Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Época fez analogia indevida entre MST e torcida organizada

José Marcelo Menezes Vigliar (*)

 

A

nova revista das Organizações Globo (Época) fez a seguinte comparação: Torcidas Organizadas e MST (Movimento dos Sem Terra). Deram inúmeras demonstrações na reportagem de que o destino do MST deveria ser o mesmo da “Gaviões da Fiel”: ser processado, para ser extinto.

Participei do grupo de Promotores de Justiça que idealizou a primeira ação que, julgada procedente, extinguiu a Organizadas “Mancha Verde”.

Os motivos jurídicos principais foram os seguintes: desvio de finalidade e risco à segurança pública.

Os fatos: a banalização da vida, que a mídia mostrou. A “paixão do povo”, que vinha sendo ameaçada por grupos realmente criminosos (quadrilhas), que afastavam o povo dos estádios, com medo da violência.

Será que isso acontece com o MST?

Se eu recebesse uma representação com o pedido de extinção do MST, pelos mesmos motivos das Organizadas, com certeza eu diria que não.

O MST exagera e isso ninguém nega.

Contudo, um elemento não está presente: não há, propriamente, um desvio de suas finalidades. Saques, invasões resistidas e outras atividades (por vezes) violentas são “frutos da miséria” (por mais paradoxal que seja a expressão) de quem nada tem; daqueles que se convencionou chamar “excluídos”, mas que são muito bem-vindos ao MST, cuja finalidade é repartir o ocioso chão da nossa terra.

A própria Igreja Católica (D. Paulo o fez expressamente), que a Globo defende para que a Record do Macedo não cresça (lembremos o episódio de Nossa Senhora Aparecida versus Bispo da Universal), apóia os saques de alimentos…

A Veja, recentemente, também noticiou as idéias do MST, mas não com o tom dado pela Época.

A Época associou o MST aos torcedores ingleses que apavoraram a França, neste Mundial de 98.

A mesma edição da Época, aliás, nada mais fez que, em várias oportunidades “bajular” o FHC.

A conclusão é óbvia: MST (quando exagera), FHC (quando se abstém) e a Época, quando compara a atuação das Organizadas (um pseudo-lazer, que se transformou em quadrilha) a um movimento político dos esquecidos e famintos, erraram.

Aliás, a única comparação que se admite é a ausência de esperança dos componentes dos dois grupos: as Organizadas formadas por jovens despreparados, sem-horizontes, sem-escolas que cumpram os seus papéis, sem-formação moral e o MST formado pelos sem-terra, sem-comida, sem-teto, sem-escolas etc.

O mesmo governo defendido pela Época teve algum tempo para devolver a esperança e proporcionar aos integrantes dos dois grupos um mínimo para que pudessem “pensar com as suas próprias cabeças”. Cumpriu o seu papel, ou desviou-se de suas finalidades.

Será que podemos pensar no pedido de extinção de um governo que não faz o que devia?

(*) Promotor de Justiça e professor Universitário