Monday, 07 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Paulo Ricardo Moreira

SHOW DO MILHÃO

"Sem pedir ajuda às placas, responda rápido: Qual o programa de perguntas e respostas do SBT que vem perdendo audiência desde o começo deste mês? Essa até o apresentador Silvio Santos sabe dizer. Fenômeno de ibope, o ?Show do milhão? já não é o bicho-papão que assombra a programação da Rede Globo. A média do programa, que vencia a disputa pela audiência até o mês passado com 25 pontos, agora patina nos 18 e não consegue mais bater a Globo às quartas-feiras, quintas e domingos.

Por que a queda de audiência? Até o fechamento desta edição, a direção do SBT não se pronunciou sobre o assunto. Parece ter escolhido uma das opções a que os participantes do programa têm direito quando não sabem a resposta: pular a questão.

Mas há explicações possíveis para as derrotas sucessivas do ?Show do milhão? durante a semana. Uma delas é a exibição de jogos de futebol pela Globo. A estréia do Brasil contra o México na Copa América, dia 12, registrou a maior diferença de ibope entre as duas emissoras: 16 pontos. Deu Globo 33 a 17.

Há três domingos seguidos, o ?Show do milhão? perde para o ?Fantástico?. Estrategicamente, o SBT pôs o programa para entrar no ar logo após o ?Domingo legal?, de Gugu Liberato, para aproveitar a boa audiência do apresentador, que vence a Globo. Só que o tiro saiu pela culatra.

Para o teórico da comunicação Muniz Sodré, professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o ?Show do milhão? não contribui para elevar o nível de informação e cultura dos telespectadores. Ele diz que o programa é um jogo tão fascinante quanto uma loteria:

? O que interessa ali são os prêmios. É um jogo de curiosidades em que o indivíduo lida com o destino. No estado atual de desamparo da sociedade, a pessoa só pode mesmo contar com a sorte.

Pedir ajuda aos universitários? Que nada! Às vezes, eles significam a eliminação do candidato no programa. Segundo Muniz Sodr&eeacute;, o mau desempenho dos estudantes é um reflexo do baixo nível do ensino privado no país. Mas o professor frisa que as questões não medem o conhecimento de ninguém e compara o teste de cultura inútil ao hábito de quem faz palavras cruzadas:

? Esse conhecimento fragmentado e aleatório não significa informação nem cultura.

Até agora ninguém ganhou o prêmio de R$ 1 milhão. Mas os produtos relacionados à marca são um negócio da China. O terceiro CD-Rom já vendeu mais de 500 mil cópias e o jogo cartonado da Estrela, 300 mil unidades, além de cem milhões de balinhas."

VERA LOYOLA, O PROGRAMA

"É um dos novos truques da brasilidade. O sujeito é acusado de alguma ridicularia e, ao invés de lutar contra ela, não, relaxa e assimila. Mais: fatura em assim o ser.

Debocharam de Narcisa Tamborindeguy porque ela não conseguia dar um passo sem esganiçar um Ai, que loucura! O que ela fez? Procurou administrar a língua? Ler interjeições mais ricas? Nada. Escreveu um livro intitulado Ai, que loucura! onde repete Ai, que loucura! à exaustão.

São pessoas sem obras. Só ridículos. E vivem deles. Está na carteira: profissão ridículos diversos. Há quem as contrate. Do outro lado do balcão há sempre alguém que acredita e peça, ei moço, me dá um pouquinho desse ridículo pra mim também.

A nova rica Vera Loyola tinha uma padaria e até aí nada de mais não fosse o nome que colocou no letreiro: Biruta. Era o seu primeiro cartão profissional. No Rio de Janeiro isso ainda era pouco para aparecer. Vera então confirmou o biruta da padaria e mostrou que usava tapete persa no carro. Já ganhou mais espaço nos jornais. Mais adiante deu uma festa para sua, dela, cachorra, e aí foi a glória: capa da Caras. Vera fez um livro onde contou sabe-se lá que desacontecências. Desculpem mas não li. Meus trabalhos forçados no site se resumem, me pagam os tubos para isso, ao que vem do tubo. Mas agora Vera me caiu ao colo. Ela estreou um programa na televisão, às 22 horas de quinta-feira na CNT. Confesso que vi e gostaria que vocês acreditassem no que eu vi. A letra da música de abertura do programa conta em três linhas toda a vida e obra da senhora, reservando outra linha para exaltação de méritos. Assim: ?Sou mais Vera Loyola/ Que vive do dinheiro do seu pão/ Sou mais Vera Loyola/ Tem festa a toda hora/ Até pra cadela de estimação?.

Não sei se foi a seleção, se esse vírus SirCan, se o Siro Darlan. Mas são atravancos demais ao pouso dos discos voadores da redenção. Dar festa de luxo para uma cadela! , ela que mora do lado de Rio das Pedras, a favela, é erisipela, remela. Coisa de janela sem tramela. Doença, falta de visão. A consagração do deboche. Uns cachorros adestrados da PM fazem aquele número de procurar drogas pelo palco. Vera, sabedora de que um vereador foi eleito no Rio porque tinha como plataforma defender gatos e cachorros, não no sentido de rapazes bonitos e ladrões descarados, mas os animais gatos e cachorros, sabedora de que há votos por perto Vera se apiedou dos cães farejadores da PM. E discursou ao seu jeito: ?Ah, mas eles trabalham demais, coitados?. Logo, no entanto, moralizou em cima: ?É isso mesmo. Todo mundo tem que trabalhar.?

Vera Loyola discursando para a plebe ignara de seu auditório que o trabalho honra, na mesma semana em que se levou entre as pernas de Honduras, um novo Lobão assumiu o Senado e o Chico lança um CD de boas letras e música chinfrim, era a gota que faltava. Nem se chover como nos cem dias da chuva de Macondo a energia volta a ! ser o que era. A propósito, a iluminação da CNT é digna de filme do Mojica Marins. O auditório fica às escuras. No palco, há sombras horripilantes no rosto dos artistas. Imaginem que uma das atrações de Vera Loyola quinta-feira passada foi o nosso fofo Rubens Ewald Filho, coitado, anunciado o tempo todo pela emergente como Ewaldo.

Com aquelas bochechinhas, aquele cavanhaque, debaixo da escuridão do CNT, Ewald parecia o Boris, não o Casoy, outro fofo, mas o Boris Karloff dos filmes de terror. Lá em casa todos morremos de medo quando Ewaldo, desiluminado, sem aquela maquiagem que nas noites de Oscar fazem róseas porcelanas suas bochechas, negou-se a estender o tapete para Marta Suplicy. É um quadro do programa. O Raul Gil tem o Você tira o chapéu?, Vera tem o Você estende o tapete? Ewald fez uma cara enfezadinha para a câmera e disse: ?Não, Vera, não estendo o tapete para Marta porque já dividi camarim com ela no tempo da Globo. E ela nunca falou comigo. Não estendo o tapete porque Marta é arrogante.?

Tosco, bizarro demais. Vera ainda disse que gostava muito daquele filme brasileiro O QuaRtilho. De repente, para aumentar a falta de nexo de tudo isso, de repente Vera extrapolou na indignação cívica e começou a discursar de olho nos votos do segmento negro. Falou, não me perguntem de onde tirou o gancho, que não podia haver discriminação racial.

É um dos piores programas da televisão e quem está sem o que fazer pode até morrer de rir com essa nova ridicularia que se oferece do outro lado do balcão. Mas é o que Vera quer. Biruta, festa para cadela, persa no carro e agora um show nas trevas. Vai anexar mais um item ao seu descurrículo. Durante o programa, desfilaram coxudas dançarinas de forró, magricelas varapaus com jóias no pescoço. Tudo isso em cima do tapete persa que domina toda a cena. As cachorras da PM se comportaram e não deixaram marcas nele. Teve um momento em que a coisa quase degringolou. Um cachorro começou a colocar as narinas muito atrás de certa cachorra, mas Vera Loyola, finíssima, foi logo botando ordem no canil: ?Ei, vamos parar com esse cheira-cheira aí?."

    
    
                     

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