da Globo News.com e a Diretoria Editorial de Entretenimento.

Ficarão sob a responsabilidade de Carlos Schroder 1.500 funcionários da CGJ em cinco praças – Rio, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Recife – além das 113 afiliadas da emissora em todo o país.

O jornalista diz que recebeu anteontem à noite da família Marinho e de Marluce Dias da Silva, diretora-geral da Rede Globo, a missão de dar continuidade ao trabalho de Evandro.

– Dar continuidade, sim, porque é absolutamente impossível substituí-lo: um exemplo de profissional, um amigo, um líder. E é nesse exemplo que gostaria que todos nós nos inspirássemos para levar adiante suas idéias, tão enraizadas em cada um de nós – disse Schroder."

"Globo tem novo diretor de jornalismo", copyright No. (www.no.com.br), 28/06/01

"O jornalista Carlos Schroder é o sucessor de Evandro Carlos de Andrade como novo diretor-geral da Central Globo de Jornalismo, com a responsabilidade sobre 1,5 mil funcionários e vários dos programas de maior audiência da TV Globo. Abaixo dele, ficarão quatro diretores, cada um encarregado de uma área do noticiário:Amaury Soares, atual diretor regional em SP, Alice Maria, Luís Fernando Lima e, como a grande surpresa, Ali Kamel, diretor executivo do Globo.

A indicação vem premiar uma longa espera de Schroder, que desde a gestão de Alberico Souza Cruz, anterior a Evandro Carlos de Andrade, ocupava o segundo escalão do jornalismo da Globo. Há 16 anos na empresa, onde começou como produtor, ele há seis anos era diretro editorial e de planejamento da Central Globo de Jornalismo. Tudo indica que a sua escolha partiu do próprio Evandro. Amigos do antigo diretor contam que ele elogiava freqüentemente o subordinado e dividia com ele cada vez mais responsabilidades. Schroder também conta com a confiança da família Marinho. Roberto Irineu, o filho diretamente envolvido com a emissora, costuma definí-lo como ?um sujeito cordato?.

Apesar de reconhecida competência técnica e administrativa, Schroder não era, no entanto, considerado como um executivo com as articulações políticas necessárias ao posto. Este papel, na nova estrutura, deverá caber a Ali Kamel, que terá sob sua responsabilidade além do Jornal Nacional, carro-chefe da emissora, a Editoria Rio e o programa Bom-dia Brasil e a sucursal de Brasília.

Pelos programas que terá a seu cargo, Amaury Soares será o segundo nome no colegiado. Ficarão sob a sua guarda todo o noticiário produzido em São Paulo (Jornal da Globo e Hoje, especialmente) e campeões de audiência realizados no Rio: o Fantástico e o Globo Repórter, Alice Maria continuará exercendo as funções que já desempenhava, supervisionando a Globo News, a Globonews.com e os programas de entretenimento que usam conteúdo jornalístico, como Video Show e Ana Maria Braga. Luís Fernando Lima manterá o controle sobre toda a cobertura esportiva."

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"O comunicado de Carlos Schroder", copyright No. (www.no.com.br), 28/06/01

"Recebi, ontem à noite, da Família Marinho e da Marluce a missão de dar continuidade ao trabalho do nosso Evandro. Dar continuidade sim porque é absolutamente impossível substituí-lo: um exemplo de profissional, um amigo, um líder. E é nesse exemplo que gostaria que todos nós nos inspirássemos para levar adiante suas idéias, tão enraizadas em cada um de nós. Quero aqui voltar a registrar os deveres do jornalista, que o próprio Evandro enumerou no dia em que assumia a CGJ, em julho de 95:

1 – A exatidão da informação;

2 – A isenção, a imparcialidade e a impessoalidade. Impessoalidade é a atitude que nos distancia de amizades ou inimizades. Isso não nos impede de avaliar o grau de idoneidade, de dignidade, das pessoas com que lidamos – e agir segundo essa avaliação;

3 – A independência face a todo tipo de poder;

4 – A clareza do texto e da imagem;

5 – A agilidade

6 – O espaço equânime para os lados confrontantes de qualquer questão;

7 – A desvinculaçào de partidos e ideologias;

8 – O respeito ao direito alheio

Lembro, por fim, que televisão é trabalho em equipe. E só unidos levaremos adiante as idéias do nosso mestre Evandro Carlos de Andrade.

Carlos Schroder"

    
    
                     

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