Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ponto-e-vírgula

Jairo Faria Mendes

 

As análises sobre as novas tecnologias deixam a impressão de que estamos participando de um filme de ficção científica. Teóricos como Pierre Lévy insistem em dizer que estamos passando por uma revolução tecnológica que rompe com os paradigmas da chamada cultura de massa ou indústria cultural. E eles realmente têm razão.

No entanto, paralelamente a essa revolução, as novas tecnologias também fazem reaparecer processos comunicativos antigos e, de certa forma, rudes. Apesar de toda a complexidade da Internet, ela lembra os jornais murais que ainda sobrevivem em algumas cidades. São João Del Rei (MG), por exemplo, sempre teve vários jornais murais. Em Barbacena (MG), fez história o tradicional e respeitado Jornal do Poste. Até mesmo a UNE tem aproveitado esta mídia com um jornal mural impresso, que também poderia ser chamado de um jornal-cartaz.

No jornal mural, as informações ficam afixadas em um lugar público à disposição dos pedestres ou – uma horrível palavra – “transeuntes”. Estes, logicamente, não podem manusear o jornal, por isso simplesmente passam os olhos pelas matérias. As informações precisam ser de fácil leitura e despertar interesse no leitor. Coisas como os resultados dos jogos de ontem, acontecimentos políticos polêmicos, notícias exóticas e informações de utilidade pública (das farmácias de plantão até classificados de imóveis). Quanto às notícias, é importante que tratem de algo desconhecido pelo “transeunte”.

Guardadas as devidas proporções, na Internet as coisas não são muito diferentes. A rede se assemelha muito a um grande mural eletrônico. Texto e imagem ficam afixados virtualmente, esperando que alguém se interesse por eles. Ao público basta a opção de passar os olhos, só que nesse caso o texto também passa, some, volta a aparecer.

O fato de que os textos são estáticos, e não dão a possibilidade de serem tocados como nos jornais e revistas, cria uma situação de comunicação que não desperta muito entusiasmo no leitor. É como a informação que se lê porque é colocada à frente do olhos – como cartazes, outdoors… Que é lida porque passa a fazer parte do espaço público.

Na Internet, assim como nos jornais murais, as informações precisam trazer novidades e ter leitura fácil. Por isso, a ênfase nos links “últimas notícias”. Mas, bem diferentemente dos jornais murais, a Internet é um grande banco de dados.

A Internet também tem recursos tecnológicos que podem fazer dela algo mais do que este grande mural virtual. Pode utilizar mais o som, a imagem em movimento, os chats, os games etc. A tendência é que cada vez mais ela se pareça com um parque de diversões doméstico. E que cheguemos à alienante situação em que ficaremos “divertindo-nos até a morte”, de acordo com as palavras do crítico da mídia Neil Postman.

 

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